Durante evento em Brasília na terça-feira (7), o presidente reagiu aos berros ao tomar conhecimento da decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, que manteve a cassação do deputado estadual bolsonarista Fernando Francischini (União-PR) por divulgação de fake news sobre as eleições de 2018. “Eu sou o chefe das Forças Armadas. Não vamos fazer o papel de idiotas”, esbravejou.
Ele teria ficado “transtornado” com mais um revés de bolsonarista no Supremo e a sinalização de que não poderá recorrer a Fake News na campánha. Mas há uma outro fator, certamente mais relevante, que está fazendo o líder da extrema direita perder o sono e as estribeiras: a ampla vantagem de Lula na corrida presidencial captada por todas as pesquisas.
Por sinal, uma nova pesquisa da Genial/Quaest, divulgada nesta quarta (8), deve ter azedado ainda mais o humor no Palácio do Planalto. Nela, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece à frente com nada menos que 46% das intenções de voto no primeiro turno, seguido por Bolsonaro com 30%. Depois vem Ciro Gomes (PDT), com 7%; André Janones (Avante) tem 2%; Simone Tebet (MDB) e Pablo Marçal (Pros), 1% cada. Se tal cenário prevalecer em outubro Lula ganha já no primeiro turno.
O desespero do líder da extrema direita é compreensível. Ele teme pelo que pode acontecer na Justiça com o presidente e com o Clã Bolsonaro caso ele perca a eleição em outubro. Esta é a opinião de ministros do STF ouvidos (em off) pela jornalista Andréia Sadi, da G1, cuja coluna sobre o tema segue abaixo.
O ataque de Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal na terça-feira (7) é atribuído por ministros da Corte a um desespero do presidente diante das pesquisas eleitorais que apontam vitória de Lula no primeiro turno – e ao temor do que pode acontecer na Justiça com o presidente e com a família dele caso ele perca a eleição em outubro.
“Transtornado” – palavra usada por seus próprios assessores -, Bolsonaro atacou o STF depois que a segunda turma derrubou uma liminar do ministro Nunes Marques que suspendeu a cassação do deputado Fernando Francischini por afirmar sem provas que as urnas eletrônicas foram fraudadas na eleição de 2018.
A derrota de Francischini na segunda turma era dada como certa. O parlamentar contava com 2 votos a favor – Nunes Marques e André Mendonça, o outro ministro indicado por Bolsonaro – e dois contra – Ricardo Lewandowski e Edson Fachin. O desempate ficaria com Gilmar Mendes, que já havia deixado claro a interlocutores que votaria pela manutenção da cassação do parlamentar.
A aposta num altamente improvável voto de Gilmar pró-Francischini e contra o TSE feita por Bolsonaro é outro dos sinais do desespero do presidente, avaliam ministros.
Mas a irritação do presidente não é, portanto, com o futuro de Francischini, um bolsonarista de primeira hora, e sim com a sinalização feita pelo STF nesse julgamento de que o Judiciário não vai tolerar o uso da desinformação na campanha eleitoral deste ano.
Não à toa, Bolsonaro voltou a repetir na quarta a ameaça de descumprir decisões judiciais – temendo principalmente que algum despacho venha a restringir a atuação dos bolsonaristas em plataformas como o Telegram, para a qual o presidente há meses tem tentado conduzir seguidores.
Diante de um cenário adverso nas pesquisas – há 20 dias o presidente vem dizendo a assessores e também a ministros do STF que não entende por que está atrás de Lula – e da ameaça de limitações à disseminação de desinformação, Bolsonaro passou a temer pelo futuro do filho, Carlos Bolsonaro, comandante da estratégia de marketing do presidente, caso ele deixe o Planalto em 2023.