Foto: Anna Tarazevich/Pexels
Nos dias 24 e 25 de maio, a Professora Francisca, diretora da Secretaria de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), foi convidada a participar do Seminário Sofrimento Mental e Morte entre Trabalhadores – Transtornos Mentais e Suicídios Relacionados ao Trabalho, organizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A professora participou do Painel de Experiências, junto com representantes de trabalhadoras e trabalhadores de diversas categorias. Ela falou sobre as más condições, o assédio moral e a forte pressão pelo cumprimento de metas extorsivas, que levam ao adoecimento no ambiente de trabalho.
Destacou também os transtornos mentais e físicos que acometem as trabalhadoras e trabalhadores em educação da rede oficial de ensino do estado de São Paulo, que trabalham em péssimas condições, sofrendo assédio moral e cobranças inócuas pelo governo do estado. Enfrentam escolas sem estrutura suficiente para o processo de ensino e estão sujeitas a diversos tipos de violência.
O evento contou com a participação de grandes nomes da Academia e do mundo do trabalho, com destaque para o sociólogo francês Vincent de Gaulejac, diretor do Laboratório de Mudança Social, em Paris, e para um dos principais pensadores da sociologia do trabalho no Brasil, professor Ricardo Antunes. Além de representantes da USP, Unicamp, UFMG, UFA, Cerests, Dieese, Diesat e entidades representativas das trabalhadoras e trabalhadores e centrais sindicais.
Dados do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) mostram que, em 2020, foram registrados mais de 570 mil afastamentos por transtornos mentais no país, número 26% maior do que o registrado em 2019. No grupo de 468 doenças listadas pelo órgão estão incluídos transtornos como depressão, ansiedade, pânico, estresse pós-traumático, transtorno bipolar e fobia social.
A Professora Francisca abordou também os males causados pela pandemia e a necessidade de protocolos de proteção à vida. “Além do medo de serem contagiadas pela Covid, muitas pessoas perderam o emprego, tiveram seus contratos suspensos ou a jornada de trabalho e os salários reduzidos” e isso “agravou a situação”.
Ela destaca também, a adoção do trabalho remoto mal elaborado como agravante nas condições de trabalho dos profissionais da educação. “O trabalho remoto foi feito às pressas, sem preparo nenhum para os profissionais e sem levar em conta os estudantes com dificuldade de acesso à internet”. Tudo isso, “contribuiu para o esgotamento dos profissionais da educação, porque se viram sem condições de dar aula a todas as crianças e jovens”.
Mas, garante Professora Francisca, “a causa do adoecimento não pode ser atribuído à pandemia”, mas sim, “à gestão das empresas que não levam em conta a saúde das trabalhadoras e trabalhadores” e “pressionam por resultados, sem se importar com os cuidados necessários para uma vida saudável, inclusive com jornadas de trabalho compatíveis”.
Em primeiro lugar, diz “é fundamental reconhecer os transtornos mentais como doenças do trabalho, nesses casos . E trabalharmos para a criação de políticas públicas que visem a prevenção dessas doenças”.
Enfim, “a nossa luta é para termos condições de trabalho adequadas à saúde mental, emocional e psíquica das trabalhadoras e trabalhadores”. Porque “quem vive do trabalho precisa ter perspectivas de vida e não cuidar apenas da sobrevivência”, alega Professora Francisca.
Inclusive porque a concessão de aposentadorias por invalidez, em função de problemas mentais subiu de 241,9 mil para 291,3 mil de 2019 para 2020, segundo o MTP.
“O trabalho degradante com salários baixos, jornadas extorsivas e o assédio moral levam as pessoas ao desespero e até ao suicídio”, afirma. De acordo com a Associação Psiquiátrica da América Latina, no Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa tira a própria vida. E o suicídio é a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Para Professora Francisca, “é preciso cuidar da vida” e, para isso, “necessitamos do trabalho decente, com a garantia dos direitos trabalhistas e a uma vida digna. As pessoas que vivem do trabalho querem viver mais tempo com suas famílias”.