Em entrevista ao Hora do Povo, Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), contou que a central está ultimando os preparativos para o funcionamento de um cineclube na entidade, que passou a denominá-lo “Cineclube Sérgio Rubens – CTB”.
O objetivo é “dar consciência, por meio do audiovisual, formar politicamente, disputar a narrativa” para os acontecimentos mais significativos da história e provocar a reflexão ao público de trabalhadores. A ideia é a exibição de um filme por mês, com debates e palestras após a apresentação do longa-metragem.
Adilson conta, com emoção, sobre a participação de Sérgio Rubens na preparação “generosa e com conhecimento de causa” do projeto, do roteiro e da relação dos filmes e crítica. “Sérgio nos deixou e isso foi muito triste”, declarou o dirigente, afirmando que é compromisso da CTB levar adiante a iniciava.
Adilson iniciou a entrevista na dimensão da poesia, citando o poeta, romancista e dramaturgo Bertolt Brecht:
Não aceites o habitual como coisa natural,
Pois, em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada.
De arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada.
Nada deve parecer natural.
Nada de parecer impossível de mudar.
E continuou, contando que a ideia do cineclube na CTB foi uma iniciativa da diretora da central, Maria Pimentel, que, conversando com Sérgio Rubens, levantou a bola e ele disse: ‘Vamos entrar em campo’.
“Nossa ideia não é fazer mais do mesmo. O Cine Sérgio Rubens-CTB veio para mudar. Depois da exibição do filme, sempre um debate, um momento de reflexão. Sérgio Rubens nos disse: ‘A cada sessão, eu estou disposto a vir aqui dialogar com vocês’. O gesto, a grandeza, a gente não pode deixar isso se apagar. É uma luz que segue acesa. A gente tem que botar isso em andamento”, disse Adilson.
Segundo o presidente, será realizada uma oficina para discutir como vai funcionar o cineclube. “Já definimos uma meta que é um filme por mês. E, a partir da experiência da Umes e do roteiro, da carta de filmes que o Sérgio Rubens nos deixou, vamos dar vida ao Cineclube Sérgio Rubens-CTB”
Formação política
Adilson foi enfático: “Eu sou da opinião que o legado do Sérgio Rubens, seu trabalho e sua identidade com essa causa revelam a importância desse projeto. Com as obras à disposição e a constituição do cineclube, teremos um instrumento fundamental na conscientização e formação dos trabalhadores”. “Será uma ferramenta para ajudar na disputa ideológica e na disputa de narrativas dos acontecimentos. Isso valoriza o papel da central. A classe trabalhadora precisa se embriagar de política e o cinema cumpre esse papel”.
Por exemplo, falou o sindicalista: “O imperialismo americano vive uma grande decadência. Mas o modo de vida americano ainda é algo a ser sonhado pela população. Os impactos da tragédia do furacão Katrina naquele filme A Indomável Sonhadora, como os impactos que vivem hoje os aposentados e pensionistas no filme Nomadland, nos ajudam a compreender e a sentir isso”.
“Trazer a discussão do significado da revolução russa para os trabalhadores é outro exemplo, através do Lenin em Outubro”, disse Adilson. “O Exército Vermelho russo foi fundamental para livrar a humanidade do nazismo. Quão foi importante a Revolução de 1917 para a vida do povo? O quanto impactou do ponto de vista do progresso e do avanço social? Lembro que, quando eu era menino, assistia General Custer em conflito com os índios no filme do Rin TinTin, um Pastor Alemão. O grande herói era o General Custer. Não sobrou nenhum índio nos EUA”.
O legado de Sérgio Rubens
“Sérgio esteve de forma muito generosa em nossa sede. Ele contextualizava o quanto era importante a gente trabalhar essa perspectiva de fazer chegar aos trabalhadores a oportunidade de uma reflexão através do audiovisual. Ficamos aqui 4 horas e ele narrava cada filme com conhecimento de causa. Como se não bastasse tamanho contentamento, ele disse: ‘Meus amigos, eu não vou parar por aqui. Eu vou para casa e vou construir essa proposta’. E foi nominando os filmes e foi trazendo o resumo. A cada título, fazia uma leitura minuciosa acerca da importância e de quanto aquilo se relacionava com o cotidiano e com a subjetividade. Falava sobre a semiótica que estava ali sempre e sinalizava com uma perspectiva”, contou.
Adilson interrompeu-se: “É claro que não estava nos planos a perda do nosso grande líder Sérgio Rubens. Deixou-nos. É muita tristeza, minha, sua, de todos, muita tristeza”. Emocionado, disse: “Estive na despedida, em sua sepultura, e o registro, o compromisso da CTB em levar adiante essa proposta, foi feito lá”, concluiu.
Fonte: Hora do Povo