Por Rene Vicente
Estudo recente da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan) revela que 33 milhões de seres humanos estão passando fome hoje no Brasil. Em situação de insegurança alimentar, vendendo o almoço para comprar a janta, o número é ainda mais pavoroso: são 125,2 milhões.
São Paulo, o estado mais rico do país, destaca-se no número de famintos: 6,8 milhões. O Rio de Janeiro tem 2,7 milhões. Considerando toda a população em insegurança alimentar (leve, moderada ou grave), São Paulo também lidera, com 26 milhões, seguido por Minas Gerais, com 11,2 milhões.
Fome e desemprego
Na quarta-feira jornalistas da TV Globo entrevistaram uma trabalhadora desempregada, mãe de quatro filhos, que não conseguia assegurar mais que uma refeição por dia à família. Indagaram o que ela desejava como presente neste momento e a resposta foi simples: um emprego
O desemprego em massa tem muito a ver com a fome, ao lado do desmonte do Bolsa Família. Embora a taxa de desemprego tenha recuado nos últimos meses, ainda temos no país mais de 24 milhões de pessoas sem emprego – procurando ocupação, desalentados, que desistiram de frequentar o mercado de trabalho ou, ainda, que estão fazendo bico, com rendimento inferior ao salário mínimo.
No capitalismo o trabalhador que não dispõe de meios de subsistência e que só tem por patrimônio a força de trabalho para ofertar no mercado de mão de obra está condenado a passar fome e até morrer de fome se não conseguir alugar sua força de trabalho, a menos que seja socorrido por familiares ou pela rede de assistência social.
A fome não espera. Nem deve ser negada ou desprezada, como faz o atual presidente, numa conduta que só agrava o problema. Urge acabar com esta chaga que castiga os mais pobres e envergonha a nação.
Política econômica
Considerando a óbvia relação entre fome e desemprego, ao lado da assistência efetiva e imediata às famílias com insegurança alimentar, é indispensável priorizar medidas governamentais que promovam um substancial crescimento da oferta de emprego.
O primeiro passo nesta direção consiste na mudança da política econômica, que deve ter por norte o ideal do pleno emprego. O nível de emprego é diretamente proporcional às taxas de investimentos e de crescimento da economia ou do PIB.
Para que ambas cresçam é indispensável elevar substancialmente os investimentos públicos, o que requer a revogação da Emenda Constitucional 95, que congelou por 20 anos os gastos públicos primários, o fortalecimento das empresas públicas e uma política de reindustrialização, entre outras iniciativas.
Reiterados fracassos das políticas neoliberais no Brasil e em todo o mundo mostram que os investimentos privados, por si sós, não bastam para reduzir o desemprego em massa, uma marca dos nossos dias que parece funcional ao capitalismo na medida em que reprime e reduz o ímpeto de luta da classe trabalhadora por melhores salários e condições de vida.
Combater a fome e o desemprego é um dever do Estado e dos governantes em todas as esferas. Em São Paulo, as políticas neoliberais do atual governador, que pleiteia a reeleição, contribuem consideravelmente para o triste contraste que o estado exibe, de ser mais rico do país liderando o vergonhoso ranking da fome nacional.
No dia 2 de outubro nosso povo terá a oportunidade de escolher novos rumos e votar pela mudança contra a fome, o desemprego e a exploração e depreciação do povo trabalhador.