O sindicalismo classista se despede hoje (19/1) de Vital Nolasco, um operário metalúrgico que se tornou grande referência sindical para as nossas gerações. Em quase 55 anos de vida pública, Vital participou de momentos marcantes do movimento sindical, especialmente na resistência ao regime militar (1964-1985).
A ditadura, imposta criminosamente pelo Golpe de 64, traiu o Brasil, torturou gente do povo, perseguiu lideranças e sindicatos. Nas entidades, militares nomeavam sindicalistas “pelegos” como interventores. O regime foi responsável pela morte ou desaparecimento de ao menos 114 trabalhadores e trabalhadoras, sendo 35 sindicalistas, conforme a Comissão Nacional da Verdade.
Foi contra esse criminoso regime de arbítrio e terror que Vital fez, ainda jovem, a opção de lutar. Com apenas 21 anos, participou ativamente das duas greves dos metalúrgicos de Contagem, em 1968. Eleito para a direção nacional da JOC (Juventude Operária Católica), foi também dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de BH/Contagem.
“Marcado para morrer” em Minas Gerais, deslocou-se para São Paulo, onde viveu parte da década de 1970 na clandestinidade. Aderiu ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil), que, na época, liderava a Guerrilha do Araguaia. Naquela década, trabalhou em mais de uma dezena de empregos – em São Paulo e Osasco. O mais longevo foi como eletricista de manutenção na Philco. Em 1974, foi preso e barbaramente torturado nos porões da ditadura, sem entregar nenhum companheiro.
Com a abertura “lenta, gradual e segura”, retomou a militância, dividindo-se entre partido, sindicalismo e movimento comunitário. Contribuiu para o Movimento contra o Custo de Vida (depois renomeado Movimento contra a Carestia). Em 1979, numa assembleia no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, discursou para mais de 80 mil metalúrgicos em nome do movimento.
Uma vez na Metal Leve, na virada para os anos 1980, passa a integrar a oposição no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. É um dos fundadores e o primeiro presidente tanto do Centro de Cultura Operária (CCO, criado em 1980) quanto do Centro de Estudos Sindicais (CES, de 1985). Entre uma tarefa e outra, é eleito para a direção do sindicato em 1984 e exerce o cargo de 2º secretário até 1987.
Disputa quatro eleições parlamentares entre 1988 e 1998, assumindo como vereador de São Paulo por dois mandatos (1989-1996). Uma de suas primeiras iniciativas é propor a criação de um “passe livre” para trabalhadores desempregados. Entre 1997 e 2021, ocupa tarefas no PCdoB, incluindo secretário nacional de Movimentos Populares e Sociais e secretário municipal de Movimento Sindical.
Em 2007, mesmo aposentado das fábricas, já sem atribuições no movimento sindical, fez questão de ir de São Paulo até Belo Horizonte, sua cidade natal, para acompanhar o Congresso de Fundação da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). Nos anos seguintes, foi um entusiasta da criação e da atuação da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil).
Homenageado pelo PCdoB em 2014, evocou a luta de Santo Dias da Silva, operário e líder sindical que foi assassinado com um tiro pelas costas, disparado por um policial militar, durante piquete numa fábrica. O cortejo do corpo de Santo Dias reuniu 30 mil pessoas. Em 2016, ao lançar sua biografia (Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar), dedicou o livro, entre outras pessoas, “aos companheiros da Juventude Operária Católica” e “trabalhadores de Belo Horizonte, Contagem, Betim, Osasco e São Paulo”.
Vital Nolasco foi um operário e um sindicalista exemplar porque sempre lutou em defesa dos trabalhadores e das trabalhadoras, do sindicalismo classista e do Brasil. Ao falecer, deixa-nos, além da saudade, um sem-número de ensinamentos do que fazer para emancipar a classe trabalhadora e transformar a sociedade no rumo do socialismo.
“Vale a pena lutar” eternamente como Vital!!
- Adilson Araújo, presidente da CTB
- Marcelino da Rocha, presidente da Fitmetal