No mês dos cachorros loucos, o estado de São Paulo vive dias de insanidade. A primeira vítima do governo João Doria em agosto foi o combate à pandemia de Covid-19. Após uma longa e perversa insistência na volta às aulas presenciais, o governador reabriu as escolas de modo irresponsável.
A comunidade científica não apoiou a medida, nem tampouco as entidades representativas de estudantes, professores e demais trabalhadores da Educação. A razão é simples: a maioria dos colégios estaduais não foi devidamente adaptada aos protocolos sanitários para impedir. Não que tenha faltado tempo para o governo tomar providências – lá se vão 17 meses de pandemia no estado.
Na realidade, as escolas foram uma espécie de “balão de ensaio” para uma abertura mais ampla, irrestrita e insegura da economia. Não por acaso, Doria esvaziou o Centro de Contingência do Coronavírus, formado por especialistas para – em tese – subsidiar as decisões do governo durante a crise sanitária. Neste mês, o número de membros desse comitê passou de 21 para nove.
Ex-membros do Centro de Contingência acusam Doria de ceder aos interesses econômicos e ignorar sistematicamente a opinião das autoridades sanitárias. “Nós estávamos, de certa maneira, incomodando o governador”, ironizou o infectologista Marcos Boulos, que integrava o grupo.
Apesar do avanço no estado da variante delta – que representa 25% dos novos casos na Grade São Paulo –, Doria também decretou, na terça-feira (17), o fim da quarentena. Agora, estabelecimentos comerciais podem funcionar em qualquer horário e com capacidade máxima. A Sociedade Paulista de Infectologia manifestou “extrema preocupação”, pois o risco de mais uma onda da pandemia no estado é real.
Serviços e funcionários públicos, cruelmente prejudicados durante todo o estado de calamidade, continuam sob ameaça do governo do PSDB. Além de expor permanentemente os trabalhadores de serviços essenciais ao risco de contágio – e de ter demorado meses para incluir parte deles entre as prioridades da campanha de vacinação anti-Covid –, Doria lançou uma ofensiva contra servidores estaduais.
Não bastasse sua cruzada na Educação, Doria tenta precarizar cada vez mais o trabalho em setores como Transporte Público, Saúde e Saneamento Básico. Nas campanhas salariais, o governo insiste em retrocessos – congelamento de salários (apesar da inflação), redução de benefícios e corte de direitos. A perseguição aos trabalhadores do Metrô foi ainda mais grave, já que Doria, numa retaliação à resistência da categoria, leiloou a sede do Sindicato dos Metroviários.
A última notícia vinda do Palácio dos Bandeirantes indica que privatizar a Sabesp, a toque de caixa, se tornou a nova prioridade do governador – com direito à absurda nomeação de um deputado do Rio de Janeiro, Rodrigo Maia, para secretário estadual em São Paulo. Desde a década de 1990, vender a maior e mais bem-sucedida empresa de saneamento do Brasil é uma obsessão dos governos do PSDB.
“Uma coisa simbólica é organizar a privatização ou concessão (da Sabesp) até o final da minha gestão. Será uma marca importante”, declarou Maia, nesta sexta-feira (20), ao tomar posse na Secretaria de Projetos e Ações Estratégicas. “Até o final da gestão” significa até abril de 2022 – mês em que Maia terá de se desincompatibilizar do cargo para se recandidatar à Câmara.
Portanto, o governo Doria quer usar um período de menos de oito meses para tentar acelerar a venda da Sabesp, numa ação contrária ao interesse público e nociva aos trabalhadores da empresa. Ao que tudo indica, para pular etapas, o “rolo compressor” será novamente a diretriz desse governo que, em dois anos e meio, jamais se pautou pelo diálogo e pela transparência.
De imediato, o Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo) afirmou que João Doria e Rodrigo Maia não terão vida fácil. “Vamos nos preparar porque a luta em defesa da nossa Sabesp como patrimônio público e de seus excelentes trabalhadores vai continuar árdua!”, afirmou, em nota, a entidade.
Seja no Brasil, seja em São Paulo, está na ordem do dia a defesa da vida, da democracia, dos serviços públicos e dos trabalhadores. É tempo de virar o jogo, resistir, acumular forças e derrotar em definitivo todos os representantes do projeto neoliberal e antipovo – de Jair Bolsonaro a João Doria.
- Anderson Guahy é secretário de Imprensa e Comunicação da CTB