Estreia em breve o curta-metragem “O Menino da Moeda”, da cineasta Izah Neiva. O filme aborda a invisibilidade e a dura realidade das crianças que vivem nas ruas do Brasil. A crítica mordaz de Izah, no entanto, não romantiza, nem explora a imagem da pobreza. O filme que teve um trecho gravado na casa da CTB, a Casa da Classe Trabalhadora, em breve estará disponível para todo o Brasil.
Leia a crítica de Flávio Reis:
Indiferença social não é seleção, nem natural
Por: Flávio Reis
Em pouco mais de 23 minutos, com direção e roteiro de Izah Neiva , o curta metragem de 2022 “O Menino da Moeda” retrata como estamos nos sujeitando aos padrões individualistas e invisibilizando as dores alheias.
Há uma intensa sensação de desconforto, que parece macular com culpa nossa primeira impressão sobre o problema abordado. Acreditamos na luta por um mundo mais igualitário, e a indignação frente a injustiça tem unido pessoas com visões em comum. Mas o que estamos realmente fazendo para transformar o mundo?
Nos veículos e programas de notícias, obras de ficção e postagens na internet, expostos sem parar a opressões, sofrimento e injustiça, em quantidades cada vez maiores, nossa capacidade de indignação está ficando cada vez mais calejada.
No filme, a contadora Vera (vivida por Thais Cabral) está num momento caótico em sua vida. Junto com sua sócia Sonia (vivida por Izah Neiva), ela se equilibra na corda bamba dos limites, sejam os prazos no trabalho, vida financeira ou sufocamento existencial. Sua primeira opção foi se fechar para o mundo e adotar o perfil convencional de viver a própria vida, e estar cada vez mais a parte do mundo.
Apesar do começo com planos abertos e fotografia com baixo contraste, o filme tem uma atmosfera intensa, beirando a claustrofobia – complementando todas as dores sofridas pelos personagens principais.
E, quando um gesto de empatia infantil do garoto de rua Marcos Vinícius (vivido por Taylor Pretinho) acontece, coração e mente de Vera entram em sintonia, dissipando a nuvem de indiferença que tapa seus olhos.
É assim que Vera se despe da personagem social e se realinha a suas raízes étnicas. Essa nova e consciente Vera busca, de formas equivocadas, expiar a culpa por terceirizar sua indignação.
O filme termina com uma questão pertinente aos anos que vivemos: será que a melhor forma de lutar é se deparando abruptamente com emoções reprimidas e ignoradas? A população é reticente, o estado leniente e quem está na base da pirâmide segue ignorada ou esquecida. Logo, a resposta é pessoal e questão de consciência, ou falta dela.
Assista ao trailer:
Ficha técnica :
Direção e Roteiro : Izah Neiva
Produção Luciana Stipp,
Produção Executiva Izah Neiva e Luciana Stipp.
Direção de Fotografia:Guilherme Pacheco
Direção de Arte: Katia Ratnieks
Sound Designer Pier Valencise
Trilha Sonora: Kleber Martins.
Elenco : Thaís Cabral, Taylor Pretinho , Maria Clara, André Ramiro, Ana Medeiros , Izah Neiva e João Cândido
Flávio Reis é membro da APAN, bacharel em Cinema e Audiovisual, formado na UFRB, foi produtor, editor e design na Revista Cine Cachoeira e atualmente é roteirista iniciante.