Aliança Atlântica aposta na continuidade da guerra e expansão para a Ásia
Por José Reinaldo Carvalho (*)
A declaração da Otan aprovada na Cúpula de Vilnius, Lituânia, durante esta semana (11 e 12 de julho), é reveladora dos planos da aliança atlântica, designada por ativistas dos movimentos pela paz como o braço armado das potências imperialistas ocidentais. Serão prolongados e intensos seus impactos, repercussões e implicações geopolíticas para o equilíbrio internacional.
A Ucrânia tem sido palco de tensões geopolíticas nos últimos anos, desde que ocorreu um golpe de Estado (2014), instrumentalizado por aquelas potências, e a partir dele se intensificaram as tratativas para fazer com que o país se tornasse membro da Otan. Foi também naquele momento que se tornou evidente a influência predominante da extrema-direita e de movimentos de cariz nazista no país, ganhou fôlego o massacre das populações da região do Donbass (Lugansk e Donetsk) e cresceu a militarização do território em toda a linha, o que representou uma ameaça existencial direta à Rússia. A expansão da Otan para o leste da Europa até às fronteiras russas era um mau sinal no quadro internacional e uma indicação clara de que eclodiria uma guerra. A reação óbvia da Rússia foi o apoio ao movimento pela independência da Crimeia e a ajuda aos combatentes do Donbass, que se declararam em luta armada e proclamaram duas repúblicas independentes.
Antes de desencadear o que denominou Operação Militar Especial em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia traçou suas linhas vermelhas para defender-se do que era de fato a preparação de uma ofensiva militar ocidental. Uma delas era – continua sendo – a candidatura ucraniana a tornar-se país membro da Otan. Na cúpula desta semana, as potências imperialistas ocidentais convidaram a Ucrânia às suas fileiras, mas tiveram o cuidado de sopesar a correlação de forças e assinalar que a entrada efetiva tem de ficar para depois.
A adesão da Ucrânia à Otan inevitavelmente geraria uma escalada das tensões com a Rússia, potencialmente agravando ainda mais o conflito em curso. Isso poderia ter consequências desestabilizadoras para a região como um todo e para o equilíbrio internacional, uma grave ameaça à paz.
A Otan decidiu uma solução intermediária, que consiste em oferecer mais ajuda militar a Kiev e garantias plenas de segurança.
Outros aspectos reveladores das ameaças à paz acarretadas pelas resoluções da cúpula da Otan são a classificação da Rússia como principal inimigo a combater e os ataques retóricos destemperados à China, país que tem procurado desenvolver relações pacíficas e de cooperação com todos os membros da aliança.
Enquanto isso, o impulso estratégico da Otan para se intrometer na região da Ásia-Pacífico também se tornou um vetor da ação da aliança. O pretexto é dissuadir as supostas ambições estratégicas da China.
Este é o segundo ano em que Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia são convidados para a cúpula da Otan. A fim de amarrar firmemente esses quatro países, a organização imitou o mecanismo “Quad” dos EUA, Japão, Índia e Austrália na cúpula do ano passado e criou especialmente um novo nome para esses quatro países – “Asia-Pacific Four (AP4), com a finalidade de institucionalizar a cooperação entre esses quatro países e a Otan e torná-los novos aliados de fato da ” Otan+” na região da Ásia-Pacífico.
Diante desse quadro, é necessário evidenciar o caráter agressivo e belicista da aliança atlântica. A Otan foi criada em 1949, com o pretexto das potências ocidentais de defenderem-se de uma suposta agressão soviética. No entanto, desde o fim da União Soviética, a organização tem se expandido de forma agressiva em direção às fronteiras da Rússia. Essa expansão é percebida pela Rússia como uma provocação direta e uma ameaça existencial. Tais ações não contribuem para a estabilidade e a paz na região, e podem levar a um aumento das tensões e até mesmo a uma escalada da guerra.
Além disso, é importante considerar o histórico de intervenções militares lideradas pela Otan, como as operações no Afeganistão, Iraque, Iugoslávia e Líbia.
A cúpula da Otan é um sinal de alerta para as forças progressistas no mundo. É fundamental combater o militarismo, o intervencionismo e as políticas de guerra dessa aliança, promover um amplo movimento mundial contra a existência de tal pacto agressivo e multiplicar as ações pela paz.
(*) Jornalista, editor do Resistência e secretário-geral do Cebrapaz