O chefe da extrema direita brasileira continua expondo o Brasil ao vexame mundial. Até o início da tarde desta terça-feira (1), Bolsonaro ainda não tinha se pronunciado sobre o pronunciamento das urnas no domingo, 30 de outubro. Uma vergonha.
A leitura do seu prolongado e eloquente silêncio é de que continua apostando suas fichas num novo golpe de Estado e, por debaixo do pano, estimula o movimento criminoso de bloqueio nas rodovias, liderado por ruralistas, empresários do setor de transportes e um pequeno grupo de caminhoneiros.
Abandonado por aliados e assessores
Conforme notou o jornalista Tales Farias, em sua coluna desta terça (1) no Uol, o presidente “esperou durante toda a segunda-feira, 31, pela adesão popular, que não ocorreu, às manifestações de nas estradas. Agora se sente isolado e abandonado por aliados e até por assessores”.
O líder neofascista acreditava que os bloqueios criminosos poderiam servir de estopim para deflagrar o golpe, mas a verdade é que uma minoria insignificante se insurgiu contra o pronunciamento das urnas, comemorado nas ruas e avenidas do país por centenas de milhares de brasileiros e brasileiras na noite de domingo.
O colunista informa que o atual ocupante do Palácio do Planalto tem demonstrado irritação até mesmo com os assessores. “Reclamou que está sendo traído por aqueles a quem julga ter beneficiado durante seu governo. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é um dos apontados pelo chefe do Planalto nas suas conversas reservadas. O presidente reclama de Lira ter reconhecido a vitória de Lula ´apressadamente´, logo após o resultado das urnas ter sido anunciado”.
Medo do xadrez
O apego de Bolsonaro ao cargo e sua resistência em reconhecer a derrota tem também uma forte motivação pessoal e familiar. Se o Ministério Público decidir fazer uma denúncia contra ele, o julgamento ficará por conta de um juiz de primeira instância. Na condição de ex-presidente, vai perder também o direito de ser defendido pelo AGU (Advogado-Geral da União). Vai ter de contratar um advogado particular.
Atualmente, há quatro inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal em que o presidente é investigado por suspeitas de diferentes crimes. Ele também enfrenta as acusações pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que estão em apuração pela PGR. Seus filhos e familiares estão enrolados com as farras das rachadinhas, compra de 54 imóveis com dinheiro vivo, envolvimento com a milícia carioca e outras patifarias.
Jair Bolsonaro realmente tem o que temer. Na crise sanitária comportou-se como um genocida e foi apontado por cientistas e pela CPI do Senado como responsável por pelo menos 400 mil mortes. Ao longo dos tenebrosos quatro anos do seu governo cometeu inúmeros crimes de responsabilidade. Se prevalecer a Justiça ele terminará seus dias na cadeia.
Difícil alegar fraude
Conforme notou Tales Farias, alegar fraude tornou-se problemático para o bolsonarismo porque isto contestaria também o resultado das eleições em São Paulo, onde o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (republicanos) obteve a maioria dos votos e foi eleito governador, resultado imediatamente reconhecido pelo seu adversário, o petista Fernando Haddad, que ainda no domingo parabenizou o rival pela vitória.
“O estado”, comenta, “pode se tornar um refúgio para os bolsonarisas que ficarão sem cargos no governo federal e isso também faz com que mesmo uma parcela mais aguerrida dos bolsonaristas no governo defendam que o presidente reconheça logo o resultado”.
Governos de cerca de 100 países já tinham confirmado e celebrado nas redes sociais ou em telegramas oficiais a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva até o início da tarde desta terça (1). China e EUA, as duas maiores potências do mundo, assim como Rússia, Alemanha, França, Espanha, Portugal e até a Itália, que tem na presidência uma líder associada ao fascismo, apresseram-se a cumprimentar Lula. A América Latina em peso fez o mesmo.
No próprio Itamaraty, a movimentação diplomática inédita é vista como um sinal claro de que, para a comunidade internacional, não existem questionamentos sobre a eleição e que, a partir de agora, o interlocutor é Lula, e não Bolsonaro. O que se nota é um sinal de grande alívio em todo o mundo com a derrota do líder neofascista.
Caminhões podem ser apreendidos
Os atuais bloqueios promovidos por bolsonaristas inconformados nas estradas e nas vias de acesso às cidades, com graves prejuízos para a população e riscos ao abastecimento inclusive de medicamentos, já começaram a ser reprimidos com mais vigor após a determinação do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) exigindo o imediato desbloqueio.
Além da prisão dos provocadores, a polícia também pode apreender os caminhões utilizados para o bloqueio ilegal, pois foram os instrumentos usados para a prática criminosa.
Diz a lei que um dos efeitos da condenação definitiva é o perdimento de bens empregados na prática criminosa. Portanto, os caminhões podem e devem ser imediatamente apreendidos, na opinião do jurista Wálter Maierovitch.
A conduta criminosa causou transtornos graças à cumplicidade ilegal do diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Silvinei Vasques, que no sábado (29) publicou uma foto da bandeira do Brasil com os dizeres “Vote 22 – Bolsonaro Presidente”, declarando seu voto na disputa eleitoral à Presidência da República no segundo turno.
No domingo o policial bolsonarista usou a PRF, que foi completamente aparelhada pelo bolsonarismo, para impedir, eleitores de Lula de votar no Nordeste, por meio de blitz e bloqueios desnecessários. Uma tentativa frustrada de tumultuar o processo eleitoral, reverter artificialmente o resultado ou melar a eleição. Ele será investigado criminalmente pela conduta criminosa no pleito.
O fato é não deu certo! Apesar de todas as pressões, da utilização ilegal da máquina pública, do assédio patronal indecoroso sobre os trabalhadores, o povo brasileiro manifestou sua vontade nas urnas neste histórico domingo, 30 de outubro. A vontade popular é soberana e vai prevalecer. Resta aos bolsonaristas o sagrado direito de espernear. Já quanto ao destino merecido pelo chefe desatinado da extrema direita, que ele em desespero já está pressentindo, não restam muitas dúvidas, é a cadeia.
Umberto Martins