No último domingo, 20 de agosto, o ferroviário Guilherme Tavares completou 100 anos. Ele nasceu em 1923 numa cidade emblemática do Espírito Santo, Cachoeiro de Itapemirim, um ano após a fundação do Partido Comunista do Brasil.
O operário capixaba foi um dos comunistas que subscreveram a famosa Carta dos 100, documento que levou à reorganização do Partido Comunista e formação do PCdoB, partido ao qual sempre foi fiel. Preso diversas vezes durante o regime militar e dono de uma invejável e exemplar história de luta, é considerado a principal referência comunista no Espírito Santo.
Única voz no Espírito Santo, e uma das cem no Brasil, a se levantar contra as concessões que os “revisionistas” fizeram à burguesia em 1962, o velho comunista relembra até hoje com orgulho a sua aproximação com o PCdoB, o movimento operário na Ferrovia Leopoldina Railway e as prisões na Ditadura Militar.
Em 1985 foi editado um documento jornalístico pelo jornalista capixaba Luzimar Nogueira Dias. Nele, foi traçado um perfil de Guilherme Tavares que, já em 1934, participava de greves, não como trabalhador, mas entregando mensagens. “Com 15 anos entrei para trabalhar na Estrada de Ferro Leopoldina Railway Ltda. Já ouvia falar de direitos sociais e algumas conquistas dos trabalhadores. A Leopoldina era uma empresa inglesa e os funcionários lutavam contra isso, ou seja, pela encampação. Essa foi a primeira luta que eu participei, que era na verdade uma luta nacionalista”.
Por ser ligado ao Partido Comunista do Brasil (que à época adotava a sigla PCB) acabou sendo denunciado dentro da própria empresa porque lia os jornais “Classe Operária”, “Imprensa Popular”, “Novos Rumos” e “Folha Capixaba”, que era editado em Vitória, capital do ES. Depois de 1961 acabou tendo que se afastar do PCB porque não concordava com a orientação que recebia. “Nesse processo “revisionista” foram 100 camaradas que se afastaram para reorganizarmos o partido com a nova sigla PCdoB. E eu orgulhosamente fui um desses”.
Logo a seguir, em 1964, veio a Ditadura Militar. Ele conta que foi preso trabalhando. Respondeu a dois inquéritos, administrativo e militar. Guilherme lembra que foi preso outras vezes na década de 60. “A denúncia era de que eu distribuía um jornal considerado altamente subversivo, que pregava a luta armada”. Eram os tempos da famosa Guerrilha do Araguaia. Levado para o 3º Batalhão de Caçadores, em Vila Velha, respondeu a inquérito policial durante 45 dias, sem direito a lavar o rosto, tomar banho, escovar os dentes e sem visitas.
“Me prenderam três vezes, enquadrado na Lei de Segurança Nacional”. Ele conta que foi julgado na 1ª Auditoria da Marinha, e acabou sendo absolvido por cinco a zero, com quatro juízes militares e um civil. “Os advogados à época foram Demisthóclides Baptista (o líder sindical Batistinha) e Arídio Xavier. Nunca mais me incomodaram, mas as marcas da perseguição ficaram para sempre”.
Assista abaixo um vídeo com uma breve biografia deste revolucionário comunista centenário, em que ele lembra uma histórica refrega com o movimento integralista (fascista)