Por Leonardo Wexell Severo
Após 36 dias de arruaças dos golpistas que, com bloqueios, ameaças e extrema violência, confinaram a população em suas casas e provocaram um prejuízo superior a US$ 1,2 bilhão, as ruas de Santa Cruz de la Sierra voltaram à normalidade na Bolívia. Isso foi fruto da aprovação do projeto de lei do Censo de Lei de População e Moradia 2024 pela Câmara dos Deputados no último sábado (26).
Depois de quatro mortes e centenas de feridos, a medida foi anunciada por Rómulo Calvo, autointitulado presidente da Comissão local, na ausência do governador Luis Fernando Camacho, o principal promotor dos atos criminosos.
Aprovado por ampla maioria no Congresso – liderado pelo Movimento Ao Socialismo (MAS), do presidente Luis Arce – o Censo garante a devida redistribuição dos recursos orçamentários e das cadeiras no legislativo, já com vistas às eleições de 2025. A decisão será encaminhada para análise do Senado e posterior promulgação pelo Executivo.
O debate sobre o tema vinha sendo realizado pelo Conselho Nacional de Autonomia, que reúne o presidente, ministros, os nove governadores, os membros da Federação dos Municípios, os representantes de todas as 325 prefeituras do país e das autonomias indígenas e regionais, quando foi utilizado pelos fascistas para retomarem a tese separatista. Foram derrotados.
Prefeito afirma que “a cidade está em pedaços”
Contrário à medida imposta pelas milícias de Camacho e da União Juvenil Cruzenhista, o prefeito Jhonny Fernández fez uma fotografia da tragédia em que se encontra a capital do Departamento (Estado). “Santa Cruz como cidade, sua infraestrutura está destruída em muitos lugares, está em pedaços. Você vê nossa cidade suja, cheia de entulho, pneus, tudo, nossa cidade sofreu”, lamentou.
Johnny Fernandes frisou que agora é hora de que todos se envolvam com afinco na limpeza e recuperação da cidade, “de trabalharmos mais naquilo que é a reconstrução”.
“Uma Santa Cruz que não deixa passar ambulâncias, que as pessoas circulam a pé, que nem uma bicicleta passa, espancando, violentando pessoas, humilhando mulheres, maltratando-as e expondo-as a riscos inadmissíveis, esse é o resultado dessa paralisação”, condenou o porta-voz presidencial Jorge Richter. Na avaliação de Richter, a criação de um Comitê Interinstitucional em Santa Cruz representou uma “tragédia”, pois seus representantes fecharam todos os canais de diálogo sobre o Censo, atuando de forma racista para construir “uma barreira de distância com a diversa e plural Bolívia”.
Como pudemos observar, as milícias transformaram o movimento em terrorismo, com o incêndio da Federação Sindical dos Camponeses, a destruição e o assalto aos equipamentos médicos e odontológicos da Central Operária Departamental (COD), a intimidação de dirigentes e o cerco à Casa da Mulher por homens vestidos de negro com cruzes nas costas – ao estilo Ku Klux Klan -, os abusos e estupros cometidos nos pontos de bloqueio, impedimento da passagem de pacientes e ambulâncias, entre outras atos de covardia e selvageria.
De acordo com o analista econômico Gonzalo Gosalves especificou, as perdas por setor econômico provocados pelo bolsonarismo boliviano são graves: US$ 220 milhões, setor agrícola; U$ 205 milhões, comércio; US$ 120 milhões, indústria de transformação; US$ 111 milhões, transporte; US$ 84 milhões, construção; US$ 80 milhões micro e pequenas e empresas (Mypes); US$ 75 milhões, hospedagem e turismo; US$ 30 milhões, serviços; US$ 12 milhões, atividades artísticas e de entretenimento.
Para o representante intercultural do Gran Chaco, Miguel Justiniano, a oligarquia de Santa Cruz aplicou a mesma “receita do imperialismo norte-americano com ações neofascistas”. Por isso, enfatizou, “peço ao presidente Luis Arce e ao Poder Judiciário e Legislativo que formem uma comissão especial para iniciar um julgamento de responsabilidades com encargos econômicos por danos contra aqueles que causaram essas perdas”.