Por Marcos Aurélio Ruy
Na pós hecatombe verborrágica do ainda presidente Jair Bolsonaro, o dia 8 de setembro marca, desta vez de maneira positiva, os 50 anos de uma das canções mais executadas no planeta, o eterno hino da paz e da luta dos menos favorecidos por vida digna, Imagine, de John Lennon (1940-1980) e sua companheira de vida, Yoko Ono.
Imagine é muito mais do que um potente protesto contra a Guerra do Vietnã (1959-1975). Embora isso já bastasse para eternizar seus versos cantados. Transformou-se, contudo, num grito pela paz, pelos direitos humanos, pelo respeito à vida e à dignidade de todas as pessoas.
O mundo celebra a efeméride como uma importante vitória do talento de Lennon e Yoko sobre toda as atrocidades cometidas nas guerras imperialistas. Sobre todos os tipos de guerras. As guerras que promovem a fome, a miséria e a doença, tanto quanto as guerras explícitas com invasões armadas. Como disse Gabriel García Márquez (1927-2014) “toda guerra é burra”.
Após o fim dos Beatles, em 1970, Lennon, vivendo com Yoko, continuou a esbanjar talento, sempre emprestando sua voz para os que não têm como e onde expressar seus anseios, desejos e necessidades.
Imagine (1971), de John Lennon e Yoko Ono
Nesta canção atualíssima, os autores imaginam “todas as pessoas vivendo para o presente”. Assim não teriam tempo para pensar em acumulação de riquezas, não desejariam surrupiar as pessoas que só possuem a força de trabalho para sobreviver. Certamente o mundo seria outro. Mas a imaginação não cessa e o pensamento voa sempre. E que esse voo seja para a transformação do mundo em um lugar bom para se viver.
A força dessa canção, que não é estranha, é tamanha, tanto que para lembrar a efeméride, trechos de sua poesia foram projetados em diversos edifícios no mundo inteiro, como a Catedral de São Paulo, em Londres, Reino Unido, e a Praça Times Square, em Nova York, Estados Unidos.
Yoko distribuiu um comunicado dizendo que “John teria amado isto. Imagine incorpora o que acreditávamos juntos na época”. E “ainda estamos juntos agora, e ainda acreditamos nisso. O sentimento é tão importante agora quanto era quando foi escrito e lançado 50 anos atrás”.
Inclusive será lançado nesta sexta-feira (10), um disco duplo em vinil branco, com edição limitada. Negócios à parte, a legião de fãs do ex-Beatle, assassinado em 8 de dezembro de 1980, com apenas 40 anos e depois de cinco anos afastado das gravações, agradecem.
Mas não se pode parar de imaginar. Então, vamos com Lennon e Yoko imaginar “todas as pessoas vivendo a vida em paz”. Ninguém propagando a posse de fuzis em vez de comida. Ninguém invadindo países por causa de petróleo ou água. Ninguém desrespeitando os direitos trabalhistas. Ninguém controlando a vida de ninguém e todas as pessoas juntas construindo o mundo que se pode ter para todo mundo.
Portanto, “imagine que não existem posses. Sem necessidade de ganância ou fome. Imagine todas as pessoas compartilhando o mundo inteiro”, como eles cantaram e com seu canto encantam a todas as pessoas que sonham e que amam.
Mas é necessário ir além da imaginação como fez John Lennon, que dedicou a sua vida à arte, à luta pela paz, mas não a paz dos cemitérios, a paz dos corações e mentes livres, a paz que preserva a vida, os sentimentos e a natureza.
Cinquenta anos se passaram e Imagine ainda toca todo mundo que tem a certeza de um futuro onde não haja mais tempo a perder com coisas pequenas.
Imagine é a prova cabal de que o sonho só acaba quando acaba a vida. Então melhor é sonhar junto com quem deseja construir um mundo onde todos tenham trabalho, teto, comida, diversão, arte e saída para qualquer parte.
A percepção rara de John Lennon faz muita falta nestes tempos dominados pelo ódio ao diferente e aos direitos da pessoa humana. Lennon foi dessas pessoas imprescindíveis para a humanidade.