Por Altamiro Borges
O general “gagá” Augusto Heleno, aquele do sambinha na convenção do PSL em 2018 que homologou a candidatura de Jair Bolsonaro – “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão” – deve estar magoado com a ex-comparsa Sara Winter. Em entrevista exclusiva à revista IstoÉ, ela conta como o atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) orientou um grupelho terrorista, de dentro do Palácio do Planalto, a atacar o Supremo Tribunal Federal: “Ele pediu para deixar de bater na imprensa e no Maia [ex-presidente da Câmara Federal] e redirecionar todos os esforços contra o STF”.
Na reportagem intitulada “Sara Winter um arquivo vivo”, a ex-bolsonarista dá detalhes sobre o chamado “Acampamento dos 300”, um grupelho instalado em maio de 2020 em Brasília. Além do general – um desastre como comandante –, ela afirma que os deputados federais Daniel Silveira, Carla Zambelli, Sargento Fahur e Bia Kicis também foram muito ativos na organização das provocações antidemocráticas.
Os papéis de Carla Zambelli e Bia Kicis
“A deputada Carla Zambelli era quem participava com maior frequência e passava mais informações sobre a repercussão do acampamento… Por sua vez, a deputada Bia Kicis tinha o papel de ajudar na organização. ‘Ela ensinou a gente como chamar atenção da imprensa’, afirma Sara. A estrutura ficou a cargo de Bia Kicis: ‘Ela cedeu o assessor Evandro Araújo e colocou um advogado de seu gabinete para acompanhar reuniões com a Secretaria de Segurança do Distrito Federal’. Isso garantiu que a iniciativa continuasse por quase um mês”.
Ainda segundo seu relato, “a influência de Bolsonaro sobre o grupo era direta. Durante o acampamento foi combinado que o presidente não podia ser o ‘protagonista para não sofrer represálias’”. A revista observa que Sara Winter é muito cuidadosa ao falar sobre Damares Alves – a “Damares da Goiabeira” –, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. “Pesam as relações pessoais. Ambas são de São Carlos. Sara diz que as famílias se conhecem e chegou a existir um ‘intercâmbio de filhas’. A ativista morou com Damares e era comum a filha da ministra ficar na casa da mãe de Sara”.
Tem medo das milícias bolsonaristas
“Sara fez questão de não responder algumas perguntas. Sobre o possível envolvimento do presidente e seus filhos com milícias, ela explica que, se há alguma coisa para ser descoberta, o fio da meada está na Assembleia do Rio de Janeiro: ‘Esse tipo de assunto nunca chega a militantes como eu’. Sobre como é dirigida a milícia digital, conta que depois que saiu da bolha bolsonarista percebeu que suas mídias perderam a força. Mas sabe que o boato mais comum é que deputados utilizem as emendas em esquemas para criar perfis falsos, especialmente nesse momento. ‘Ainda tem gente ganhando muito dinheiro com isso’, admite”.
Ao final da reportagem, a ex-terroristinha afirma ter muito medo das milícias bolsonaristas. Ela relata que os seguidores do presidente são fanáticos e perigosos. “Não tem mais como defender Bolsonaro. Mas se ele pedir para os bolsonaristas comerem merda, as pessoas vão comer”, garante com conhecimento de causa. Ela afirma que certos assuntos irritam as neofascistas. “Rachadinhas e milícias são tipos de assuntos proibidos”.
Ela aponta dois filhos do presidente – Carluxo Bolsonaro e Dudu Bananinha – como os cães de guarda do capitão. “Quem tem destaque na direita, eles cooptam ou destroem”, afirma. “Os olhos de Sara saltam para falar do sentimento que têm em relação a sua segurança. Ela afirma que o Brasil não é seguro para continuar morando. O medo vem de todo lado… ‘Em janeiro eu anunciei que eu ia contar tudo que eu sabia sobre o bolsonarismo. O Planalto surtou e fez uma reunião ministerial’”. Sara Winter planeja ir com o filho morar no México em breve
Charge: Gilmar