O 5º Congresso Nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) elegeu, pela primeira vez, uma direção executiva paritária, com 36 mulheres e 37 homens. Entre essas dirigentes, está Celina Alves Padilha Arêas, que foi reeleita secretária da Mulher Trabalhadora.
Professora da rede privada de Minas Gerais, Celina integra também a direção do Sinpro-MG (Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais) e foi diretora, por várias gestões, da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino). Nesta entrevista ao Portal CTB, ela fala sobre os desafios para as trabalhadoras e sindicalistas mulheres, tanto na CTB quanto no conjunto do movimento sindical.
Um desses desafios é vencer a desigualdade de gênero: “A desigualdade também existe no movimento sindical. Com raríssimas exceções, o sindicalismo é muito machista”, afirma Celina
Ao responder à entrevista, a secretária fez questão de deixar uma citação da escritora Clarice Lispector (1920-1977), uma das mulheres de maior destaque na literatura nacional: “Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada”.
Confira a entrevista.
Portal CTB: A CTB foi a primeira central a fazer uma deferência, no próprio nome, às mulheres, ao se anunciar como uma “central dos trabalhadores e trabalhadoras”. A história da CTB tem feito justiça a essa preocupação?
Celina Arêas: A CTB foi fundada como uma central classista, para lutar em defesa da classe trabalhadora e de sua emancipação. Em vários artigos do estatuto e resoluções, a CTB reforça essa ideia da luta em defesa da classe trabalhadora com corte de gênero e raça. Mas, depois de quase 14 anos de fundação, só no 5º congresso é que nós, mulheres, avançamos no rumo da paridade qualificada. Somos hoje, na direção executiva da CTB, mais de 49% – felizmente saímos dos 30%. Aprovamos também uma resolução para que, no próximo congresso, conquistemos a paridade qualificada.
Portal CTB: Quais são as principais desigualdades que existem no mercado de trabalho entre homens e mulheres? Em sua opinião, essas discrepâncias vêm sendo reduzidas ou ampliadas?
Celina: Vivemos hoje no Brasil uma profunda crise na economia, na política, na saúde, nos costumes, no mundo do trabalho, na representação política. A pobreza, a carestia, a insegurança trazem muitas dificuldades para nós, mulheres. Já dizia a pensadora francesa Simone Beauvoir (1908- 1986): “Em qualquer crise econômica, política ou religiosa, os direitos das mulheres são os primeiros a serem retirados.”
Conforme dados do Ipea, o percentual de mulheres no mundo do trabalho baixou a 45,8% no primeiro trimestre de 2020 – o mais baixo da série história, iniciada em 1990. Com certeza, esse percentual diminuiu, pois nós, mulheres, enfrentamos barreiras para engajar no movimento. Há entraves no ambiente de trabalho, na família e também no meio sindical. Conquistamos vários direitos na Constituição de 1988. Infelizmente, vários desses direitos não são colocados em prática pelas empresas, como a garantia de creches e salário igual para trabalho igual, entre homens e mulheres. Há preterição na ocupação de cargos e vários tipos de assédio, como o moral e o sexual.
Portal CTB: E no movimento sindical? A participação das mulheres – sobretudo em cargos de direção – tem sido mais valorizada e respeitada?
Celina: Não. A desigualdade também existe no movimento sindical. Com raríssimas exceções, o sindicalismo é muito machista. Exemplo disso é que não temos nenhuma mulher presidenta de central sindical, apesar de algumas centrais existirem há mais de 30 anos.
Portal CB: Quais os desafios da Secretaria da Mulher Trabalhadora para este novo mandato (2021-2025)?
Celina: Os nossos desafios são muito. O primeiro deles é engrossar o movimento Fora Bolsonaro e lutar por um projeto de um Brasil, democrático, soberano, em defesa da vida e do emprego. Precisamos de diretrizes para uma plataforma mínima de governo, com o objetivo de sair dessa crise e preservar todos os direitos conquistados com muita luta. No 5º Congresso da CTB, incorporamos resoluções aprovadas no 6º Encontro da Mulher Trabalhadora, além de um plano de trabalho com as CTBs estaduais. Podemos destacar, entre outros pontos:
- Lutar pela implantação dos princípios fundamentais da CTB;
- Atuar nas atividades pela democracia, pela soberania, pela vida e pela emancipação da classe trabalhadora, com corte de gênero e raça;
- Lutar pela reedição digital da revista Mulher de Classe, com periodicidade semestral;
- Atuar conjuntamente com as secretárias da Mulher Trabalhadora das CTBs estaduais;
- Realizar encontros regionais, estaduais e nacional da Mulher Trabalhadora;
- Propor cursos de formação para as mulheres em conjunto com a Secretaria de Formação;
- Fortalecer e/ou criar o Fórum Estadual de Mulheres Trabalhadoras das Centrais Sindicais;
- Atuar junto aos Movimentos de Mulheres como UBM /CMB e movimentos contra qualquer tipo de discriminação de gênero e raça.
- Atuar e fortalecer o Fórum Nacional das Mulheres Trabalhadoras das Centrais Sindicais.