Por Marcos Aurélio Ruy (Arte: Aroeira)
O estudo Os financiadores da boiada: como as multinacionais do agronegócio sustentam a bancada ruralista e patrocinam o desmonte socioambiental, publicado pelo site De olho nos ruralistas, denuncia a ação de grandes multinacionais no Congresso Nacional em favor das pautas dos latifundiários, sem preocupação com quem vive do trabalho e com a natureza.
Organizados pelo reacionário Instituto Pensar Agropecuário, o lobby desses grandes conglomerados empresariais agem por intermédio da Frente Parlamentar da Agropecuária, que existe no Congresso para defender as pautas dos latifundiários e do agronegócio em detrimento da agricultura familiar e de uma produção agropecuária sustentável.
De acordo com o De olho nos ruralistas, “gigantes como as produtoras de agrotóxicos e sementes transgênicas Bayer, Basf e Syngenta, as processadoras de soja Cargill, Bunge, ADM e Louis Dreyfus; os frigoríficos JBS e Marfrig e indústrias do setor alimentício como Nestlé e Danone”, fomentam a atuação parlamentar em favor exclusivamente de seus interesses, sem dar importância à produção sustentável, à preservação ambiental e muito menos ainda aos interesses de quem vive do trabalho no campo.
Não é à toa que ocorre tamanha destruição ambiental no país, com crescimento vertiginoso de desmatamento e queimadas, além de invasão de terras indígenas e quilombolas durante os quatro anos de desgoverno Bolsonaro.
Para compreender melhor como a ação desse lobby, envolvendo um volume gigantesco de transações financeiras, colabora com a destruição de florestas, rios, direitos humanos e trabalhistas, o Portal CBT entrevistou Sandra Paula Bonetti, secretária de Meio Ambiente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).
Para ela, “faltam investimentos públicos em educação, tecnologia e assistência técnica para a agricultura familiar potencializar os seus sistemas tradicionais de produção com o uso de novas tecnologias e preservar as riquezas da natureza”.
Leia a entrevista abaixo:
0 estudo “Os financiadores da boiada”, mostra que multinacionais fazem lobby e financiam a destruição da natureza, como o governo Lula pode evitar que isso continue a ocorrer?
O lobby é algo muito difícil de conter. Devido ao poder econômico que esses grupos possuem fica muito difícil combatê-los no Congresso. Com o governo Lula a esperança é que o Estado brasileiro volte a cumprir seu papel de fiscalização e punição de crimes ambientais e que a sociedade civil seja ouvida nos processos de elaboração de políticas públicas para empoderar a produção de alimentos saudáveis.
Qual o papel do movimento sindical e ambientalista para barrar o chamado “pacote da destruição” com projetos de lei em favor da grilagem de terras, que facilitam a utilização de agrotóxicos, muitos deles proibidos em países da Europa (PL do Veneno), facilitando o licenciamento ambiental, impedindo a fiscalização e liberando a mineração em terras indígenas?
As organizações da sociedade civil têm a missão de combater os desmandos e o aparelhamento do Estado, denunciando os prejuízos que estes projetos trazem para a população a fim de beneficiar apenas alguns grupos econômicos. Além disso, há uma resistência muito forte no Congresso a partir da mobilização e influência das nossas instituições para combater os pacotes de maldades.
Como criar uma mentalidade socioambiental na sociedade?
É um grande desafio, acredito que a educação e a formação é um caminho fundamental. Infelizmente quando os grandes grupos econômicos focam em uma pauta, por mais prejudicial que seja para a sociedade, a exemplo do pacote do veneno, eles fazem uma disputa de narrativas para o convencimento do povo. Com isso, as pessoas recebem uma chuva informações levianas. São abordadas das mais diversas maneiras, com objetivo de confundir e criar um efeito manada, para que as pessoas apoiem mesmo sem perceber que estão sendo prejudicadas. Em especial a classe trabalhadora.
Interessa à classe trabalhadora defender a natureza?
Com certeza, porque a classe trabalhadora sempre acaba sendo a mais afetada. Quem tem poder econômico, dispõe de recursos para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, mas quem vive do trabalho não possui recursos. Podemos citar o exemplo da alta dos preços dos alimentos provocada por uma crise climática. E a classe trabalhadora que sofre com as enxurradas e enchentes nas periferias, e esses são só exemplos costumeiros do dia a dia de quem vive do trabalho no campo e na cidade.
Novas políticas de preservação ambiental, em defesa das terras indígenas e quilombolas, da agroecologia podem se sustentáveis economicamente?
Bom, primeiro é preciso entender os prejuízos em não se preservar. Há de se mensurar o custo econômico da não conservação. Esse custo tem aumentado vertiginosamente para o próprio agronegócio em regiões tradicionalmente produtoras de grãos como as do Centro-Oeste e Sul, através de várias frustrações de safras causadas pelos eventos climáticos extremos, como secas e tempestades.
Outro ponto interessante, é que ninguém fala do custo para reconstruir as cidades e estradas destruídas pelas enchentes. Além disso, esse modelo exploratório que destrói toda a floresta e os meios tradicionais de sobrevivência para colocar no lugar a monocultura. Na Agroecologia há uma economia viva, produção de alimentos de verdade e pessoas morando no local. Na monocultura, há destruição, veneno e pouquíssimas pessoas vivendo disso. Ou seja, muita terra para pouca gente. E sem considerar as pessoas que são expulsas por esse modelo e acabam nas grandes cidades pagando cada vez mais caro nos alimentos e virando estatística de problemas sociais como o desemprego.
Ou seja, se colocar na balança o sistemas agroecológicos de produção podem ser muito rentáveis. Ainda não são porque faltam investimentos públicos em educação, tecnologia e assistência técnica para a agricultura familiar potencializar os seus sistemas tradicionais de produção com o uso de novas tecnologias e preservar as riquezas da natureza.