Não restam dúvidas de que 2021 foi um ano crítico para a sociedade brasileira e especialmente para nossa classe trabalhadora. As estatísticas econômicas e sociais retratam uma triste realidade.
A pandemia da Covid-19, estimulada pelo negacionismo criminoso de Jair Bolsonaro, já causou cerca de 620 mil mortes. Chegamos ao mês de dezembro e o líder neofascista – que não se emenda – continua disseminando fake news contra a vacina, esbravejando contra o uso de máscaras, combatendo e sabotando todo tipo de iniciativa que tem por objetivo conter a expansão do vírus, como o “passaporte da vacina”.
Fome, arrocho, desemprego e estagflação
A fome apavora e atormenta milhões de lares. Estima-se que 20 milhões de brasileiros e brasileiras estão passando fome. Já o número dos que vivem em condição de insegurança alimentar sobe a 116 milhões.
A inflação avança e deve fechar 2021 acima de 10%, com a perversa particularidade de que é maior para os pobres em função do aumento de preços administrados pelo governo (como combustíveis e energia), assim como dos alimentos. A carestia arrocha os salários. Em outubro, 65% das negociações salariais acompanhadas pelo Dieese foram encerradas com reajustes abaixo do INPC, o que significa redução do valor real dos salários.
Mais de 30 milhões sofrem com o flagelo do desemprego, do desalento ou da subocupação. Embora a taxa de desemprego tenha recuado ligeiramente nos últimos meses, a situação do mercado de trabalho continua dramática.
O PIB caiu nos dois últimos trimestres analisados pelo IBGE, o que configura recessão. O processo de desindustrialização e desnacionalização da economia foi acelerado pela crise e pela política econômica entreguista e privatista liderada pelo rentista Paulo Guedes. A combinação explosiva e inusual de inflação e recessão configuram o pesadelo que os economistas designam de “estagflação”.
Ataques ao sindicalismo
O governo da extrema-direita intensificou a ofensiva contra o Direito do Trabalho e a organização sindical. No dia 10 de novembro, publicou o Decreto 10.854. Na sequência, o Grupo de Altos Estudos do Trabalho (Gaet), criado e selecionado por Bolsonaro, divulgou uma proposta de mudanças na legislação trabalhista e sindical.
As duas iniciativas visam destruir direitos e enfraquecer e pulverizar o movimento sindical, acabando inclusive com a unicidade sindical.
A política contra o meio ambiente foi (e é) um desastre internacional, motivo de isolamento e vergonha para a nação brasileira. As investidas contra o Estado Democrático de Direita são recorrentes, culminando na empreitada golpista fracassada em 7 de setembro.
O “Diário de Ataques” da plataforma do Pacto pela Democracia – que mapeia e contabiliza ameaças ao Estado de Direito – registrou quase 60 ataques em 2021. Os alvos foram cientistas, jornalistas, representantes de organizações da sociedade civil, ativistas, artistas, lideranças indígenas, políticos, entre muitos outros.
Resistência e luta
Em unidade com as outras centrais sindicais, os movimentos sociais e as forças progressistas do País, a CTB resistiu e resiste, lutou e luta de forma enérgica em defesa da democracia e dos direitos do povo e da classe trabalhadora. Apesar das adversidades, colheu resultados positivos e encerra o ano mais forte do que nele entrou, celebrando nos seus 14 anos de existência a unificação com a CGTB.
Entre os destaques da luta da CTB, das centrais, dos movimentos sociais e das organizações democráticas e progressistas ao longo do ano, cumpre destacar:
O 1º de Maio unificado promovido pelas centrais em formato online, que contou com a presença virtual dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso; Foi a tradução do esforço do movimento sindical brasileiro pela construção de uma frente ampla contra o risco neofascista encarnado em Bolsonaro que vai ter reflexos nas eleições de 2022.
A campanha Fora Bolsonaro ganhou grande impulso após as grandes manifestações que reuniram centenas de milhares de pessoas no país no dia 29 de maio, surpreendendo as lideranças. Outros atos massivos foram realizados na sequência e muito contribuíram para a conscientização do povo brasileiro e a crescente desmoralização do líder da extrema-direita, que chega ao final do ano desaprovado e repudiado pela maioria do nosso povo. As últimas pesquisas eleitorais, divulgadas em dezembro pelos institutos Datafolha e Ipec, indicam que Lula seria eleito presidente já no primeiro turno se o pleito fosse realizado hoje.
Realizamos uma campanha nacional pela vacinação urgente de todo o povo brasileiro – pressão que, associada ao profícuo trabalho da CPI da Covid, deu resultado. Hoje, mais de 66% da população está imunizada, apesar do negacionismo do governo e da deslavada corrupção no Ministério da Saúde.
Nossa luta derrotou a MP 905, pela qual Bolsonaro pretendia implantar a chamada carteira verde e amarela, que previa contratos à margem das garantias trabalhistas consagradas na CLT.
A PEC 32 – que retira direitos dos servidores e amplia a terceirização e privatização dos serviços públicos – não foi votada neste ano devido à forte mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras do setor público com apoio da CTB e outras centrais.
O projeto que revoga a Lei de Segurança Nacional e institui dispositivos no Código Penal contra ataques às instituições democráticas foi aprovado, graças a uma forte articulação que envolveu diversas organizações da sociedade civil, ativistas e movimentos sociais.
O Fórum das Centrais acatou a sugestão da CTB de realizar uma Conferência Nacional da Classe Trabalhadora em abril de 2022. O objetivo é elaborar um documento traduzindo a Agenda da Classe Trabalhadora para 2022, a ser encaminhada aos presidenciáveis.
Lutamos pelo auxílio emergencial de R$ 600, mas o governo sequer renovou o benefício que resgatou da fome dezenas de milhões de brasileiros. De olho nas eleições presidenciais, o presidente promete instituir o chamado Auxílio Brasil, com um benefício de menor valor, equivalente a R$ 400.
Unificação com a CGTB
Acontecimento de grande relevância na história da nossa central classista foi a realização, nos dias 12 a 14 de agosto, do 5º Congresso da CTB. Foi precedida de uma tragédia, a morte do companheiro Wagner Gomes dois dias antes de sua abertura, perda que se somou à do falecimento de vários dirigentes e combatentes do nosso povo.
Mas o 5º Congresso foi também um momento de celebração, confraternização e avanço. Nele celebramos a unificação CTB-CGTB, que fortalece o sindicalismo classista para as batalhas decisivas que estão inscritas no calendário do Ano Novo e sinaliza a necessidade (que cobra urgência diante da crise) de uma unificação mais ampla do movimento sindical brasileiro.
Estamos mais fortes e energizados para as batalhas decisivas de 2022. Vamos esperançar o Brasil pela vida, democracia, soberania e direitos. Vamos derrotar Jair Bolsonaro e a ameaça fascista. Vamos resgatar um projeto de desenvolvimento nacional centrado na valorização da classe trabalhadora.
* Adilson Araújo é presidente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)