Dieese analisa crescimento do PIB no segundo trimestre

O Dieese dedica seu último Boletim de Conjuntura, divulgado nesta terça-feira (19) à análise do comportamento do PIB no segundo semestre deste ano. Confira abaixo alguns trechos do boletim:

O Produto Interno Bruto (PIB) surpreendeu boa parte dos analistas e cresceu 0,9% no segundo trimestre de 2023, na comparação com o primeiro trimestre deste ano, na série com ajuste sazonal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Frente ao segundo trimestre do ano passado, o crescimento do PIB de abril a junho de 2023 foi de 3,4%.

No acumulado do 1º semestre, a alta chegou a 3,7%, em relação ao mesmo período de 2022. Esse patamar já permite que a economia brasileira acumule alta de 3% do PIB em 2023, mesmo que não haja qualquer crescimento nos próximos dois trimestres. Em valores correntes (sem atualização pela inflação), o PIB no segundo trimestre de 2023 totalizou R$ 2,651 trilhões.

Investimento e poupança

No mesmo período, a taxa de investimento, que é a principal força motriz do crescimento econômico, foi de 17,2% do PIB, nível abaixo da taxa observada no segundo trimestre de 2022 (18,3%). A taxa de poupança caiu de 18,4%, no segundo trimestre de 2022, para 16,9%, em 2023.

O maior crescimento no segundo trimestre de 2023 em relação ao primeiro foi da Indústria (0,9%), seguida pelos Serviços (0,6%). A Agropecuária, que havia crescido 21% no primeiro trimestre, recuou 0,9% no segundo, resultado que não surpreende, devido à alta base de comparação. Mesmo assim, na comparação com o segundo trimestre de 2022, o setor agropecuário cresceu 17%.

No acumulado de janeiro a junho de 2023, o setor registrou alta de 20% em relação ao semestre anterior e de 17,9% na comparação com o primeiro semestre de 2022. Com base no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), embora o resultado da Agropecuária no segundo trimestre tenha sido negativo (-0,9%), houve crescimento das produções de soja (24,5%); milho (13,7%); algodão (10,2%); e café (5,3%), todas com peso relevante no período.

Indústria

Já o crescimento da Indústria está relacionado aos desempenhos positivos de 1,8% nas Indústrias Extrativas; 0,7% na Construção; 0,4% na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos; e apenas 0,3% na Indústria de Transformação, ramo da indústria em geral caracterizado por maior agregação de valor nas mercadorias que produz.

No setor de Serviços, os resultados positivos foram verificados nas Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3%); em Outras atividades de serviços (1,3%); Transporte, armazenagem e correio (0,9%); Informação e comunicação (0,7%); Atividades imobiliárias (0,5%); Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%); e Comércio (0,1%).

Mercado de trabalho

Os indicadores do mercado de trabalho apontam para razoável recuperação, com redução da taxa de desocupação, aumento da ocupação e da renda. A taxa de desocupação (ou de desemprego) ficou em 7,9% no trimestre maio, junho e julho, contra 9,1% no mesmo período do ano passado.

O número de pessoas desocupadas diminuiu 14%, nessa comparação interanual, saindo de 9,9 milhões para 8,5 milhões. Já o número de ocupados cresceu 0,7%, cerca de 670 mil pessoas. Este último resultado, ainda positivo, indicou uma certa desaceleração da retomada dos níveis de ocupação, em relação aos trimestres anteriores, sugerindo que a recuperação pós-pandemia pode já estar consolidada e que as variações no nível da ocupação podem estar concentradas em alguns setores.

Destaca-se, na ocupação, o aumento do emprego com carteira assinada no setor privado, de 3,4%, também na comparação interanual, equivalente a cerca de 1,2 milhão de pessoas. A taxa de informalidade, por outro lado, diminuiu de 39,8% para 39,1% no período. O rendimento médio dos ocupados cresceu 5,1%, em função da redução da inflação e do aumento do salário mínimo neste ano, que acaba servindo de parâmetro para outros salários na economia brasileira.

Além disso, as negociações coletivas neste ano resultaram em ganhos reais para a maior parte dos trabalhadores.

O ICT-DIEESE (Índice da Condição do Trabalho), que sintetiza esses e outros indicadores, também mostra certa recuperação, tendo aumentado de 0,44 para 0,57, entre os segundos trimestres de 2022 e 20231. Vale observar que esse índice não estabelece a condição ideal do trabalho, apenas indica que quanto mais próximo o valor estiver de 1, melhor a situação geral do mercado de trabalho e, quanto mais próximo de zero, pior será a situação geral.

A recuperação do ICT-DIEESE pós-pandemia da Covid-19 se deu, fundamentalmente, pela redução da taxa de desocupação e, de forma menos acentuada, por uma discreta melhora na inserção ocupacional. Isso ocorreu devido ao aumento do emprego com carteira assinada e da melhoria da cobertura previdenciária.

Além da melhora no rendimento médio dos ocupados, como visto anteriormente, houve melhora também na distribuição da renda do trabalho. Apesar disso, a baixa qualidade da inserção ocupacional tem sido um fator que dificulta a melhora mais efetiva do mercado de trabalho.

Desemprego ainda alto

Os resultados positivos, além da recuperação espontânea das atividades econômicas após a recessão e a pandemia, refletem iniciativas do governo Lula contra a alta dos preços e em prol da classe trabalhadora que fortaleceram o mercado interno e aumentaram o consumo das famílias. Os governos Temer e Bolsonaro deixaram o PIB brasileiro destroçado e o governo Lula parece empenhado em reconstruí-lo.

A continuidade da redução do desemprego, do aumento do emprego com carteira assinada e da renda do trabalho são elementos primordiais para a recuperação plena do mercado de trabalho.

Mas, é preciso também notar que a situação econômica, e social, não é nada confortável. Ao lado do baixo desempenho da taxa de investimentos, o número de desempregados no país ainda é alto e a taxa composta de subutilização da força de trabalho, que na verdade constitui um conceito mais amplo de desemprego ou ociosidade involuntária da força de trabalho, foi de 17,8% no segundo trimestre. Ademais, o rendimento médio real mensal habitual foi de R$ 2.921, que, embora 6,2% superior em relação ao mesmo trimestre de 2022 (R$ 2.750), ainda se situa em patamar muito aquém das necessidades dos trabalhadores.

Acesse aqui a íntegra do Boletim de Conjuntura