Por Altamiro Borges
O deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-RJ) fez uma encenação transfóbica no 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, para tentar tirar o foco das gravíssimas denúncias sobre as joias milionárias de Michelle Bolsonaro. Mas o provocadorzinho barato, chamado de “moleque” no plenário da Câmara Federal, pode se dar mal. Cresce a pressão no Parlamento, no Judiciário e na sociedade pela cassação do seu mandato. Não dá para naturalizar as barbaridades desse deputado como se fez com outro fascista que depois chegou à presidência da República.
Entre os movimentos já em curso, o Ministério Público Federal (MPF) acionou o Congresso Nacional solicitando a imediata apuração do caso. “A procuradora Luciana Loureiro representou pelo encaminhamento de requerimento à Mesa Diretora da Câmara para averiguar ‘suposta violação ética’. Ela ressaltou que Nikolas Ferreira usou o tempo na tribuna para, ‘a pretexto de discursar sobre o Dia Internacional da Mulher, referir-se de forma desrespeitosa às mulheres em geral e ofensiva às mulheres trans em especial. A procuradora representou pela adoção de medidas de responsabilização cível (dano moral coletivo) e/ou criminal contra o parlamentar”, relata o site UOL.
Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no planeta
Já na Câmara Federal, parlamentares de vários partidos espinafraram o “moleque” fascistoide e anunciaram que vão pedir a cassação do seu mandato no Conselho de Ética. A deputada trans Duda Salabert (PDT-MG) foi uma das mais incisivas na crítica. Ela lembrou que “há 14 anos consecutivos, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no planeta, e que 80% desses assassinatos ocorreram e ocorrem com a violência exagerada”.
“Dificilmente uma travesti é morta com um tiro só no Brasil, só com uma facada. É crime de ódio, e é essa estrutura de ódio que nos exclui do mercado formal de trabalho, já que 90% das travestis estão na prostituição. É essa estrutura de ódio que nos exclui da sala de aula, porque 91% das travestis e transexuais não concluíram o ensino médio. É essa estrutura de ódio que nos exclui do espaço político. Mas eu digo para esses fascistas que querem nos ridicularizar, que nós somos o tamanho dos nossos desejos, nós somos o tamanho dos nossos sonhos… O seu ódio não foi capaz de frear que a deputada federal mais votada de Minas é uma travesti”, afirmou.
Já a também deputada trans Erika Hilton (Psol-SP) rechaçou a postura misógina e transfóbica de Nikolas Ferreira e reforçou a necessidade de que os direitos previstos na Constituição sejam “estendidos ao conjunto plural e diverso de todas as mulheres brasileiras… É preciso enfrentar a violência que nos acomete, lembrar que ainda vivemos no primeiro país do mundo que mais mata e mata de forma cruel e violenta mulheres como eu. Meninas como eu que aos 13, 14 anos, foi jogada nas ruas, vivem da prostituição. É preciso que haja um esforço desta casa, da sociedade, para resgatar a nossa humanidade, para resgatar a nossa dignidade”.
Até Arthur Lira repreende o provocador
A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) chamou o provocador de “moleque” e informou que pedirá sua cassação e enviará notícia-crime contra ele ao Supremo Tribunal Federal. Ela lembrou que “transfobia é crime” e “ultrapassa a liberdade de discurso garantida pela imunidade parlamentar”. A prática é equiparada ao crime de racismo e passou a ser tratada como crime hediondo pelo STF em 2019, com pena prevista de três anos de prisão. Nikolas Ferreira já é alvo de duas ações no Supremo por transfobia. Desde fevereiro deste ano, ele também responde por injúria racial por agredir verbalmente a deputada Duda Salabert quando ambos eram vereadores em Belo Horizonte.
Até o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira (PP-AL), repreendeu o fedelho bolsonarista. “Esse plenário não é palco para exibicionismo e muito menos para discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém”, postou em suas redes sociais. “Deputados federais de PSB, PSOL, PDT e PCdoB decidiram enviar ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados representação contra o Nikolas Ferreira (PL-MG) pela suposta prática do crime de transfobia. Os signatários pedem que seu mandato seja cassado por quebra de decoro parlamentar”, relata Mônica Bergamo na Folha. O fascistinha pode até ser cassado e merecia ser preso!
As opiniões contidas neste artigo não representam necessariamente o ponto de vista da CTB
Foto: Nikolas na hora do discurso homofóbico – reprodução/Twitter