O Brasil precisa outa vez da classe trabalhadora para superar a crise, disse o ex-presidente Lula no encerramento do congresso da Força Sindical nesta quarta-feira (8) em São Paulo, quando também reiterou uma autocrítica sobre a estrutura sindical brasileira e Getúlio Vargas
O líder do PT, que goza de extraordinário apoio entre os sindicalistas, valorizou a unidade do movimento sindical brasileiro observando que “sozinhos não somos nada, mas juntos somos fortes”.
Dinheiro para o pobre e Estado forte
Apesar da crise sem precedentes em que está atolado, o Brasil tem jeito, afirma Lula. A solução, segundo ele, é colocar mais dinheiro no bolso do pobre, o que significa valorizar os salários, a começar pelo mínimo, como foi feito em seu governo.
Isto implica também em ter um Estado forte. “Aqui no Brasil prevalece a ideia de que o Estado deve ser fraco porque é fonte de corrupção e ineficiência, como se os empresários fossem todos honestos. Pelo contrário, o Estado tem de ser forte, pois quanto mais fraco for o Estado mais o trabalhador vai perder”, salientou.
Autocrítica sobre Getúlio Vargas
O líder petista também reiterou sua autocrítica em relação a concepções históricas equivocadas que foram defendidas pela PT e a CUT sobre a estrutura sindical brasileira, a legislação trabalhista e o ex-presidente Getúlio Vargas.
“Quero fazer um parênteses para lembrar a minha formação sindical. A gente surgiu no movimento lutando contra a estrutura sindical brasileira”, relatou. “Nós tínhamos orgulho de dizer que éramos contra a estrutura sindical porque era uma cópia fiel da Carta del lavoro de Mussolini, portanto nós éramos contra Getúlio Vargas, fazíamos oposição a ele por conta desta estrutura sindical”
“Passados todos esses anos eu refiz a minha história e hoje eu sou obrigado a dizer que foi graças a Getúlio Vargas que nós temos o salário mínimo desde 1939”, reconheceu. “Foi graças a ele que nós tivermos a construção da Consolidação das Leis Trabalhistas em 1943, a CLT que, desde aquele momento, tirou o trabalhador da condição de semiescravidão para dar a ele direitos”.
Lula não poupou críticas à hostilidade histórica do empresariado brasileiro a direitos e conquistas da classe trabalhadora. “É importante lembrar que na Assembleia Nacional Constituinte de 1946 a Fiesp aqui de São Paulo e os empresários brasileiros achavam que não podiam dar 30 dias de férias para os trabalhadores porque eles não saberiam lidar com a ociosidade e ficariam bebendo”, sublinhou.
“Mas nós conquistamos os 30 dias de férias. Eles nunca quiseram dar 13º para nós. Tudo que conquistamos foi na luta, na porrada. Para os empresários tudo que os trabalhadores ganham é Custo Brasil. Nada nos foi dado de graça, sempre foi com muita luta.
“E eles agora estão tirando tudo aquilo que conquistamos na luta e parece que perdemos a capacidade de nos indignar. Querem destruir a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho. Querem mudar outra vez a legislação para dizer que trabalhador de aplicativo nunca poderá gozar dos direitos da CLT. Nosso Congresso não tem sensibilidade para o povo, é composto em sua maioria por gente que nunca precisou procurar emprego”, denunciou.
Lula cobrou maior ousadia do movimento sindical na luta e lembrou que se os trabalhadores não se interessam pelo seu sindicato este sindicato não tem razão para existir, de forma que é preciso reconquistar a confiança da classe trabalhadora em sua organização.
“Temos que nos indignar e demonstrar com maior energia nossa indignação. Temos um presidente genocida que conta cinco mentiras por dia, 19 milhões de pessoas passando fome e 116 milhões em condição de insegurança alimentar. Nós estamos entrando numa luta que será decisiva para o povo brasileiro e não será uma luta fácil, mas quero chamar a atenção para o fato de que a única luta que perdemos é a que não lutamos. Não podemos desistir nem desanimar. Este país precisa outra vez da classe trabalhadora”, arrematou.