Por Lúcia Rodrigues, para Holofote
Os petroleiros acordaram mais tristes nesta quinta-feira, 26. Morreu aos 81 anos em decorrência da doença de Parkinson, Jacó Bittar, o petroleiro que liderou a primeira greve da categoria em 1983, em plena ditadura militar.
O movimento durou seis dias e reuniu trabalhadores da Replan, a Refinaria de Paulínia, na região de Campinas, no interior do Estado de São Paulo, onde ele trabalhava e presidia o sindicato que ajudara a fundar 10 anos antes, e petroleiros da RLAM, a Refinaria Landulpho Alves de Mataripe, na Bahia.
Foi o primeiro enfrentamento da categoria ao regime militar, recorda Demétrio Vilagra, ex-vice-prefeito de Campinas pelo PT e que à época era tesoureiro do Sindipetro comandado por Bittar.
A greve foi uma resposta às políticas do então ditador-presidente João Batista Figueiredo de corte de direitos dos trabalhadores das estatais.
A reação do governo foi feroz: colocou o aparato policial para reprimir os trabalhadores, demitiu petroleiros, além de cassar as diretorias dos dois sindicatos.
“Demitiram 153 trabalhadores e tivemos o salário cortado durante dois anos. Mas conseguimos a ajuda de sindicatos europeus. O Jacó Bittar era das Relações Internacionais da CUT”, recorda Vilagra.
A greve dos petroleiros antecedeu a primeira greve geral durante a ditadura, que ocorreu em 21 de julho e reuniu aproximadamente três milhões de trabalhadores de várias categorias. A CUT seria fundada na sequência, em 28 de agosto, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
“Recebemos a notícia de seu falecimento com grande tristeza. Sentimos muito sua morte. Ele deixa um grande legado na construção da consciência dos trabalhadores. Teve participação muito forte na construção do sindicalismo brasileiro”, ressalta.
Bittar foi fundador do PT e da CUT. Disputou duas vezes o Senado por São Paulo, em 1982 e 1986, mas não se elegeu.
Em 1988, seria eleito pelo partido prefeito de Campinas. Deixaria o PT em 1991, durante o mandato e ingressaria no PDT.
Permaneceu na legenda até 1994, quando entrou no PSB, onde esteve até sua morte.
O vice-prefeito de Campinas, Wandão de Almeida, companheiro de legenda de Bittar, também lamenta sua morte.
“Uma perda irreparável para Campinas, para o Estado e o país. Jacó Bittar foi uma liderança forjada no movimento sindical, mas transcendeu esse mundo.”
Wandão relembra que após a primeira derrota ao Senado, Bittar e Lula foram a Cuba.
“Em 1982 eles perdem a eleição e vão visitar o Fidel. Dizem que perderam a eleição (Lula perdeu para governador). E Fidel responde que não foi uma derrota, porque dois trabalhadores tiveram milhões de votos.”
O velório de Jacó Bittar ocorre das 11h30 às 15h30, no Cemitério da Saudade, próximo à Câmara Municipal de Campinas, no centro da cidade.
O sepultamento está marcado para às 16h30, no Cemitério de Sousas, também em Campinas.
Antes, às 14h, ocorreu uma missa de corpo presente. Segundo Priscila Bittar, filha de Jacó, as cerimônias são abertas ao público.