Por Altamiro Borges
O silêncio acovardado do casal Bolsonaro no depoimento à Polícia Federal na quinta-feira (31) desalentou as milícias digitais bolsonaristas. Elas pouco se manifestaram nas redes sociais, perdendo novamente terreno para os internautas que rejeitam o ex-presidente fujão e “cagão” e defendem ardorosamente a sua prisão. O baque desta semana confirma a tendência de queda de popularidade digital de Jair Bolsonaro apontada em pesquisa da consultoria Quaest divulgada na semana retrasada.
Segundo a sondagem, desde sua saída da Presidência da República, a relevância do fascista nas redes só tem despencado. Nos últimos dias, com as operações da Polícia Federal para apurar o escândalo da roubalheira das joias e com o avanço das investigações sobre os atos golpistas, o cenário só piorou. No Índice de Popularidade Digital (IPD), medido diariamente pela consultoria, Jair Bolsonaro teve as pontuações mais baixas do ano.
Roubo das joias, hacker e outros rolos
O IPD da Quaest é calculado por um algoritmo que coleta e processa 152 variáveis das plataformas Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipédia e Google. Os resultados variam de 0 a 100 pontos. No final de maio, o “capetão” alcançou 42,41 pontos, ante 43,55 do presidente Lula. No final de junho, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou sua inelegibilidade, ele marcou 43,34 pontos. Mas apesar dos holofotes da mídia, o “inelegível” perdeu feio para o atual ocupante do Palácio de Planalto, que obteve 53,93 pontos.
Conforme registra a Folha, “é a partir de 11 de agosto que a situação de Bolsonaro começa a se complicar em termos de visibilidade nos espaços digitais. Com a operação da PF, que deflagrou nova fase de investigações sobre o suposto esquema de desvio de joias, caiu de 35,61 para 23,85 pontos no dia seguinte. A sequência de informações sobre a ação, batizada de Lucas 12:2 e que apontou as digitais do ex-presidente na suspeita de desvio de bens públicos para enriquecimento pessoal, acelerou, inclusive, as discussões sobre a sua prisão”.
Com as operações de busca e apreensão da Polícia Federal contra o advogado Frederick Wassef e o general Lourena Cid – pai do ex-faz-tudo Mauro Cid, preso desde maio – e a ida do hacker Walter Delgatti à CPMI dos Atos Golpistas, o esgoto digital bolsonarista afundou de vez em sua reação. Durante toda a semana retrasada, a popularidade digital de Jair Bolsonaro oscilou entre 23 e 25 pontos, o menor patamar desde maio.
Ainda há espaço para reação do bolsonarismo
“Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, a disputa política nos ambientes virtuais vive um novo capítulo, com os bolsonaristas mais recolhidos, e os petistas buscando outras formas de melhorar seu desempenho nas redes. Ele ressalta a dificuldade que os apoiadores do atual presidente possuem em transformar em aprimoramentos na visibilidade digital do atual governo os revezes do ex-presidente. ‘O curioso é que a queda de Jair Bolsonaro ainda não se transformou em vitória de Lula. É como se um espaço estivesse sendo deixado em aberto’”.
Apesar da queda da popularidade digital do fascista, o pesquisador alerta que as milícias digitais bolsonaristas ainda têm espaço para algum tipo de reação. “O IPD mostra ainda que Bolsonaro não foi derrotado totalmente com os últimos escândalos. A disputa em torno da inelegibilidade levou o ex-presidente para um patamar mais baixo do que o atual. Ou seja, há reação bolsonarista nas redes”, analisou em entrevista à Folha.
Charge: Jansen