Por Marcos Aurélio Ruy
O relatório anual Conflitos no Campo Brasil 2021, divulgado nesta segunda-feira (18), pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), traz um dado alarmante para as trabalhadoras e trabalhadores do campo. No ano passado ocorreram 1.768 conflitos por terra, água e direitos trabalhistas no meio rural brasileiro. Uma ligeira queda em relação a 2020, quando ocorreram 2.054 conflitos.
No entanto, a violência piorou com 35 assassinatos, entre lideranças sindicais, ambientalistas e indígenas. Houve um crescimento de 75% nessa modalidade de crime em relação a 2020, quando foram assassinadas 20 pessoas por conflitos no campo.
Segundo o relatório, “11 assassinatos, praticamente um terço, foram no estado de Rondônia, onde ocorreu, também, um massacre no mês de agosto, com três vítimas. Outro massacre foi registrado na região alta do rio Apiauí, em Mucajaí, sul de Roraima, com a morte de três indígenas Moxihatëtëa, que pertencem a um subgrupo Yanomami de denominação Yawaripë”.
Mas “já era de se esperar um resultado tão avassalador por causa do abandono de importantes políticas públicas em benefício da agricultura familiar e de pequenos agricultores por esse desgoverno”, explica Vânia Marques Pinto, secretária de Política Agrícola e Agrária da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e de Políticas Agrícolas da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).
A situação é tão grave que 49,49% dos conflitos por terra ocorreram na Amazônia Legal, como nota reportagem da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foram 641 conflitos por terra nessa região, além de 124 conflitos por água e 54 ocorrências de exploração de trabalho escravo, no ano passado.
Para Thaisa Daiane Silva, secretária-geral da Contag e secretária de Jovens e Políticas Sociais da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Mato Grosso do Sul (Fetagri-MS), “é necessário empoderar a luta pela reforma agrária principalmente para quem vive do trabalho no campo” para “termos terra para uma produção autossustentável e agroecológica”. Por isso, “precisamos organizar a vida no campo com escola, acesso à internet, saúde, esporte, cultura e respeito às trabalhadoras e trabalhadores”.
Essa é a 36ª edição do relatório e traz “dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro, bem como indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais do campo, das águas e das florestas”, informa texto da CPT.
Vânia destaca a importância de estudos como o Conflitos no Campo Brasil para “aprofundarmos o conhecimento sobre o campo brasileiro e com isso, combatermos a violência, os desmandos, o trabalho escravo”. Ao lembrar das dificuldades enfrentadas, ela argumenta sobre os projetos prejudicais como a “permissão da mineração em terras indígenas, a intenção em permitir compra de terras por estrangeiros, o uso indiscriminado de agrotóxicos e o total desrespeito às trabalhadoras e trabalhadores do campo por esse desgoverno”.
E Thaisa complementa ao afirmar a necessidade de acabar com “a grilagem de terras, garimpos ilegais, desmatamento, queimadas e tudo o que prejudica a produção agropecuária, as pessoas que vivem do trabalho e o meio ambiente”.