Por Altamiro Borges
Siga o dinheiro – e não apenas os milhões desperdiçados em cloroquina. A investigação pode derrubar Jair Bolsonaro – o que talvez ajude a explicar seus ataques histéricos recentes. O Estadão estampa na manchete de terça-feira (22): “Governo comprou vacina indiana por preço 1.000% mais alto” do que o estimado pelo próprio fabricante.
Segundo a reportagem, “telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado, ao qual o Estadão teve acesso, informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose)”. Mas o Ministério da Saúde pagou US$ 15 pela unidade da Covaxin – a mais cara das seis vacinas compradas até agora pelo laranjal bolsonariano.
“A ordem para a aquisição da vacina partiu pessoalmente do presidente Jair Bolsonaro. A negociação durou cerca de três meses, prazo bem mais curto que o de outros acordos. No caso da Pfizer, foram quase onze meses, período no qual o preço oferecido não se alterou (US$ 10 por dose). Mesmo mais barato que a vacina indiana, o custo do produto da farmacêutica americana foi usado como argumento pelo governo para atrasar a contratação, só fechada em março deste ano”.
Siga o dinheiro!
Ao seguir o dinheiro, logo aparece uma suspeita sobre o sinistro negócio. A compra da Covaxin foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A empresa está metida em vários rolos e tem como padrinho o atual líder do governo na Câmara Federal, o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), cacique do Centrão.
Como detalha o Estadão, “diferentemente dos demais imunizantes, negociados diretamente com seus fabricantes (no País ou no exterior), a compra da Covaxin pelo Brasil foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A empresa virou alvo da CPI da Covid, que na semana passada autorizou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de um de seus sócios, Francisco Maximiano”. O depoimento do empresário já está marcado.
“Os senadores querem entender o motivo de o contrato para a compra da Covaxin ter sido intermediado pela Precisa, que em agosto foi alvo do Ministério Público do Distrito Federal sob acusação de fraude na venda de testes rápidos para Covid-19. Na ocasião, a cúpula da Secretaria de Saúde do governo do DF foi denunciada sob acusação de ter favorecido a empresa em um contrato de R$ 21 milhões”.
“A Precisa tem como sócia uma outra empresa já conhecida por irregularidades envolvendo o Ministério da Saúde – a Global Gestão em Saúde S. A. Ela é alvo de ação na Justiça Federal do DF por ter recebido R$ 20 milhões da pasta para fornecer remédios que nunca foram entregues. O negócio foi feito em 2017, quando o ministério era chefiado pelo atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), do Centrão”.