O arrocho salarial virou regra no Brasil sob o governo Jair Bolsonaro. Em praticamente metade dos reajustes negociados no Brasil em 2021, houve perdas para os trabalhadores. A variação real média dos salários foi de -0,86% – abaixo, portanto, da inflação.
É o que aponta o Dieese (Departamento Intersindical Estatística Estudos Socioeconômicos), com base nos dados do Mediador – ferramenta do Ministério do Trabalho e Previdência. Num ano marcado pelo repique da pandemia de Covid-19 no primeiro semestre, pela escalada da inflação e por um mercado de trabalho cada vez mais informal, salários e benefícios foram “achatados” Brasil afora.
Segundo o Dieese, 47,7% dos reajustes ficaram abaixo do INPC-IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 36,6% das negociações, houve a mera reposição da inflação sobre os salários. Apenas 15,8% dos salários tiveram ganhos reais (acima da inflação).
“É esperado que mais resultados de negociações de 2021 sejam inseridos na base de dados do Mediador”, explica o Dieese. Por isso, os números ainda podem mudar. Mas a tendência detectada é inconteste: “Na comparação com os anos anteriores, 2021 registrou a menor proporção de reajustes iguais ou acima do INPC-IBGE (52,3%). É notória também a piora gradativa dos resultados no período”.
Conforme a vacinação anti-Covid avançava e a pandemia refluía, os resultados passaram a ser melhores, em média, para os trabalhadores. “As negociações do segundo semestre de 2021 tiveram resultados mais satisfatórios”, indica o Dieese. “Esse comportamento pode ser atribuído a uma maior capacidade de negociação dos sindicatos no período, em cenário que era de forte redução nos indicadores da pandemia.”
O levantamento também mostra um volume maior de reajustes salarias efetivados em duas ou mais parcelas. “Com participação de pouco mais de 2%, nos dois primeiros meses do ano passado, o número de reajustes parcelados teve aumento de 11,3% na data-base março, atingindo 15,8% em outubro. Em novembro, alcançou 26,1%.” Segundo o Dieese, “entre 2018 e 2020, os percentuais de reajustes parcelados não ultrapassaram 3%”.