Secretário de Relações Internacionais do Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) destaca importância de “quebrar monopólio da mídia”
O secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nivaldo Santana, concedeu uma entrevista à Agência ComunicaSul para avaliar o cenário prévio às eleições na Colômbia, que serão realizadas em 29 de maio.
Nessa conversa, ele destaca “a importância da cobertura do jornalismo independente da ComunicaSul na Colômbia para quebrar o monopólio que visa implantar a ditadura do pensamento único da mídia sobre um país que tem uma base da Otan em seu território”.
Para Nivaldo, há a possibilidade real de vitória do candidato Gustavo Petro, do Pacto Histórico, e de que em 200 anos o país deixe de ser colônia, fortalecendo a integração latino-americana. “O movimento sindical brasileiro e as forças democráticas progressistas devem fazer todos os esforços no sentido de viabilizar e garantir a presença destes comunicadores, jornalistas e fotógrafos nesta cobertura”, concluiu.
A ComunicaSul está fazendo uma campanha de arrecadação de recursos para garantir a ida de jornalistas da imprensa alternativa do Brasil para cobrir as eleições no país vizinho. É possível contribuir com essa cobertura via PIX, no CNPJ da Papiro Produções: 10.511.324/0001-48.
Leia entrevista do dirigente da CTB ao jornalista Leonardo Wexell Severo, da ComunicaSul:
Ocorrerão eleições presidenciais na Colômbia no próximo dia 29 de maio e há uma grande perspectiva das forças progressistas saírem vencedoras. Na sua avaliação, qual é o significado que tem esta vitória?
Nivaldo Santana: A primeira questão para ser destacada é que a Colômbia é um país estratégico, o país mais violento da América do Sul, o segundo mais populoso, depois do Brasil, e o terceiro mais populoso de língua espanhola, depois de México e Espanha. Tem instalada, em seu território, uma base da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Tem grande importância política e econômica, além de relevância geopolítica, exercendo uma ação direta do imperialismo norte-americano na sustentação de sucessivos governos de extrema-direita.
A segunda questão é que a Colômbia tem um histórico, neste último século, de grandes confrontações políticas armadas. Nós tivemos, no fim do século 19, início do século 20, a chamada Guerra dos Mil Dias, que fez com que 2% da população perdesse a vida, segundo algumas avaliações, quando a Colômbia perdeu o Panamá por ação do imperialismo.
Na década de 1940, houve o período chamado La Violencia, com mais de 180 mil mortes. E na década de 1960 até 2000, houve uma grande confrontação entre a esquerda e grupos paramilitares de extrema-direita. Mesmo com o Acordo de Paz, assinado em 2016, a Colômbia segue sendo um país com um número alto de líderes políticos, sindicais e comunitários assassinados.
Essa eleição, num país que nunca teve um governo mais à esquerda no seu comando central, é bem difícil e não só do ponto de vista político-eleitoral. O fato é que a extrema-direita está fazendo de tudo, usando todos os recursos midiáticos e do Judiciário para tentar reverter o quadro desfavorável.
Assim, a própria candidata à vice-presidência pelo Pacto Histórico, Francia Marquez, advogada ambientalista, está sendo ameaçada de morte. Então essa eleição é chave.
Tivemos vitórias progressistas na Bolívia, com o retorno do Movimento Ao Socialismo (MAS), com Luis Arce; no Peru, com Pedro Castillo; em Honduras, com Xiomara Castro; e, mais recentemente, no Chile, com Gabriel Boric. Então uma vitória do campo progressista na Colômbia terá uma repercussão regional muito forte e vai ajudar a criar um bloco de países latino-americanos com maior afinidade política e potencial estratégico, de interesses comuns, sendo uma questão fundamental para o Brasil.
A Colômbia é hoje um verdadeiro barril de pólvora e, à medida que vai chegando a data da eleição, a temperatura se encontra em estado de ebulição.
Diante da manipulação midiática, um coletivo de comunicadores brasileiros decidiu viajar à Colômbia para mostrar a verdade dos fatos. Qual a importância disso?
A presença de um jornalismo independente acompanhando de perto as eleições colombianas tem um papel significativo. Porque você pode não ter condições de evitar golpes, manipulações e fraudes, mas sem dúvida nenhuma uma cobertura midiática mais ampla e multilateral contribui para quebrar o monopólio que visa implantar a ditadura do pensamento único.
Por isso o movimento sindical brasileiro e as forças democráticas progressistas devem fazer todos os esforços no sentido de viabilizar e garantir a presença destes comunicadores, jornalistas e fotógrafos nesta cobertura. A solidariedade internacional, o acompanhamento mais próximo, é um dos mais importantes antídotos para evitar uma possível puxada de tapete nas eleições.
O candidato oposicionista Gustavo Petro tem liderado as pesquisas. As recentes eleições para o Senado e para a Câmara baixa foram uma vitória do campo político progressista e de esquerda. Não há maioria, é uma eleição bastante polarizada, mas de qualquer forma depois dos grandes protestos do ano passado, da crise que o país está vivendo, as possibilidades de vitória são reais. Por isso, tudo o que pudermos fazer no sentido de contribuir para a lisura do processo eleitoral é algo fundamental.
A América Latina, e em particular a América do Sul, vive um ciclo de maior vocação progressista neste último período e acredito que, agora, uma vitória na Colômbia teria dois efeitos imediatos. O primeiro é construir um marco de países do nosso continente com maior integração do ponto de vista econômico, social e diplomático, e isso também nos fortalece na disputa política em curso no país.
E, guardadas as devidas proporções e respeitando as particularidades de cada país, o embate também é bem parecido: a luta para construir frentes políticas amplas para isolar e derrotar a extrema-direita e inaugurar um novo período. Acredito que a vitória de Gustavo Petro e de Francia Marques cumprirá um papel significativo na história dos nossos países e povos.