Por Marcos Aurélio Ruy (Foto: Rede Brasil Atual)
Para pensar a educação do campo, neste momento de pós-pandemia, pelo qual a classe trabalhadora enfrenta as consequências da falta de políticas públicas voltadas para a superação da crise com valorização do trabalho, “a educação do campo se revela um fator primordial para colaborar com a produção agropecuária e com a melhoria de vida da classe trabalhadora”, diz Thaisa Daiane Silva, secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).
Essa definição mostra a importância da escola do campo, abandonada pelo atual governo. De acordo com o Censo Escolar 2019, em 2018 existiam 5.195.387 alunos matriculados em escolas do campo no país. Esse número caiu para 5.050.154 em 2019. Antes da pandemia, portanto.
“Com a pandemia, a situação se agravou, principalmente com a intenção governamental de implantar o ensino a distância, sem levar em consideração a falta de acesso à internet e às novas tecnologias entre os mais vulneráveis”, argumenta Thaisa.
É que “atualmente é necessário promover o tensionamento sobre as discussões a respeito da educação do campo, no sentido que nos direcione a uma superação de concepções fundamentadas nas lógicas urbanocêntricas que estão presentes nos projetos de educação instituídos pelo Ministério da Educação”, afirma Charles Maycon de Almeida Mota, doutorando em Educação e Contemporaneidade pela Universidade Estadual da Bahia (Uneb).
Para ele, “isso se escancara com a estrutura apresentada nos livros didáticos como negação das áreas rurais por não trazerem discussões e propostas que contemplem a educação do campo. A partir disso, há uma negligenciação ao minimizar os marcos legais que instituem um movimento em defesa da educação do campo no Brasil”.
Como diz Thaisa, é com “uma educação de qualidade, que compreenda as especifidades das trabalhadoras e trabalhadores do campo, que contribua para a compreensão do Brasil e do mundo, que ajudará a manter a juventude trabalhadora no campo”.
Mas “há algum tempo vivenciamos o fechamento desenfreado de escolas em áreas rurais, promovendo o deslocamento de centenas de alunos de suas comunidades para escolas núcleos e escolas das cidades, desconsiderando o direito de crianças, jovens e adultos de estudarem em suas comunidades, sabendo que o nosso país é eminentemente constituído por uma grande parcela da população que habita as áreas rurais”, realça Charles.
O campo precisa de políticas específicas para evitar o esvaziamento e empoderar a produção de alimentos. “Investir nas escolas do campo é necessário para melhorar a produção agropecuária no país e valorizar a indústria agroecológica”, diz Jonas de Paula, secretário de Políticas Educacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Para ele, “investir em educação tanto no campo quanto na cidade significa investir no futuro”.
E para o país voltar a sonhar com um futuro de destaque no mundo e vida boa para a população brasileira, a secretária de Políticas Agrícolas da Contag e da CTB, Vânia Marques Pinto defende o retorno dos investimentos necessários para o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), entre diversas outras políticas públicas.
“O Pronera e várias outras políticas públicas foram abandonadas por este governo, que é contra a reforma agrária, em prejuízo às trabalhadoras e trabalhadores do campo”. Basta olhar o Censo Educacional, pelo qual existiam 137.599 estabelecimentos de ensino de educação básica no meio rural, caindo para 57.990 em 2018.
“Esse recuo é drástico para a vida no campo”, acentua Vânia. “Os candidatos à Presidência devem se ater à criação e recuperação de políticas públicas fundamentais para a educação do campo como instrumento de empoderamento”.
Charles argumenta que predomina desde o governo do presidente golpista Michel Temer, “a concepção de que as escolas da roça em sua configuração multisseriada se apresentam como um tumor na educação do país” e “os governantes vão produzindo discursos que deslegitimam a potência formativa das classes multisseriadas, promovendo proposições de oferecimento de educação de qualidade nas escolas da cidade pelas condições de estruturas física e pedagógica que prometem disponibilizar nessas escolas urbanas”.
Esse tipo de ação, “deixa de lado a valorização de uma educação inclusiva e integrada à comunidade escolar”, realça Vânia. Mas “se queremos que o país volte a crescer com combate às desigualdades, a educação do campo tem papel fundamental”.
De acordo com Jonas, a CTB defende “uma educação do campo que reforce o protagonismo dos povos do campo, inclusive, na formulação do projeto pedagógico”. Thaisa assinala a importância “de uma educação direcionada ao diálogo e aos saberes de todas as pessoas com respeito à diversidade”.