As denúncias de assédio sexual e moral por parte do agora ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, chocaram o país. Os relatos de dezenas de vítimas vieram à tona na última semana, e trouxeram à superfície o comportamento machista e misógino, e a postura coercitiva e agressiva do chefe de alto escalão do banco público. Tão grave quanto, é o fato de que o presidente Jair Bolsonaro, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, sabiam e silenciaram.
Conversamos com Ivânia Pereira, presidenta licenciada do Sindicato dos Bancários de Sergipe (SEEB/SE), vice-presidenta Nacional da CTB e diretora de Assuntos Socioeconômicos da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (Feebbase) e conselheira da CTB/SE. Atualmente licenciada de suas funções sindicais devido à pré-candidatura à deputada estadual. Para ela, este caso expõe também a violação de direitos e insalubridade no trabalho à que milhares de trabalhadoras são expostas diariamente, e não diz respeito apenas às altas executivas do banco.
“O assédio sexual sofrido pelas altas executivas, assessoras e demais empregadas da Caixa se tornou uma prática sistêmica na gestão de Pedro Guimarães, com o conhecimento do Presidente da República, Jair Bolsonaro, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que nada fizeram”, denunciou a dirigente sindical.
Ela conta que “o movimento sindical judicializou e exige imediata apuração dos crimes e punição dos infratores ao mesmo tempo que coloca como prioridade na mesa de negociação a pauta de Igualdade de Oportunidades”.
No entanto, Ivânia denuncia que esse tipo de violência não atinge só as altas executivas do banco, pelo contrário, é uma prática que todas as mulheres, de todas as instâncias e hierarquias conhecem e sofrem no dia-a-dia.
“As ameaças assediadoras tem sido rotina na vida das mulheres trabalhadoras quer seja nas empresas privadas quer nas empresas públicas.Em especial na CEF os trabalhadores e trabalhadoras sofrem com cobrança por metas desumanas, pressão severa por desempenho e produtividade, elevando os casos de assédio moral e aumentando o adoecimento dos bancários”.
Além do assédio moral e sexual, as trabalhadoras enfrentam um ambiente agressivo de trabalho, que afeta também a saúde mental. “As cobranças abusivas da atual gestão têm como pauta o terror, pânico e as constantes ameaças de descomissionamento. Não podemos admitir que o assédio seja tratado como um problema menor”, afirmou Ivânia.
“As denúncias não acontecem de agora. Foram inúmeros os relatos nos canais internos da instituição. Queremos apuração isenta e transparente de todos que cometeram os crimes. Quantos sabiam o que acontecia e não tomaram as decisões cabíveis?!”, cobrou a dirigente.
Mobilização e acolhimento
Quando há casos de violência, assédio sexual ou moral, ou abuso de autoridade nos ambientes de trabalho, sabe-se que há uma enorme barreira social e psicológica que a vítima enfrenta até que consiga denunciar o que sofreu. Não é um processo simples, por isso gerar um ambiente seguro e acolhedor é fundamental para receber as denúncias, e incentivar que nenhuma vítima se cale.
Segundo Ivânia, o sindicato está trabalhando de forma a gerar condições para o diálogo e acolhimento, e desenvolve ações que ajudam a disseminar informação e estratégia para o corpo de funcionários e funcionárias.
“Temos que intensificar as denúncias e a exigência das devidas apurações. O foco da nossa luta deve ser o respeito às mulheres, a equidade de condições no trabalho, a exigência de respeito e acolhimento às colegas denunciantes dos casos ocorridos na Caixa”, explicou.
Segundo Ivânia, a mobilização entre os bancários pode acontecer de diversas formas, garantindo a segurança e o acolhimento das trabalhadoras e trabalhadores. “Atos presenciais podem ser realizados nas unidades dos bancos, com prioridades às da Caixa, para diálogo com a categoria e a população local. Em cada região propomos o convite aos representantes de movimentos sociais locais, feministas e de direitos humanos, dentre outros, para potencialização das ações”.