Derrotar Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 é a prioridade do movimento sindical neste ano de eleições gerais. Mas, segundo Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), é preciso viabilizar candidaturas do campo democrático e progressista também na disputa ao Congresso Nacional. Em sua opinião, um “programa de reconstrução” requer a participação dos trabalhadores.
“O governo Bolsonaro é o principal obstáculo a ser removido – não temos outro caminho para tirar o Brasil do atoleiro. Mas, nas outras batalhas eleitorais, temos de lançar e eleger candidatos do nosso campo, vinculados às lutas da classe trabalhadora”, afirmou Adilson. “Somente uma bancada expressiva com esse perfil vai responder às demandas dos trabalhadores.”
Para o presidente da CTB, a agenda unitária em 2022 deve ir além do 8 de Março, da Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora) e do 1º de Maio – Dia do Trabalhador: “Que o sindicalismo e os movimentos sociais construam grandes comitês de campanha em todo o Brasil. Em vez de ficar parado em frente à tela do computador, o candidato deve ir para o corpo a corpo, disputar o voto, estar presente nas ruas, no jogo de futebol, nas igrejas”.
Nesta quinta-feira (27), Adilson participou do painel “Lugar da Classe Trabalhadora na Reconstrução do Brasil e os Desafios para Derrotar o Bolsonarismo”. Parte da programação do Fórum Social das Resistências, a atividade contou com a participação do sociólogo Clemente Ganz Lúcio (Fórum das Centrais Sindicais) e do jornalista Altamiro Borges (Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé).
O dirigente cetebista lembrou que o “ciclo mudancista inaugurado por Lula” trouxe “mudanças de grande impacto” para o povo brasileiro. “Tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza. Trabalhadores tiveram uma década de ganho real. O consumo aumentou. Os pobres ocuparam as universidades, foram viajar”, exemplificou. “Mas tudo isso foi insuficiente para uma contraofensiva ao golpe de 2016.”
Adilson defendeu dois movimentos eleitorais simultâneos. Além de garantir candidaturas competitivas que realmente representem os trabalhadores, ele frisou a necessidade de “politizar” cada vez mais os brasileiros. A seu ver, a nova edição da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), prevista para abril, pode contribuir para a realização desses objetivos.
Adilson traçou um paralelo entre a primeira Conclat, em 1981, e a próxima. “Há 40 anos, o objetivo principal era ajudar pôr fim à ditadura e edificar um Estado de Bem-Estar Social, com conquistas para a classe trabalhadora. A retomada da democracia levou à conquista da “Constituição Cidadã” de 1988, que teve, entre outros avanços, o SUS (Sistema Único de Saúde)”, explicou.
Agora, com a convocação da Conclat 2022, a diretiva é “encontrar os caminhos possíveis para reconstruir o País” após os retrocessos acumulados desde o golpe. “Sofremos uma derrota estratégica, que impôs uma difícil correlação de forças – um quadro de defensiva. Mas temos dado passos importantes para a reconstrução do País”, diz Adilson.
Entre esses passos, ele destacou a provável formação de uma federação partidária que reúna PT, PSB, PCdoB e PV. “Para elaborar um projeto nacional de desenvolvimento, devemos ter muita unidade programática.” Ao mesmo tempo, sem amplitude, não se mudará a correlação de forças. “Debatemos, num seminário na Fundação Perseu Abramo, a contrarreforma trabalhista que ocorreu na Espanha. Um ministro do governo nos relatou que, além do compromisso do governo de coalização, também foi preciso construir uma maioria política.”
A América Latina é outra região que se levanta contra o neoliberalismo. “Essas últimas eleições, em países como Honduras, Chile e Peru, apontaram para um redesenho do continente. O Brasil vai seguir essa trilha”, disse o presidente da CTB. “No Brasil, quebra do monopólio das ruas, a partir de maio de 2021, com os atos da Campanha #ForaBolsonaro. Mas temos de apostar ainda mais na radicalidade consequente.”
Conforme estimativa do FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil deve crescer apenas 0,3% em 2022. Os defensores do ultraliberalismo continuarão a propagandear que “o custo da Constituição não cabe no orçamento da União” – uma lógica que, segundo Adilson, não pode prevalecer. “Como se não bastassem as contas da reforça trabalhista, da terceirização geral e irrestrita, da Emenda Constitucional 95 e da reforma da Previdência, o governo insistindo num programa de ‘simplificação e desburocratização’. Já são três anos que os trabalhadores perdem direitos e não tem ganhos.”
O que o governo Bolsonaro efetivamente quer – e já demonstrou por meio do Gaet (Grupo de Altos Estudos do Trabalho) – é avançar na precarização. “As propostas do Gaet, se aprovadas, vão legalizar o trabalho análogo à escravidão, liquidar a CLT e asfixiar totalmente o movimento sindical. Para lutar contra isso, temos que ampliar o leque de forças e alianças, caminhar juntos, fazer de tudo para evitar dispersão.”
Sobre a plataforma a ser construída rumo às eleições, Adilson elenca alguns pontos. “Nosso projeto nacional de desenvolvimento deve prever retomada dos investimentos públicos, geração de emprego e renda, enfrentamento à política de juros e inflação acelerada, combate à carestia e à alta do gás e do combustível. A ruptura é mais do que necessária.”