Divulgado pelo jornal Valor, um estudo realizado recentemente pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) mostra como as altas taxas de juros praticadas no Brasil, no rastro da política monetária imposta pelo Banco Central, conspiram contra o desenvolvimento nacional, deprimindo investimentos e consumo.
A federação comparou as taxas vigentes por aqui (taxa básica de juros, Selic, acrescida de spread) com as praticadas em quatro outros países considerados emergentes ou em desenvolvimento (África do Sul, Chile, Indonésia e México).
Pesquisa e desenvolvimento
Para pequenas e médias empresas analisadas pela Fiesp, o custo do financiamento do capital de giro somou R$ 24,4 bilhões, sendo R$ 9,5 bilhões de capital próprio e R$ 14,9 bilhões de terceiros. Para elas, a taxa média foi de 22,62%, também com 12,63% da Selic nominal, mais 10% de spread.
A entidade empresarial comparou o custo do capital com recursos próprios da indústria brasileira, representado pela Selic nominal média de 12,63%, à taxa de juros média de países emergentes mencionados, de 9,14% ao ano, sendo 6,32% de juros da política monetária e 2,83% de spread.
Com as taxas de juros desses países selecionados, o custo de financiamento do capital de giro da indústria brasileira de R$ 71,5 bilhões em 2022 cairia para R$ 37,6 bilhões. Esses R$ 33,9 bilhões de diferença correspondem quase à totalidade (98%) dos gastos com atividades internas de pesquisa e desenvolvimento, observa a Fiesp.
Ou seja, se uma parte expressiva das receitas empresariais líquidas não fluísse para o bolso dos rentistas, com o pagamento dos juros, a economia brasileira teria potencialmente o dobro de recursos destinados ao financiamento de atividades relacionadas a pesquisa e desenvolvimento.
Antonio Carlos Teixeira Álvares, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp, responsável pelo levantamento, observa que os países selecionados também têm taxas de juros altas e, ainda assim, a do Brasil era maior. O levantamento mostra, segundo ele, como os juros reais elevados no país retiram recursos das empresas e reduzem a capacidade de investimentos produtivos.
Consumo
Outro problema igualmente nocivo ao desenvolvimento nacional provocado pela política monetária capitaneada pelo senhor Roberto Campos Neto, presidente do BC, relaciona-se ao consumo das famílias.
O levantamento da Fiesp mostra que os juros nas parcelas das concessões de crédito à pessoa física, com recursos livres, somaram R$ 46,7 bilhões em 2022. A taxa era de 52,2% ao ano, sendo 12,6% da Selic média e 39,6% de spread, com prazo médio de 61 meses.
Nos mesmos países selecionados, o juro médio era de 15,1%, com 6,3% da política monetária e apenas 8,8% de spread. Sob essas condições, os juros pagos pelas famílias nas parcelas das concessões no ano passado seria de R$ 15,6 bilhões.
Se essa diferença de R$ 31,1 bilhões permanecesse no orçamento das famílias e fosse revertida em consumo de bens e serviços, Teixeira estima que só a produção da indústria de transformação poderia aumentar em R$ 31,6 bilhões, possibilitando a criação de 123,5 mil postos de trabalho.
O estudo da Fiesp evidencia a necessidade de intensificar a luta pela redução substancial das taxas de juros e do spread no Brasil de forma a destravar o caminho para um robusto e sustentável desenvolvimento nacional. Reverter a transferência de renda dos trabalhadores e das empresas produtivas para o sistema financeira é uma necessidade econômica, política e social que cobra urgência.