Por Professora Francisca (Arte de Francisco Daniel)
O sistema republicano completa 132 anos nesta segunda-feira (15) e a classe trabalhadora brasileira mais uma vez sente sobre os seus ombros a necessidade de resistir à opressão e defender seu direito ao trabalho decente e a uma vida digna.
A República já começou com um golpe de Estado contra Dom Pedro II, sepultando o Império, que já durava 69 anos e capengava diante de diversas revoltas populares contra o sistema, como mostra José Carlos Ruy (1950-2021) em seu artigo “As lutas do povo brasileiro”, de 10 de setembro de 2020.
“A história das lutas sociais no Brasil demonstra de forma inequívoca a falsidade das teses que atribuem ao povo brasileiro uma “índole pacífica”. Como todos os povos, de todos os lugares, o povo brasileiro defendeu-se, muitas vezes de armas na mão, contra os opressores”, afirma o jornalista e historiador comunista.
Cheio de razão, ele conta que em toda a nossa história as classes populares se levantaram para defender os seus direitos. Da resistência dos povos indígenas aos invasores portugueses, passando pelas intensas lutas desenvolvidas pelos africanos escravizados pelo fim do sistema escravista até as lutas contemporâneas pela construção de uma civilização baseada no respeito à vida, à cultura e à ciência.
As lutas sociais nunca cessaram no país. Os ares da democracia e da liberdade, porém, respiramos pouquíssimas vezes. E sempre que a vida em liberdade empurra a sociedade para avanços importantes para o desenvolvimento do país com soberania e justiça social, os diferentes setores da elite se unem e golpeiam a democracia por seus interesses mesquinhos, antinacionais e contra o povo brasileiro.
Já no Brasil colônia as forças bélicas foram ostensivas para destruir a resistência dos povos originários à invasão de suas terras, aos negros africanos na constante luta por liberdade e à classe trabalhadora na sua insistência em construir o mundo novo, onde prevaleça a voz da igualdade, da liberdade e do respeito.
Ainda hoje sentimos os versos “comida, diversão e arte e saída para qualquer parte”, dos Titãs, como um lema em defesa de nossos direitos atacados de modo contumaz pelo atual ocupante do Palácio do Planalto.
Consciência Negra
No Mês da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi, principal líder do quilombo mais conhecido de nossa história, o de Palmares, exterminado em 1695 pelo bandeirante Domingos Jorge Velho (1641-1705).
A data da morte de Zumbi – 20 de novembro – se transformou no Dia Nacional da Consciência Negra para reverenciar a luta de todos os seres humanos escravizados pro quase 4 séculos e sua profunda resistência, como mostra o historiador Clóvis Moura (1927-2003) em toda sua extensa obra.
O movimento negro adotou o 20 de novembro como resposta ao 13 de maio, porque a Abolição foi assinada sem reconhecer os direitos das trabalhadoras e trabalhadores escravizados, colocando essa imensa parcela da população brasileira à margem do trabalho, da sociedade e da vida. Deixando-os sem terra, sem nada.
Por isso, 132 anos após à “Proclamação da República”, estamos mais uma vez na resistência à opressão e às ameaças do fascismo, na luta por direitos, por liberdade, justiça e vida digna. A luta antirracista , por equidade de gênero e por direitos iguais pauta a conduta dos movimentos sociais e do sindical para manter viva a chama da luta de classes para a construção de uma sociedade sem preconceitos, sem discriminação, com respeito à dignidade humana.
Professora Francisca é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.