Por Altamiro Borges
Na quarta-feira (14), a Folha de S.Paulo divulgou um estudo feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que confirma que o “o algoritmo do YouTube privilegia a Jovem Pan e os vídeos a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL) em suas recomendações”. As manipulações criminosas ficam comprovadas na pesquisa.
“Durante o levantamento, em 18 visitas-teste à plataforma com perfis diferentes, os canais do grupo Jovem Pan foram indicados 14 vezes na página inicial do YouTube, com um ou mais vídeos sugeridos. O mais recomendado aos usuários foi o da participação de Jair Bolsonaro no programa Pânico, no dia 26 de agosto. A entrevista foi recomendada em oito visitas-teste, em cinco versões (cortes), que juntas somam 9,6 milhões de visualizações”.
Além das fake news contra o sistema eleitoral, os vídeos sugeridos pelo YouTube apresentam Lula como “chefe de quadrilha” e “doente mental”, afirmam que o petista estaria atrás do fascista nas pesquisas de intenção de voto do Ibope e garante que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem uma aliança com o ex-presidente.
As manipulações do algoritmo
“É muito grave o YouTube, uma plataforma com mais de 130 milhões de usuários no Brasil, privilegiar um veículo de mídia no seu sistema de recomendação, diante de tantas outras fontes. Ainda mais por [a Jovem Pan] ser um veículo hiperpartidário, claramente bolsonarista, que não dá isonomia aos candidatos. Essa situação cria um desequilíbrio nas eleições, faz propaganda com o uso do algoritmo, pois a recomendação é uma forma de moderação de conteúdo”, alerta Marie Santini, diretora do Netlab da UFRJ.
Como registra a matéria da Folha, “YouTube e WhatsApp são as plataformas que mais preocupam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O aplicativo de mensagens gera apreensão devido à velocidade de viralização de boatos, apesar dos mecanismos de restrição de encaminhamentos implementados pela empresa. A plataforma de vídeos, por sua vez, gera temores pela falta de transparência na moderação e porque há incentivos financeiros para produtores de conteúdo extremista – desinformação dá audiência”.
Campanha de Lula aciona o TSE
Diante da grave revelação do levantamento da UFRJ, a Coligação Brasil da Esperança, que reúne dez partidos em apoio ao líder petista, já acionou o TSE para impedir que o YouTube siga privilegiando os vídeos da Jovem Pan – também apelidada de Jovem Klan. No pedido, os advogados da campanha de Lula argumentam que a Justiça Eleitoral e as plataformas digitais assinaram um memorando de entendimento no início de 2022 para combater a desinformação e as fake news. O texto alega, ainda, que a empresa Google, detentora do YouTube, comprometeu-se a conferir acesso amplo a informações de fontes confiáveis.
“O privilégio concedido aos conteúdos da Rede Jovem Pan podem violar esse acordo, bem como o princípio da neutralidade das redes, previsto no Marco Civil da Internet. O estudo referenciado traduz a compreensão de que a plataforma YouTube não trata de forma isonômica o conteúdo distribuído ao usuário a título de ‘conteúdo informativo’, dada a sua concentração em uma mesma rede de produção de conteúdo sobre a qual, de forma ainda mais grave, recai graves indícios de parcialidade política”, afirma um dos trechos do pedido.
Charge: Daniel Paz