A linha que o novo advogado do tenente coronel Mauro Cid, Cezar Bitencourt, pretende adotar para defender seu cliente, que hoje está preso em Brasília, aponta claramente para a culpa do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Cid foi o ajudante de ordens de Bolsonaro encarregado pelo chefe, entre outras coisas, de vender as joias recebidas da Arábia Saudita e outros países para o enriquecimento ilícito do líder da extrema direita brasileira.
Cid só cumpria ordens
Bitencourt já não contesta as acusações que pesam sobre o militar, pois são fartas as provas colhidas pela Polícia Federal sobre esta escandalosa e bizarra novela. A linha que pretende adotar para defender seu cliente aponta claramente para a responsabilização de Jair Bolsonaro.
Mauro Cid era apenas um assessor e não fez mais do que cumprir uma ordem proveniente do patrão, que o advogado evitou mencionar, mas o prisioneiro, com quem foi encontrado também um detalhado plano golpista, era o faz-tudo de Bolsonaro.
Vejam o que o advogado disse em entrevista ao GloboNews sobre Cid:
“Na verdade, ele é um militar, mas ele é um assessor. Assessor cumpre ordens do chefe. Assessor militar com muito mais razão. O civil pode até se desviar, mas o militar tem por formação essa obediência hierárquica. Então, alguém mandou, alguém determinou. Ele é só o assessor. Assessor faz o quê? Assessora, cumpre ordens.”
A apuração dos fatos pela Polícia Federal indica que as joias foram vendidas para o enriquecimento ilícito do ex-presidente e que seu ajudante de ordens promoveu uma insólita operação militar para leiloar e vender as preciosidades.
Envolveu até o pai na trapalhada. Há sinais de que o general de pijamas Mauro César Lourena Cid também deu uma de mercador das valiosas joias para beneficiar Bolsonaro. O general andava ansioso com a prisão do filho e agora corre o risco de lhe fazer companhia no xadrez.
Muamba transportada no avião presidencial
Há outro detalhe indecoroso. A valiosa muamba foi transportada, dentro de uma mala, no avião presidencial em que Bolsonaro escafedeu-se para os EUA em 30 de dezembro, uma sexta-feira, dois dias antes da posse de Lula.
Tudo isto já foi apurado. Os protagonistas da tramoia apostaram num golpe de Estado para escapar da Justiça e o plano que vazou sinalizava uma intervenção no TSE e até a prisão de ministros do STF como Alexandre de Moraes.
Uma vez frustrada a empreitada golpista de 8 de janeiro e diante da determinação do TCU de que as joias e objetos apropriados de forma indébita pelo Clã Bolsonaro eram patrimônio público e deviam ser entregues à Caixa Econômica Federal (CEF), o cumpridor (ou ajudante) de ordens dá curso à infeliz aventura da recompra das joias, esquecendo no celular os rastros deste e outros crimes investigados pela PF.
Advogado confessa recompra
Na terça-feira (15), o advogado Frederick Wassef, o amigo íntimo e operador da família que escondeu o miliciano Queiroz numa casa em Atibaia (SP), colocou mais lenha na fogueira do escândalo ao reconhecer que viajou aos Estados Unidos em março deste ano e comprou um relógio de pulso da marca Rolex, alegando que foi orientado pelo generoso propósito de “devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República”.
Ele ainda apresentou recibo do relógio em questão, aparentemente o mesmo que foi vendido pelo general Cid, e tentou ser irônico afirmando que o governo federal está lhe devendo “R$ 300 mil”, valor que teria desembolsado na operação de resgate.
Qualquer que tenha sido a real intenção de Wassef, que antes vinha negando participação no obscuro caso das joias, o fato é que sua confissão contribui para complicar a situação de Jair Bolsonaro e aproximá-lo do que a cada dia mais parece ser o seu inevitável destino: a Papuda.