“O Brasil assiste a um filme de horror no qual os protagonistas são a carestia, o desemprego e a fome”, afirma o presidente da CTB São Paulo, Rene Vicente, em entrevista ao Portal CTB. Ao fazer balanço das principais lutas da central em 2021, o dirigente avalia que o ano foi de “extrema dificuldade”, com brutal ataque aos direitos, no qual “a fome explodiu e o retrato dos grandes centros urbanos, de norte a sul do país, é aterrorizador”.
Rene também é diretor de Imprensa e Comunicação do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo), além de vice-presidente nacional da CTB.
Confira a íntegra da entrevista:
Portal CTB: Quais as principais lutas travadas pela CTB São Paulo em 2021?
Rene Vicente: Duas frentes de ação que deram o tom da nossa luta em 2021: uma contra o Projeto de Lei Complementar (PLC) 26, que infelizmente foi aprovado; e outra contra a privatização do saneamento. Ambas lideradas pelo governador João Doria e que não fogem da cartilha de Jair Bolsonaro. Mesmo em meio à mais grave crise sanitária já vista no País, a CTB São Paulo não se furtou da batalha e, ao lado dos servidores públicos, atuou firme para denunciar a agenda privatista de Doria e defender os direitos da categoria e de toda a sociedade.
No caso da Sabesp, nossa defesa vem de longe. O governo de São Paulo tem demonstrado, diuturnamente, através da Secretaria da Fazenda e de seus lobistas, a intenção de vender a Sabesp, de entregar esse bem precioso que é nossa água de bandeja para o mercado, que a usará para um único fim: ampliar seus lucros. Uma ação que viola direitos e prejudicará, se for vitoriosa, a população mais vulnerável.
A CTB São Paulo e o Sintaema estão dialogando com a população, as câmaras municipais e os prefeitos, para ampliar uma frente contrária a essa investida do governo tucano. Para tanto, nosso trabalho tem sido o de demonstrar quais serão as consequências caso a Sabesp seja vendida, quais serão os prejuízos e quais serão os riscos que os municípios, em especial os menores, correm com a privatização do saneamento. Uma estratégia pensada pelo Sintaema e apoiada por nossa central.
Portal CTB: Além das lutas no estado, a CTB São Paulo também atuou firme na luta contra o SampaPrev. Como você avalia essa pauta?
Rene Vicente: Esse foi mais um retrocesso liderado Prefeitura de São Paulo – primeiro com João Doria, depois com Bruno Covas e agora com Ricardo Nunes. Unificamos diversos movimentos e as centrais, além de um aguerrido sindicato de nossa base, o Sedin (Sindicato dos Educadores da Infância) da rede municipal. Empreendemos uma forte investida contra a gestão municipal em defesa da Educação, dos servidores públicos e contra o SampaPrev, uma afronta aos servidores que acaba com sua aposentadoria. A CTB São Paulo esteve junto com o Sedin e demais sindicatos e associações contra essa nefasta proposta que destrói direitos e compõe o pacote neoliberal do atual governo.
Portal CTB: A CTB São Paulo também se destacou na luta contra a PEC 32. Pode comentar?
Rene Vicente: Sim. Não bastassem todos os ataques deste governo genocida, a necropolítica, a negação da ciência, a falta de projeto, o desemprego e muitos outros retrocessos que o Brasil coleciona desde 2019, Jair Bolsonaro vem com a PEC 32, a famigerada reforma administrativa. Nossa central tem atuado junto às demais centrais contra mais esse ataque.
Graças à ação das centrais sindicais, associada a ações junto ao Parlamento, conseguimos barrar até o presente momento essa PEC. E isso é uma vitória importantíssima do movimento sindical. Em 2022, seguiremos firmes contra a agenda do governo Bolsonaro.
Portal CTB: As centrais convocaram uma nova Conclat. O que podemos esperar?
Rene Vicente: O ano de 2021 foi um ano de extrema dificuldade para a classe trabalhadora. A fome avança de maneira brutal e o retrato dos grandes centros urbanos, de norte a sul do país, é aterrorizador. O Brasil assiste a um filme de horror no qual os protagonistas são a carestia, o desemprego e fome.
Vivemos em uma país que conta com mais de 13 milhões de desempregados, mais de 5 milhões de desalentados. Ou seja, cerca de 19 milhões de brasileiros que estão fora do mercado de trabalho formal. Isso sem contar a informalidade – o trabalho por conta própria. Um absurdo.
Diante desse cenário, o balanço que a CTB São Paulo faz é que foi um ano de luta importante, no sentido de manter sua posição em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento e contra essa realidade. Creio que esse seja o ponto principal e foi a partir dele que, na reta final de 2021, a CTB e as demais centrais sindicais apontaram para a realização de mais uma Conclat, em abril.
A Conclat 2022 vai aglutinar pontos importantes que as centrais sindicais vão desenvolver em um documento que será entregue a todos os candidatos à Presidência da República. A CTB vai trabalhar para que essa plataforma traga como mote “a retomada do crescimento econômico, a valorização do trabalho e a distribuição de renda”, para que a gente possa tirar o País dessa condição de miserabilidade. A Conclat será um momento importante de unidade das centrais sindicais em prol de um novo rumo para o País – e que terá como centro a retomada dos direitos trabalhistas e sociais.
Portal CTB: E para 2020, o que espera a CTB São Paulo?
Rene Vicente: Creio que todas essas lutas pavimentam a base da CTB para se fortalecer mesmo em tempos tão difíceis. Nossa central avança mesmo nos sindicatos que não lidera, através de núcleos bem organizados e preparados para defender um sindicalismo classista, base fundamental da nossa central.
É como diz o grande poeta Milton Nascimento: “Se vale o já feito, mas vale o que será”. Só com luta mudaremos o cenário de horror que tomou conta do Brasil e retomaremos um ciclo de esperança e de retomada de direitos que nos foi roubado com o golpe de 2016.