Bolsonaro se isola ao expor o Brasil à vergonha internacional com discurso falso e golpista

A reunião promovida pelo presidente com embaixadores estrangeiros na tarde de segunda-feira (18) foi descrita como “um tiro no pé” e “vexame” até mesmo por aliados e assessores de sua campanha à reeleição. A repercussão foi amplamente negativa não só no Brasil como em todo o mundo.

O desvario golpista de Bolsonaro despertou a reação de repúdio, por declarações e notas, dos presidentes do Senado, STF e TSE, da oposição e de várias organizações sociais e políticas, candidatos à Presidência e personalidades políticas e jurídicas.

Além de reiterar suspeitas infundadas contra a votação eletrônica, o líder da extrema direita brasileira atacou diretamente e dirigiu acusações infundadas contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.

Crimes de responsabilidade

Jair Bolsonaro elevou o tom do cantochão golpista e da crise política e institucional que em seu desgoverno virou um pesadelo infindável. Cometeu vários crimes de responsabilidade ao usar a estrutura da Presidência para fins políticos eleitorais, ameaçar o exercício do Poder Judiciário, a democracia e atropelar a Lei Eleitoral, entre outros.

O impacto no exterior foi vergonhoso. O jornal New York Times mencionou relatos de embaixadores que ficaram estupefatos com a atitude tresloucada do chefe do Executivo e perceberam que as alegações prévias de fraude sinalizam um claro objetivo golpista. Oficiais das Forças Armadas foram envolvidos na trama e contracenaram com o chefe.

O resultado mais notável da bizarra reunião foi o isolamento de Bolsonaro, refletido também em um comentário desolado de um líder do Centrão em conversa com jornalistas. “Foi um discurso de derrotado”, resumiu.

Defesa da democracia

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, rebateu Bolsonaro e defendeu “a segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral”.

“Uma democracia forte se faz com respeito ao contraditório e à divergência, independentemente do tema. Mas há obviedades e questões superadas, inclusive já assimiladas pela sociedade brasileira, que não mais admitem discussão. A segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral não podem mais ser colocadas em dúvida”, afirmou Pacheco.

Já a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) rebateu em nota a conduta golpista do líder neofascista, reiterou a confiança no sistema eleitoral brasileiro, na Justiça Eleitoral e no modelo eletrônico de votação, destacando que o mais relevante na atual conjuntura é defender a democracia.

“Desde 1996, a urna eletrônica é usada nas eleições sem que haja nenhum registro ou indício de fraude, com as votações resultando nas eleições de políticos dos diversos partidos e ideologias que coexistem no país. As ministras e os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contam com a confiança e o apoio da OAB para seguir em sua missão de organizar e assegurar a realização das eleições”, afirma a nota.

“A OAB compreende que a sua missão institucional mais relevante neste momento é defender a democracia, o que implica em atuar pela realização das eleições e pela existência de um ambiente eleitoral limpo, livre de Fake News, manipulações, discursos de ruptura com o Estado de Direito”, acrescenta.

Força do costume

“É hora de dizer basta à desinformação. É hora também de dizer não ao populismo autoritário, que coloca em xeque a conquista da Constituição de 1988”, declarou por sua vez o ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que também recebeu o apoio público do presidente do STF, Luiz Fux.

Políticos do Centrão e assessores da campanha à reeleição tinham recomendado ao presidente maior moderação para reduzir o alto índice de desaprovação e rejeição, mas ele já deu fartas provas de que é incorrigível. Como dizia Noel Rosa “o costume é a força que fala mais forte do que a natureza”.

Notícia-crime

Parlamentares da oposição (PT, PCdoB, Psol, PDT, PSB, Rede, PV) encaminharam ao STF representação e notícia-crime contra o presidente pela “prática de crime contra as instituições democráticas, de crime eleitoral, crime de responsabilidade, de propaganda eleitoral antecipada e ato de improbidade administrativa”.

Na ação, afirmam que o “mito” neofascista deve “responder por ato de improbidade administrativa ao fazer uso direto e indevido, em proveito próprio, à luz do dia, de bens públicos como a estrutura da Presidência da República e divulgação pela TV Brasil, e por fazer propaganda eleitoral antecipada, cometendo ainda abuso do poder político e econômico e crime eleitoral, agindo de maneira indigna como presidente da República”.

A notícia-crime provavelmente não terá maiores consequências, pois o protocolo determina que seja enviada pelo Supremo ao bolsonarista Augusto Aras, o procurador geral da República que cultiva o hábito de mascarar e arquivar toda e qualquer iniciativa jurídica contra os crimes oriundos do Palácio do Planalto.  

Discurso de derrotado

Conforme teria admitido um político do Centrão a jornalistas, na reunião com os embaixadores Bolsonaro proferiu um discurso de derrotado. Sua preocupação real não é com a lisura do processo eleitoral ou desconfiança com urnas eletrônicas. Ele está desesperado com as perspectivas de derrota para Lula, que pode ocorrer ainda no primeiro turno das eleições presidenciais.

Assim como seus familiares, o presidente tem consciência de que corre o sério risco de ser recolhido ao xadrez, na companhia dos filhos, ao sair do Palácio do Planalto. Esta é a fonte maior de seus desesperos e da aberrante retórica golpista.

É forte a tendência de que as urnas consagrem em outubro a derrota do político neofascista, como sugerem todas as pesquisas realizadas até o momento. Mas o desenrolar do drama político nacional sugere que é indispensável promover uma ampla mobilização nacional para derrotar uma nova aventura golpista que está sendo urdida em Brasília e foi mais uma vez anunciada pelo líder da extrema direita, que conta com a leviana e criminosa cumplicidade dos militares que ele instalou em altos cargos do governo federal.

Umberto Martins