De acordo com levantamento realizado pelo Dieese, o atraso no pagamento dos salários foi a principal causa das greves deflagradas por trabalhadores e trabalhadoras da saúde no Brasil, o que revela a grande precariedade das relações entre os profissionais de saúde e seus empregadores.
De outubro de 2021 até setembro de 2022, profissionais da saúde realizaram 85 greves. Nas redes
municipais, foram 46 mobilizações, nas estaduais, 15, e na federal, duas – uma delas na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, responsável pela gestão dos Hospitais Universitários.
Outras 19 greves foram organizadas por profissionais contratados por instituições privadas, que, majoritariamente, atuam na saúde por meio de Organizações Sociais (OSs). E, por fim, foram ainda promovidas três mobilizações de abrangência nacional, envolvendo profissionais celetistas e estatutários da enfermagem.
A precariedade das condições de trabalho vividas pelos profissionais das OSs é revelada na enorme proporção de protestos contra o atraso no pagamento dos vencimentos, que ocuparam 79% das pautas grevistas. Greves por reajuste salarial foram deflagradas três vezes, ocupando um distante segundo lugar (16%).
Entre os profissionais estatutários da saúde pública, o longo tempo sem reposição inflacionária fez com que as greves por reajuste salarial surgissem em mais da metade das pautas de reivindicação (57%). Cerca de um terço das mobilizações menciona questões relacionadas às condições de trabalho (35%) e aos planos de carreira (29%).
Greves e paralisações exigindo o pagamento do piso salarial aos profissionais de enfermagem devem ocupar, nos próximos meses, proporção maior na pauta dos servidores públicos da saúde que os 15% do período analisado. Até agora, essa reivindicação motivou os três protestos nacionais mencionados acima, realizados em 08/03, 07/04 e, mais recentemente, em 21/09.
Melhores resultados nas negociações
O Dieese também nota uma melhora no resultado das negociações coletivas entre patrões e empregados. Na data-base de setembro, 39,6% das 450 negociações analisadas até 20 de outubro tiveram reajustes acima da inflação acumulada de 12 meses, medida pelo INPC-IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Resultados iguais ao INPC ocorreram em cerca de 38% dos casos e abaixo, em 22,4%. As categorias com reajustes acima da inflação conquistaram, em média, ganho real de 1,27%. As que não conseguiram tiveram, em média, perda de -1,64%. Considerando todos os reajustes de setembro, a variação real média foi de 0,13%. Em 2022, a variação real média segue negativa: – 0,79%.
As categorias com maior incidência de reajustes acima da inflação no ano são: metalúrgicos (32,2%), trabalhadores na indústria da alimentação (29,6%) e vigilantes (28,6%). Os comerciários seguem com menos resultados abaixo da inflação (17,1%).
Quanto aos pisos salariais, os maiores valores médios são os recebidos pelos trabalhadores em transportes, urbanitários, alimentação e metalúrgicos; e os menores, pelos trabalhadores nas comunicações e saúde privada.
Cesta básica
De agosto para setembro, 12 das 17 capitais onde o DIEESE realiza a Pesquisa da Cesta Básica de Alimentos apresentaram queda nos preços dos produtos. Nas cidades com alta, os aumentos ficaram entre 0,05%, em Florianópolis, e 1,88%, em Belo Horizonte. Os dados, porém, devem ser analisados no contexto dos últimos 12 meses, quando a cesta básica teve fortes acréscimos em todas as capitais pesquisadas e para a maioria dos itens.
Nesse período, as maiores variações anuais foram verificadas para:
Café em pó – As altas variaram de 31,58%, em Vitória, a 84,44%, em Recife. As oscilações no câmbio, a baixa oferta mundial do grão, que faz subir os preços no mercado internacional, com reflexos no mercado interno, e as condições climáticas, como geadas e secas, estão entre as causas que elevaram o preço.
O leite apresentou maiores aumentos no Nordeste: Recife (74,77%), Salvador (66,15%), João Pessoa (59,46%), Fortaleza (59,08%), Natal (57,65%) e Aracaju (53,29%). O preço da manteiga subiu mais em Salvador (34,60%), Goiânia (31,06%), Recife (30,44%) e Porto Alegre (30,09%).
A menor oferta no campo, decorrente da elevação dos custos de produção – medicamentos, adubos, milho, soja e combustíveis; a diminuição dos estoques de derivados lácteos; e a disputa das indústrias de laticínios pela matéria-prima são fatores que influenciaram no aumento do valor do leite e dos derivados lácteos no varejo.
Farinha de trigo e pão francês – A baixa disponibilidade interna de trigo, a menor produção na Argentina e na Ucrânia, a preocupação com a redução da oferta mundial e a taxa de câmbio desvalorizada elevaram o valor do grão e dos derivados. Em todas as capitais foram observadas altas acumuladas, tanto para a farinha de trigo quanto para o pão francês.
A farinha de trigo variou entre 4,73%, em Belém, e 42,86%, em Curitiba; e o pão francês, de 13,71%, em Florianópolis, a 31,23%, em Salvador. Óleo de soja – Nos últimos 12 meses, as capitais que apresentaram os maiores aumentos acumulados para a lata do óleo de soja foram São Paulo (16,21%), Florianópolis (15,25%), Vitória (12,51%), Fortaleza (12,08%) e Curitiba (11,90%). Os altos preços internacionais e a elevada demanda externa por óleo de soja pressionaram as cotações no varejo.
Fonte: Dieese