O câncer de mama é o segundo tipo mais frequente de câncer em mulheres ‒ e o que mais mata. Em 2019, foram mais de 18 mil mortes causadas pela doença apenas no Brasil, de acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer. O Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima que, apenas em 2021, 66 mil mulheres serão diagnosticadas com câncer de mama no país.
Para diminuir esses números é imprescindível que as mulheres tenham acesso a políticas públicas de saúde que possibilitem a prevenção e o diagnóstico precoce e também a informações sobre o câncer. Para falar deste assunto, a CTB Minas entrevistou a médica Renata Santos Neiva, formada em medicina pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), especialista em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital Felício Rocho e pós-graduada em Sexologia Clínica pelo IBCMED São Paulo.
CTB Minas: Quais são as causas do câncer de mama?
Dr.ª Renata Santos Neiva: O câncer de mama não tem uma causa única. Vários fatores podem estar relacionados como idade, fator endócrino, história reprodutiva, fatores comportamentais, ambientais e genéticos. Sabemos hoje que quanto maior for o tempo de estímulo do hormônio estrogênio, maior é o risco de desenvolver o câncer. Com isso, a menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa tardia aumentariam o tempo de exposição ao hormônio, assim como não engravidar e não amamentar. Outras causas seriam sobrepeso, obesidade, falta de atividade física, consumo de bebida alcoólica, exposição à radiação, entre outros.
CTB Minas: Fazer o autoexame é suficiente para detectar o câncer? A quais sintomas as mulheres devem estar atentas?
Dr.ª Renata: O autoexame é fundamental para que a mulher conheça sua mama, o que facilita a percepção de qualquer alteração na mesma. As alterações podem ser palpação de nódulos, retrações da pele e mamilos, alteração na cor, saída de secreções nos mamilos, alterações nas axilas entre outras. Mas a realização do exame de mamografia permite a visualização de lesões menores, no estágio inicial, que ainda não seriam palpáveis. O diagnóstico precoce é fundamental para o bom prognóstico da doença, já que as chances de cura podem chegar aos 95% quando o câncer é detectado no início.
CTB Minas: Existem formas de prevenção?
Dr.ª Renata: Para a prevenção o ideal é adotar hábitos de vida saudáveis, atividade física regular, alimentação saudável, controlar o peso, evitar bebida alcoólica, não fazer uso de hormônios sem acompanhamento médico, fazer o autoexame e consultas de rotina para realização de mamografia e outros exames necessários. Se existem casos de câncer de mama e ovários em pessoas da família (principalmente parentes mais próximos), pode ser necessário o estudo genético para detectar possíveis mutações em alguns genes.
CTB Minas: Qual é a importância da campanha Outubro Rosa para a diminuição de casos?
Dr.ª Renata: O Outubro Rosa é uma campanha de conscientização que tem como objetivo principal alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do Câncer de mama. O que eu percebo no consultório é que muitas mulheres adiam os cuidados com a própria saúde por causa do trabalho, rotina, cuidados com a casa e filhos. Quando a campanha inicia, essas mulheres despertam para a necessidade de fazer seus exames anuais. Uma vez no consultório, é possível não só a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama e outras doenças, como também a prevenção do câncer de colo uterino (exame preventivo).
CTB Minas: A pandemia trouxe prejuízos em relação à prevenção ao câncer. O número de exames realizados em 2020 foi mais de 30% menor em relação a 2019. Foi realmente só a pandemia ou tivemos outros fatores (teto de gastos, por exemplo) que colaboraram para a retração dos números?
Dr.ª Renata: Acredito que tudo isso contribuiu para a diminuição dos exames. As pessoas não saiam de casa para procurar o médico a menos que estivessem com queixas que não pudessem esperar. A maioria não pensou em fazer os exames preventivos já que não eram “prioridade”. Além disso, o maior investimento feito na saúde em 2020 foi em relação à Covid-19. Creio que o cenário vai mudar com a vacinação e a volta às atividades usuais, além de campanhas como o Outubro Rosa.