Não é sem razão que a preferência por Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais é amplamente majoritária entre os empresários e os mais ricos, enquanto entre os trabalhadores, os mais pobres e especialmente entre os desempregados, Lula está ganhando de levada. O arrocho dos salários ajuda a explicar as diferenças nas intenções dos votos das classes sociais apuradas pelos institutos de pesquisas.
Conforme estudo do Dieese, durante o governo Bolsonaro a regra nas negociações salariais foi a imposição da redução do valor real dos salários pelos patrões, de forma que a maioria dos acordos e convenções coletivas foram fechados com reajustes inferiores ao da inflação medida pelo IBGE, com o agravante que o arrocho foi maior em função da disparada dos preços dos alimentos e gás de cozinha.
Quatro em cada dez reajustes salariais ficaram abaixo da inflação calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de janeiro a abril deste ano, um resultado desfavorável verificado durante todo o ano passado que se prolonga pelos meses de maio e junho.
Informações provenientes do próprio governo também retratam o quadro de arrocho. De acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Previdência, o salário médio de contratação com carteira assinada acumulou em maio uma queda anual de 5,6%.
Em maio, salário médio real de admissão foi de R$ 1.898 – em maio do ano passado, foi de R$ 2.010. Inflação de dois dígitos e desemprego ainda elevado pressionam valores pagos pelos empregadores, conforme nota o jornalista Darlan Alvarenga, do g1, em reportagem parcialmente reproduzida abaixo.
O salário médio de contratação no país em empregos com carteira assinada voltou a cair em maio e acumula uma queda de 5,6% em 1 ano, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Previdência.
Em maio, o salário médio real de admissão foi de R$ 1.898, contra um valor de R$ 1.916 em abril, e de R$ 2.010 em maio do ano passado, em valores corrigidos pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Nos cinco primeiros meses de 2022, apenas em abril o salário de admissão registrou aumento real. O valor médio de R$ 1.898 registrado em maio é o mais baixo desde dezembro de 2021.
De acordo com os dados do governo federal, foram criados 277 mil empregos com carteira assinada em maio no Brasil. No acumulado no ano, foram 1,05 milhão de vagas formais a mais.
Os números do Caged mostram, porém, que os salários médios iniciais continuam encolhendo. Em outras palavras, a recuperação do mercado de trabalho e a queda do desemprego ainda não refletem em uma melhora da renda – que segue sendo corroída pela inflação nas alturas e pelo elevado número de brasileiros em busca de uma ocupação.
“Essa queda no salário de admissão já foi até pior. Mas isso não significa que o salário daqui a pouco vai começar a apresentar ganho. Provavelmente, não vai. Quem está entrando no mercado de trabalho, está predominantemente aceitando um salário menor do que se pagava 12 meses atrás”, afirma Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), destacando que o país ainda reúne 10,6 milhões de desempregados em busca de uma vaga no mercado de trabalho.
Levantamento feito recentemente pela CNC mostrou que, entre as 140 profissões com maior volume de contratações, em apenas 8 o salário de admissão conseguiu bater a inflação no último ano.
Entre os 21 principais grupamentos de atividades econômicas, os menores salários de contratação em maio foram em vagas em serviços domésticos, alojamento e alimentação e no comércio. Já as maiores remunerações iniciais foram pagas em ocupações em atividades financeiras, no setor de eletricidade e gás e em organismos internacionais.
Os salários iniciais também seguem menores que as remunerações médias dos profissionais que saíram das vagas. Em maio, o salário médio real dos trabalhadores demitidos foi de R$ 1.957. Ou seja, 3,15% acima do salário médio de contratação (R$ 1.898).
Juros e emprego
A expectativa dos economistas é de uma desaceleração do ritmo de criação de vagas de emprego em razão do aperto das condições monetárias e financeiras, em meio à alta da taxa básica de juros para tentar frear a inflação.
O Banco Central admitiu oficialmente que a meta de inflação será descumprida em 2022 pelo segundo ano seguido – a estimativa é que o IPCA feche o ano em 8,8%.
Diante desse cenário, é pouco provável uma inversão da rota de queda real dos salários de contratação no curto prazo.
“O desemprego está caindo, mas o nível de desocupação ainda é muito alto. Superar o sarrafo de uma inflação ainda perto dos dois dígitos, que tende a ser o cenário do final do ano, é difícil, o que faz com que seja pouco provável alcançar algum ganho real nos salários”, diz Bentes.
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