O secretário de Educação do estado de São Paulo Renato Feder e o governador Tarcísio de Freitas escancaram a vontade de acabar com a educação pública do estado. O secretário recusou os livros didáticos distribuído há décadas pelo governo federal e implanta plataformas digitais no lugar e pretende colocar slides de power point dirigidos para doutrinar os alunos e acabar com a liberdade de ensinar e aprender.
Inclusive o Ministério Público Estadual de São Paulo entrou com inquérito para a apurar a dispensa dos livros didáticos distribuídos para todas as escolas do país pelo Ministério da Educação. Muito importante descobrir as obscuras razões de Feder para recusar o Programa Nacional do Livro Didático em São Paulo.
Com o argumento e modernizar, essas plataformas do Feder representam um enorme retrocesso em vários aspectos. A começar pela falta de estrutura das escolas estaduais. E com isso, as professoras e professores têm que trabalhar com equipamento próprio, porque a Seduc não fornece computadores aos profissionais e menos ainda aos estudantes, a exemplo do que ocorreu durante a pandemia.
Muitas crianças serão prejudicadas no seu aprendizado por não terem acesso à internet e nem computadores em suas casas. O que já é muito grave. Além disso, as plataformas digitais são totalmente dirigidas ferindo amplamente a democracia no processo de ensino-aprendizagem. Com isso, impedindo as professoras e professores de ensinar e os estudantes de aprender, tornando-os mão de obra barata para o mercado de trabalho.
O empresário Feder tenta adequar a escola pública à política de metas e resultados empresariais. Por isso, a secretaria reforça a pressão e o monitoramento dos profissionais com uma sobrecarga desumana de trabalho o que pode aprofundar o quadro de adoecimento psicológico, emocional e físico dos profissionais na educação, como aconteceu em sua gestão no Paraná como revela pesquisa da APP-Sindicato dos(as) professores(as) e funcionários(as) de escola do Paraná e o Instituto Pesquisas de Opinião (IPO).
Sendo que 91,3%, disseram terem ficado sobrecarregados com as plataformas e a intensa cobrança de metas extorsivas. Enquanto 74,3% reconheceram impactos negativos do modelo na sua saúde física e mental e 78,3% afirmaram saber de colegas que adoeceram em decorrência das dificuldades impostas pelas novas tecnologias.
Como se vê, o modelo que começa a ser implantado em São Paulo não beneficia ninguém, a não ser as empresas de plataformas digitais. Adoece ainda mais as professoras e professores, tira dos estudantes a oportunidade de aprender, controla o conteúdo aplicado, limitando o aprendizado a uma única forma de encarar a vida e impede o pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Tanto que a reportagem “Material didático do governo de SP é raso e pouco confiável, dizem autores de livros didáticos”, de Laura Mattos na Folha de S.Paulo, nesta sexta-feira (4), aponta que a Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos (Abrale) analisou as plataformas digitais do governo paulista e confirmou a falta de qualidade dessas plataformas.
“O material traz atividades que não apresentam rigor conceitual e editorial, além de ignorarem exigências da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que determina as diretrizes da educação no país e aponta os aprendizados a serem desenvolvidos em cada nível escolar”, dizem os escritores.
Para piorar, aliado à utilização obsessiva das plataformas digitais, a vigilância descabida sobre o trabalho dos profissionais da educação e a pressão por metas e resultados extorsivos leva as professoras e professores ao desespero, além de castrar a possibilidade de um aprendizado que envolva todas as nuances da vida.
De acordo com a APP-Sindicato, “o uso obrigatório, intensivo e indistinto das plataformas educacionais sem a adequada discussão e reflexão tem levado professores(as), pedagogos(as) e o conjunto da comunidade escolar a um vazio pedagógico”.
Em vez disso, lutamos por instrumentos de apoio e mediação do ensino-aprendizagem, com a utilização das ferramentas digitais como apoio pedagógico e não o centro do processo. A gestão democrática com espaço para todos os envolvidos no processo educacional se colocarem com total liberdade e um ensino que abranja toda a diversidade humana continua a ser a nossa luta.
As professoras e professores da rede oficial de ensino do estado de São Paulo se insurgem contra mais a imposição de um sistema que desconhece toda a realidade do estado e exclui grande parcela de crianças e jovens do processo de ensino-aprendizagem como ocorreu no período pandêmico e até hoje não houve correção para suprir a demanda dos que ficaram sem aprender o que precisavam aprender.
Porque as plataformas digitais aprofundam o processo de pressão por metas incabíveis e seleciona ao bel prazer do secretário e do governador o que as crianças e jovens podem aprender, limitando-os ao pensamento único, ou melhor, pensamento nenhum.
Além disso, a maioria das escolas, principalmente nas periferias, é totalmente carente de estrutura básica para o ensino, imagine o acesso à internet com qualidade? Além de muitas salas de aulas terem a infraestrutura elétrica comprometida, superlotação de turmas e porte escolar inadequado agravam o problema.
Seguiremos lutando pela autonomia das professoras e professores, da equipe pedagógica e dos estudantes na produção do ensino-aprendizagem. Contra a mercantilização da educação pública. Porque educação pública é vital para a maioria da população e a tecnologia não pode ser um entrave ao bom andamento do processo de ensino-aprendizagem e sim um aporte que possibilite a dinamização do processo, sempre com a supervisão dos profissionais da educação, inclusive para o processe de aprendizagem não ser deturpado.
Tarcísio e Feder querem tomar o lugar de maior inimigo público da educação do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliás, o governador do estado faz de tudo para conquistar todas as pessoas que ainda não aprenderam que a democracia e o respeito aos direitos humanos constituem a melhor forma de governar.
Professora Francisca é diretora da Secretaria de Assuntos Educacionais e Culturais da Apeoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, da Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE), secretária-adjunta de Finanças da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e diretora da CTB-SP.