Relato do tenente coronel envolve generais Heleno e Braga Neto
Preso em Brasília, o ajudante de ordens e braço direito do ex-presidente Jair Bolsonaro deu um longo depoimento à Polícia Federal na terça-feira (13). Diferentemente das ocasiões anteriores, em que manteve um olímpico silêncio, desta vez ele resolveu abrir o bico. Falou e respondeu às perguntas dos policiais durante 10 horas.
Segundo a jornalista Andréia Sadi, em seu blog, o militar “deve apresentar à Polícia Federal detalhes sobre reuniões e conversas para efetivar um golpe de Estado que visava manter o ex-presidente no poder após a derrota nas eleiçõ”. Citando fontes que teriam acesso às investigações, ela informa que Cid está detalhando sua participação não apenas no escândalo das sauditas, mas também em outros temas, com destaque para o roteiro do golpe, no qual deve envolver militares de altas patentes, além do ex-presidente.
“Agora, à PF, ele deve detalhar quem são os militares e outros ex-ministros e funcionários do governo Bolsonaro que participaram das tratativas que se deram, entre outras localidades, no Palácio da Alvorada em dezembro passado. Nomes de militares —como Augusto Heleno (ex-ministro do GSI) e Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa)— são citados por fontes ouvidas pelo blog como alvos de Cid nos bastidores”, diz a jornalista.
Cid pode relatar o envolvimento em reuniões com Heleno, Braga Netto e novos personagens do núcleo militar, disse ao blog uma fonte que acompanha as tratativas de Cid com o Judiciário. Os depoimentos de Cid, nas palavras dessa autoridade, são “amplos, diversificados e ruins para Bolsonaro”.
De acordo com a jornalista do g1 não seria só Cid “quem está colaborando com investigadores sobre o roteiro do golpe. Integrantes do núcleo da polícia rodoviária federal também têm informações que interessam aos investigadores sobre como se deu o roteiro do golpe. Em junho deste ano, um relatório da Polícia Federal (PF) divulgado pela revista ´Veja´ e obtido pelo blog revelou a existência de um documento que tinha instruções para um golpe de Estado ´dentro das quatro linhas [da Constituição]´ no celular de Cid”.
O documento estava salvo com o título “Forças Armadas como poder moderador” e indicava uma série de ações cujo objetivo era desconstituir as instituições democráticas. O relatório da PF mostra ainda que o documento foi criado apenas cinco dias antes do segundo turno das eleições. Não há, porém, indicação de que o texto tenha sido encaminhado a Bolsonaro.
Sadi diz que entre as ações planejadas para o pós-golpe, segundo o documento, estavam previstas a nomeação de um interventor, o afastamento e a abertura de inquéritos contra ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e outras autoridades, e a fixação de um prazo para novas eleições. O documento apontava que as medidas poderiam ser tomadas após autorização do presidente da República.
A minuta indicava, ainda, sem provas, que ministros do TSE eram responsáveis por “atos com violação da prerrogativa de outros poderes”. Por isso, sem citar nomes, determinava que eles deveriam ser trocados pelos próximos da fila de substituição no Supremo Tribunal Federal (STF), dentre os quais estavam dois indicados por Bolsonaro ao STF: Kassio Nunes Marques e André Mendonça.
Nos bastidores, dois motivos foram gatilho para que Cid mudasse a estratégia e adotasse uma confissão parcial: 1) Bolsonaro dizer que Cid tinha autonomia, ou seja, jogar o ex-ajudante aos leões; 2) o Exército abandonar Cid ao descobrir a gravidade das revelações da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), além do envolvimento do pai de Cid.
A jornalista ainda cita a opinião de uma autoridade judiciária de que “o Exército quer que Cid resolva a situação e descole a imagem da corporação desse desgaste todo. E Cid só consegue fazer isso se assumir seus atos como individuais e apontar os demais – isolando e blindando a instituição”.
A novidade explodiu nesta quarta-feira como uma bomba sobre o Clã Bolsonaro. Está fechado o cerco sobre o chefe do fascismo brasileiro, o Minto que desde sempre esteve à frente da empreitada golpista que teve seu ponto alto, ao mesmo tempo trágico e bizarro, no 8 de janeiro. O caminho da Papuda parece inevitável.