Adilson Araújo: Parabéns ao Partido Comunista da China

Por Adilson Araújo, presidente da CTB

Na última quinta-feira (1º de julho) o Partido Comunista da China completou 100 anos. Razões não faltam para comemorações, que de fato são fartas na China e no exterior. Fundado em 1921, o PCCh descreveu ao longo de sua história uma trajetória heroica, complexa e plena de êxitos.

Após a vitória da revolução liderada pelos comunistas em 1949, pavimentada pela Grande Marcha, Mao Tse Tung, seu principal comandante, afirmou que a China se erguera para nunca mais se curvar ou ser humilhada por potências imperialistas. A vida vem confirmando sua profecia.

Neocolonialismo

A revolução sepultou mais de 100 anos de infame espoliação imperialista a que a milenar nação asiática foi submetida por um consórcio de potências capitalistas após as guerras do ópio no século 19. A Inglaterra usou sua superioridade militar para impor aos chineses a “liberdade de comércio” do entorpecente e as normas pretensamente “civilizadas” do neocolonialismo.

O Partido Comunista, vanguarda da classe trabalhadora urbana e rural, inaugurou uma nova era para os chineses e para o mundo. Refletindo os ideais da gloriosa Revolução Russa de 1917, os líderes da nova China perseguiram objetivos ousados e tarefas árduas orientadas no sentido de reconstruir a nação e garantir o desenvolvimento soberano do país imprimindo-lhe um rumo socialista.

No alvorecer do século 21 o sucesso da empreitada comunista já estava sacramentado. Durante décadas a China cresceu ao ritmo de 10% ao ano de forma ininterrupta, sem amargar as crises cíclicas que acompanham inapelavelmente os ciclos de produção e reprodução capitalistas.

Caminho inexplorado

Não foi uma história em linha reta. Cometeram-se erros e exageros no processo. Era inevitável, uma vez que a revolução percorreu um caminho histórico novo, adentrando terra virgem, ainda inexplorada e repleta de contradições e desafios, em que cada novo passo tem de ser inaugurado pioneiramente.

A China era um país semi-feudal, ainda mais atrasada do que a Rússia e com um capitalismo incipiente, uma burguesia frágil e um proletariado escasso. Em tais condições a construção de uma sociedade socialista torna-se muito mais difícil do que imaginaram Marx e Engels, os fundadores do socialismo científico.

A completa socialização da produção chegou a ser ensaiada mas revelou-se um contrassenso, como já se podia deduzir da experiência do comunismo de guerra na Rússia, que foi substituída, em 1921, pela Nova Política Econômica (NEP) de Lênin, fundada em concessões ao capitalismo.

As reformas econômicas introduzidas no final dos anos 1970 pelo Partido Comunista da China, sob a liderança de Deng Xioping, tiveram sentido e propósitos semelhantes. O objetivo central proposto, em sintonia com as ideias de Karl Marx, foi o desenvolvimento impetuoso das forças produtivas.

Os comunistas chineses gostam de reiterar que a verdade está nos fatos, traduzindo nesta máxima a filosofia marxista que enxerga na prática, e não no pensamento ou na teoria, o único critério da verdade. Hoje já não restam muitas dúvidas sobre a justeza e o sucesso do rumo imprimido por Deng.

Etapa primária do socialismo

A sociedade chinesa não é isenta de contradições e problemas. O ideal comunista ainda está muito distante da realidade e os chineses, fieis à tradição marxista e leninista, sabiamente definem o seu sistema social como uma etapa ainda primária do socialismo. Nele, as relações de produção capitalistas ainda possuem inegável relevância e espaço. O mercado e a lei do valor desempenham grande papel. Mas, para desespero dos neoliberais, o Estado socialista é onipresente na economia e tem sempre a palavra final.

Qualquer que seja o julgamento subjetivo que se faça sobre o regime político e econômico do país, os fatos indicam claramente a superioridade do socialismo chinês sobre o capitalismo que prevalece nos Estados Unidos, na Europa, no Brasil, e ainda é o sistema hegemônico no mundo, embora mergulhado em crises aparentemente insanáveis.

A China é hoje a maior economia do mundo, tendo superado os Estados Unidos e o chamado Ocidente em várias frentes estratégicas. Possui o maior PIB do mundo sob o critério de paridade de poder de compra. Lidera a produção industrial, as exportações internacionais e a corrente comercial (valor somado das exportações e importações); é dona dos três maiores bancos do globo (todos estatais); está à frente do desenvolvimento do 5G; tornou-se grande investidora internacional e protagonista no bilionário mercado de fusões e aquisições.

A ascensão da China contrasta vigorosamente com o irreversível declínio dos Estados Unidos e do chamado Ocidente. Mostra que o capitalismo não é eterno, como assinalou Karl Marx, e abre o caminho para uma nova ordem internacional, provavelmente uma ordem pós capitalista e pós imperialista, alicerçada num autêntico multilateralismo e orientada para a solução pacífica dos conflitos entre nações.

É este o desejo manifesto dos comunistas chineses e do que entendemos por humanidade, mas a reação belicosa dos EUA sugere que a caminhada não será fácil nem pacífica. O duelo entre China e EUA recoloca, em novas condições, o dilema entre capitalismo e socialismo que dominou boa parte do século passado e ressurge das cinzas da derrota soviética com uma nova coloração e perspectiva.

Parabéns e longa vida ao Partido Comunista da China, que nunca renegou os símbolos e a ideologia comunista e agora, sob a firme direção de Xi Jiping, renova as esperanças e a luta pelo socialismo e descortina um novo horizonte ou, mais precisamente, uma nova ordem global que diz respeito não só aos chineses mas a toda humanidade.