Em seu segundo julgamento, o fazendeiro Antério Mânica foi condenado, no início da noite de sexta-feira (27), a 64 anos de prisão como um dos mandantes da chacina de Unaí, no Noroeste de Minas, quando três fiscais do trabalho e um motorista foram assassinados na zona rural há 18 anos. Inicialmente ele cumprirá a pena em regime fechado, mas poderá recorrer em liberdade. A participação de Antério Mânica no episódio começou a ser julgada na terça-feira, na Justiça Federal de Belo Horizonte. Dezenove testemunhas foram ouvidas.
Um dos maiores produtores de feijão do país e ex-prefeito de Unaí por dois mandatos, Antério Mânica é acusado pelo Ministério Público Federal como um dos mandantes dos quatro assassinatos ocorridos em 28 de janeiro de 2004 durante uma emboscada. Ele havia sido condenado a 100 anos de prisão, em novembro de 2015, pelo Tribunal do Júri da Justiça Federal de Minas Gerais, que o considerou culpado do crime triplamente qualificado por motivo torpe, mediante pagamento e sem possibilidade de defesa das vítimas.
Três anos depois, em novembro de 2018, ao analisar recurso interposto pela defesa do réu, a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) anulou a condenação e determinou a realização de novo julgamento por falta de provas.
“A sentença foi necessária. O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, juntamente com as famílias, está em vigília há 18 anos. São 18 anos de dor, de espera, de sofrimento pela condenação dos mandantes dos assassinatos do Nelson, do Eratóstenes, do João Batista e do Aílton. É importante que a sociedade seja vingada neste momento”, afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho, Bob Machado.
Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e o motorista Aílton Pereira de Oliveira foram assassinados quando trabalhavam na apuração de uma denúncia de trabalho escravo.
Os irmãos Antério e Norberto Mânica são acusados pelo Ministério Público Federal de serem os mandantes do crime. Norberto foi condenado a 100 anos de prisão em 2015. Os intermediários, segundo a acusação, eram os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro, que confessaram o crime e foram condenados. Os assassinos foram condenados em 2013, após estarem presos preventivamente. Rogério Alan pegou 94 anos de prisão; Erinaldo Silva, 76; e William Gomes, 56.
A princípio, o processo tinha nove acusados, mas Francisco Elder Pinheiro, apontado como responsável por ter contratado os matadores, morreu. Já Humberto Ribeiro dos Santos teve o crime prescrito e não foi a júri.