Levantamento feito pelo Dieese sobre as campanhas salariais da categoria sugerem que o cenário de arrocho salarial que marcaram as negociações coletivas começa a ser revertido. Em setembro de 2022, a maioria dos acordos e convenções coletivas das categorias com data-base no mês resultaram em reajustes acima da inflação, ou seja, com aumento real dos salários.
“Cerca de 40% das 450 negociações analisadas até a finalização deste boletim, referentes à data-base setembro, fixaram reajustes acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outras 38% registraram resultados iguais ao índice inflacionário e 22,4%, abaixo dele”, informa o órgão.
Na análise dos técnicos do Dieese “com 77,6% dos reajustes iguais ou superiores ao INPC-IBGE, os resultados são os melhores das últimas 15 datas-bases. Refletem o impacto da queda dos preços (deflação) ocorrida nos últimos três meses e o efeito das negociações de categorias com maior poder de negociação. Os dados de setembro se assemelham aos de junho de 2022, quando 75,9% dos reajustes foram iguais ou superiores ao INPC”.
A variação real média dos reajustes salariais de setembro (média simples das variações reais de cada reajuste na data-base, descontando a inflação) foi de 0,13% (Gráfico 2), o primeiro valor positivo desde setembro de 2020. Levando em conta somente os reajustes acima da inflação, a variação real média em setembro ficou em 1,27%. Considerando apenas os reajustes abaixo da inflação, a variação real média foi de -1,64%.
Resultado no ano continua negativo
A melhora no resultado, verificada nas últimas datas-bases, ainda não foi sufi ciente para reverter o quadro geral de 2022. No cômputo do ano, até setembro, 21,6% dos 15.028 acordos e convenções coletivas de trabalho analisados pelo DIEESE definiram reajustes acima da inflação; 36,5%, em valor igual ao INPC-IBGE na data-base; e 41,9%, abaixo do índice inflacionário.
A variação real média em 2022 é, até o momento, negativa (-0,79%). Considerando apenas as negociações que obtiveram ganhos reais, a variação real média é de 0,65%, e aquelas com reajustes abaixo do INPC-IBGE, de -2,22%.
Setor econômico
No acumulado do ano, até setembro, reajustes iguais ou acima do INPC-IBGE foram mais frequentes no comércio (cerca de 71%) e, depois, na indústria (cerca de 68%).
Porém, é na indústria que se observa o maior percentual de reajustes com aumentos reais no painel analisado (27,6%). Nos serviços, reajustes iguais e acima da infl ação ocorreram em cerca de 49% dos casos; logo, pouco mais da metade (51%) não conseguiu repor o valor real dos salários nas negociações de data-base.