Tem jabuti na árvore da CPI da covid?

Propina de U$ 1 por dose renderia R$ 2 bilhões, mas depoimento de policial militar na CPI da covid desperta desconfiança e dúvidas

Na medida em que avançam, as investigações da CPI da covid vão revelando a existência de um exuberante esquema de corrupção no Ministério da Saúde do governo Bolsonaro subjacente à criminosa política para a covid-19.

O presidente até agora não ousou desmentir as explosivas informações dos irmãos Miranda.

Agora as manchetes refletem as denúncias do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que diz ser representante no Brasil de uma empresa privada que atuaria na intermediação de contratos de vacinas – a Davati Medical Supply.

Ele já havia revelado aos meios de comunicação que foi pressionado por membros do Ministério da Saúde para majorar o preço da vacina astrazeneca, que teria oferecido ao valor de US$ 3,50. Foi-lhe sugerido acrescentar uma propina de US$ 1 real por dose, que seriam desviados para o esquema de corrupção.

Propina de R$ 2 bilhões

A proposta teria sido explicitada pelo diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. O militar também envolveu um outro no escândalo, o tenente-coronel Marcelo Blanco, assessor do Departamento de Logística.

No depoimento que concede nesta quinta-feira (1) à CPI da covid, o policial militar reafirmou a denúncia e acrescentou que teria ofertado 400 milhões de doses. Se o negócio fosse consumado a propina renderia US$ 400 milhões, o que equivale ao câmbio desta quinta (1) a mais de R$ 2 bilhões. O governo determinou a demissão do diretor de logística.

Suspeição

Todavia, o depoimento do militar (que apoiou Jair Bolsonaro) despertou suspeitas e desconfianças nos senadores. Alguns senadores acreditam que ele, uma pessoa sem as qualificações necessárias para lidar com importação de medicamentos, seja um agente infiltrado pelo governo e tenha plantado uma versão falsa da realidade para desviar o foco das investigações.

Sem que lhe fosse indagado ou pedido, Paulo Dominguetti divulgou durante seu depoimento um áudio aparentemente editado em que o deputado federal Luiz Ricardo Miranda aparece falando sobre importação.

Na interpretação do policial, que teve seu celular apreendido pela comissão, Miranda estaria intermediando a venda de vacinas. Através do áudio não é possível chegar a nenhuma conclusão, mas fica claro que se procura atribuir ao parlamentar e seu irmão ligações obscuras com intermediação de vendas de vacinas para o Ministério da Saúde.

Por outro lado, a AstraZeneca informou que não tem intermediários no Brasil, o que torna a narrativa do militar ainda mais inverossímil. Em nota encaminhada à TV Globo, a farmacêutica afirmou que todas as doses de vacina do laboratório estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais, como o consórcio internacional Covax Facility.

Rede de mentiras

A intenção de desacreditar os irmãos Miranda ficou evidente e isto certamente serve aos interesses de Jair Bolsonaro, além de desviar o foco das investigações. Colocaram um jabuti sobre a árvore da CPI, conforme notou seu presidente, o senador Osmar Aziz.

Como se sabe, Jabuti não sobe em árvore, se por acaso alguém encontrar o bicho em cima de alguma árvore é porque alguém o colocou lá.

O depoimento de Dominguetti não alivia as coisas para o presidente, que foi pego com a mão na botija, prevaricando. Bolsonaro não tem como responder à denúncia dos irmãos Miranda e se enrola acovardado numa teia de mentiras, diversionismo e empulhações.

No sábado teremos pelas ruas e avenidas do país mais uma demonstração do sentimento do povo brasileiro diante de tudo isto. A corrupção na venda de vacinas integra a política sanitária genocida de Bolsonaro, principal responsável pelas 518 mil mortos por covid registrados até a manhã desta quinta-feira (1).

É igualmente imprescindível debitar na conta do governo neofascista a taxa recorde de desemprego, os 33,3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras subutilizados, a carestia, o arrocho salarial, a vergonhosa submissão da política externa aos EUA, a entrega do patrimônio nacional, a destruição do meio ambiente, os ataques reiterados à Constituição e à democracia. Parece inesgotável a lista de males e crimes cometidos diuturnamente pelo presidente da República.