Enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) alerta para a falta de vacinas anti-Covid-19 em nações mais pobres do continente africano – onde só 9,4% da população recebeu ao menos uma dose –, Cuba, do outro lado Atlântico, virou referência no combate à pandemia. O país latino-americano já vacinou mais contra a Covid-19 do que grande parte dos países ricos.
Segundo a OMS, 93% dos cubanos já tomaram ao menos uma dose. Só os Emirados Árabes Unidos (99%) e Portugal (94%) têm índices de vacinação melhores do que a ilha caribenha. O êxito da campanha de vacinação em Cuba, que começou em maio de 2021, não foi uma surpresa para epidemiologistas. A prestigiada medicina geral e preventiva do país é destaque global.
Cuba investe desde março de 2020 no desenvolvimento de suas próprias vacinas anti-Covid. Hoje, três imunizantes da farmacêutica estatal BioCubaFarma são aplicados no país.
A BioCubaFarma realizou um estudo que indica que duas doses da Soberana 02 e uma dose de reforço da Soberana Plus garantem 92,4% de eficácia contra a Covid sintomática. Apenas as duas doses da Soberana 02 já oferecem eficácia de 71%, segundo a farmacêutica. A pesquisa foi publicada em 1º de novembro de 2021, no Medrxiv – portal vinculado à Universidade de Yale, em que são divulgados artigos científicos sobre a área da saúde.
O estudo é preliminar e ainda precisa ser validado pela comunidade científica internacional. Mas, em entrevista a jornalistas, em julho de 2021, Eduardo Martínez Díaz, presidente da BioCubaFarma, disse que a verificação da eficácia é resultado de “um processo rigoroso” de avaliação.
Mas como Cuba, um país pobre que enfrenta um criminoso bloqueio por parte dos Estados Unidos, conseguiu desenvolver com sucesso vacinas anti-Covid?
Quando estava no comando do país, o líder cubano Fidel Castro investiu não apenas na formação de médicos – mas também em biotecnologia. Além de representar um investimento no futuro, essa aposta visava driblar o bloqueio norte-americano. “Se surge um medicamento novo, nosso país não pode adquirir”, disse Castro em 1989, quando esteve no Brasil e visitou a sede da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Ao falar da vacinação infantil contra a Covid (Cuba está imunizando a população acima dos 2 anos), o Ministério da Saúde lembra tanto de Castro como do longo bloqueio. A única vacina aplicada em Cuba que não é desenvolvida no país é a Covilo, da Sinopharm. Com tecnologia diferente dos imunizantes cubanos, a vacina chinesa usa vírus inativado (como a CoronaVac) e já foi aprovada por 85 países, incluindo o Brasil – apesar de não ser usada por aqui.
Desde o início da campanha de imunização, a pandemia está mais controlada na ilha. Apesar de o número de casos ter aumentado com o surgimento da variante ômicron, está longe do que era em meados de 2021, pico da pandemia no país. Cuba registrou seu maior número de novos casos diários em 24 de agosto: 9.416. Até 19 de janeiro, a média de casos em sete dias era de 3.316,29, segundo o Our World in Data.
O mesmo ocorre com as mortes decorrentes do novo coronavírus. Em agosto do ano passado, o número de mortes diárias estava em torno de 80. Agora, raramente passa de dez.
Vacinação mundial
Hoje, 60,3% da população mundial recebeu ao menos uma dose de vacina anti-Covid. Segundo o Our World in Data, 9,82 bilhões de doses foram administradas globalmente e 28,77 milhões são aplicadas todos os dias. No entanto, a desigualdade vacinação é grande.
Cuba pode ter um papel importante para reduzir isso. Suas vacinas são desenvolvidas com a tecnologia de subunidade proteica, com fragmentos de proteínas do novo coronavírus criados para imitar a estrutura do vírus. O uso dessa tecnologia torna as vacinas mais baratas e fáceis de produzir em larga escala. Além disso, os imunizantes não requerem ultracongelamento.
A produção em larga escala pode ser um entrave para a exportação de vacinas. Ao falar com jornalistas em julho, o presidente da BioCubaFarma citou dificuldades em comprar insumos devido às sanções. “Continuamos a fabricar, mas se não fossem estes entraves, a disponibilidade de doses de vacinas seria maior”, falou Díaz.
O governo cubano se mostrou disposto a negociar a quebra de patentes das vacinas, ao contrário de outros governos e empresas farmacêuticas. O tema é alvo de apelos constantes da OMS e de outras entidades internacionais. Para exportar as vacinas, o país aguarda a liberação dos seus imunizantes pela OMS. Dados de ensaios clínicos ainda precisam passar por revisão científica internacional.
Com informações do Poder360