Apesar do plano sobre o assassinato ser conhecido desde 30 de agosto, a investigação não avançou um milímetro, fazendo com que ativistas fossem ao Ministério Público exigir rapidez e atenção ao processo, que vem sendo obstaculizado pelo governo
Por Leonardo Wexell Severo
A candidata à Presidência do Equador pelo movimento Revolução Cidadã (RC), Luisa González, apresentou oficialmente nesta segunda-feira (18) uma denúncia ao Ministério Público em que cobra agilidade na investigação do plano para atentar contra a sua vida.
Ao lado de Andrés Arauz, seu candidato à vice, de vários parlamentares eleitos, e diante de simpatizantes reunidos frente à sede da instituição, Luisa alertou que embora os fatos sejam conhecidos desde 30 de agosto, precisou ingressar com a denúncia por sentir que o processo não avança. A candidata acusa o governo do presidente Guillermo Lasso e a administração penitenciária de colocarem “obstáculos”, dificultando que os suspeitos sejam ouvidos.
Mochila com granadas
É sabido por todos que o autor do ataque, de sobrenome Mancilla, carregava uma mochila com granadas para um comício político onde atentaria contra a vida da candidata apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017). “Quando os dois policiais me encontraram, eu lhes disse que as três granadas eram para o ataque à senhorita Luísa”, revelou Mancilla, frisando que graças ao seu alerta a Polícia pôde identificar e deter outro sujeito com uma metralhadora e várias munições com a mesma finalidade.
“Eles ameaçaram minha esposa e minha filha com uma arma de fogo para me dizer que, se eu não cooperasse com a mochila e a deixasse onde tinha que deixá-la, eles iriam matar minha filha e minha esposa”, confessou Mancilla.
Luisa ressaltou que começou a se proteger mais a partir dos crescentes riscos. “Normalmente não uso colete à prova de balas. E conversamos com minha equipe. Eles disseram: você tem que colocar o colete à prova de balas. Eu falei para eles, mas se for uma bomba, vou voar com colete e tudo”, explicou a candidata no início do mês.
Luisa explicou as razões de ter começado a utilizar colete à prova de balas e exigiu o fim da impunidade, mal que afeta a todos os equatorianos.
O plano, somado ao assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio em 9 de agosto com três tiros na cabeça, fez soar o alerta do RC, fazendo com que Luisa González passasse a usar colete à prova de balas e aceitasse o apoio das Forças Armadas.
Um país mergulhado na impunidade
“Apresentei uma denúncia que representa não só a necessidade de me salvaguardar, de esclarecer este processo e encontrar os responsáveis por um possível atentado à minha vida, mas também de todos os equatorianos, porque esta é a impunidade com que vivemos. Os processos não se esclarecem nem avançam”, protestou Luisa.
De acordo com a candidata correísta, é esta impunidade que deixa o país mergulhado numa sensação de insegurança, diante do auge da violência do crime organizado nos últimos cinco anos. A taxa de assassinatos aumentou de 5,8 para 25,32 para cada 100 mil habitantes em 2022, a mais alta da história.
“Eles libertam criminosos que podem fazer o que quiserem com as nossas vidas, porque as nossas vidas seguem em risco. Que o Ministério Público e o Serviço Nacional de Atenção Integral às Pessoas Privadas de Liberdade (SNAI) trabalhem com a celeridade que o caso requer para avançar em direção a um país seguro”, acrescentou.
Ao longo da campanha, o coordenador do Revolução Cidadã e prefeito de La Libertad, Francisco Tamariz, foi vítima de um atentado pela Polícia Nacional do Equador na noite de 18 de agosto, aumentando o clima de terrorismo de Estado às vésperas do primeiro turno. “Tentaram me matar. Se o carro não fosse blindado, irmão equatoriano, eu não estaria aqui. Seria impossível eu estar falando com você com 30 tiros dirigidos à caminhonete onde estava”, esclareceu.
Com 33,61% dos votos, a candidata venceu a eleição presidencial em 20 de agosto, mas embora tenha aberto mais de 10% de votos de vantagem sobre Daniel Noboa, filho do magnata Álvaro, que obteve 23,47% dos votos, não conseguiu fazer os 40% necessários, obrigando o segundo turno no próximo 15 de outubro.
Apesar das cobranças dos manifestantes, o Ministério Público ainda não se pronunciou sobre as denúncias do seu comportamento.