Keiko Fujimori fica em 2º, com 49,875%, numa acirrada disputa entre a direita e a esquerda
Pedro Castillo (à dir.), eleito presciente, é do partido socialista Peru Livre e defende papel mais ativo do Estado na economia, acenando com uma política alternativa ao neoliberalismo, enquanto sua rival, filha do ditador Fujimori (na prisão por corrupção) flertava com a extrema direita, propunha uma agenda reacionária para o país e prometia implantar uma democradura.
O professor e sindicalista Castillo, que se projetou nacionalmente ao liderar uma histórica greve da educação, obteve 50,125% dos votos na eleição realizada no dia 6 de junho e derrotou Keiko Fujimori, do partido de extrema-direita Força Popular. As informações são da Oficina Nacional de Processos Eleitorais do Peru.
A apuração só terminou nesta 3ª feira (15. A demora para o resultado ocorreu porque o país usa um sistema de votos em urnas impressas, diferentemente do Brasil, que utiliza um sistema de votação e apuração eletrônico. Castillo recebeu 8.835.579 votos, enquanto Fujimori obteve 8.791.521, uma diferença de apenas 44.058, que reflete a polarização política no país.
A disputa dividiu o Peru. Até as 10h18 da última 5ª feira (10), com 99% das urnas contabilizadas, Castillo tinha 50,204% dos votos válidos, segundo o ONPE (sigla em espanhol para Escritório Nacional de Processos Eleitorais). Keiko tinha 49,796%. A diferença entre eles era de 71.455 votos.
A apuração começou com Keiko na frente, mas depois Castillo a ultrapassou. Na noite de 2ª feira (7), a candidata disse ter detectado irregularidades no processo eleitoral. Mas observadores internacionais afirmaram que não houve qualquer tipo de problema no pleito.
Na 4ª feira (9), depois que a vitória de Castillo ficou ainda mais próxima, Keiko voltou a falar em fraude. Ela pediu à justiça eleitoral peruana que analisasse cerca de 500 mil votos por supostas irregularidades, segundo o jornal El País. O tribunal eleitoral peruano condenou e chamou de “irresponsáveis” as acusações de fraude sem provas.
Visões muito diferentes
De acordo com o ONPE, 18,2 milhões de peruanos foram às urnas no domingo (6). A disputa colocou em choque duas visões muito diferentes para o futuro do país.
Castillo é líder do partido Peru Livre, do socialismo peruano. Ele é professor e líder sindicalista. Keiko é filha do ex-ditador Alberto Fujimori e integra o partido de extrema-direita Força Popular.
Com uma margem tão apertada, o resultado demorou ainda mais para ser decretado. O novo presidente foi a grande surpresa da eleição. As pesquisas do 1º turno não colocavam Castillo como um dos favoritos, mas ele foi o mais votado e chegou ao 2º turno com a promessa de políticas marxistas e leninistas.
Ele é a favor de que o Estado tenha um papel mais ativo na economia. Entre suas propostas está dedicar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) ao agronegócios e devolver ao governo terras vendidas ilegalmente. Prometeu ainda melhorar o sistema de aposentadorias e falou em criar um sistema único de saúde.
Mas ele é conservador em pautas de direitos sexuais e reprodutivos e de liberdade individual. Castillo é contra a legalização do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da eutanásia.
Áreas rurais
Castillo teve como força o eleitorado das áreas rurais do Peru, enquanto sua rival teve maior apoio na capital, Lima. Ele vai enfrentar o desafio de reerguer um país dividido e em profunda crise, campeão em mortes por covid (proporcionalmente à população) e fustigado pela crise econômica. No ano passado o PIB peruano desabou 11,2%. Este é o pano de fundo da polarização entre esquerda e extrema direita no país andino.
Além de acenar com nacionalizações de setores estratégicos Castillo cogita a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte no Peru, a exemplo do que fez o Chile no rastro de gigantescas manifestações de rua.
Sua adversária tinha um plano econômico oposto. O programa de governo de Keiko defendia a manutenção do livre-mercado e medidas que aumentem o investimento externo no país. Em poucas palavras, trata-se do velho e fracassado receituário neoliberal, que em vez de solucionar em geral tem aprofundado as crises nos países em que tem sido imposto.
Conhecida por ser a filha do ex-ditador e pelos escândalos de corrupção, Keiko teve a sua prisão preventiva requisitada pela promotoria na reta final da eleição. Ela é acuasada de violar os termos da sua liberdade condicional. Ela foi presa em janeiro de 2020 sob acusação de ter recebido US$ 1,2 milhão de forma irregular da Odebrecht no Peru. Essa foi a 3ª vez que Keiko concorreu à Presidência do Peru.
A vitória de Castillo vai fortalecer e impulsionar a nova onda progressista que ganhou corpo na América Latina com as recentes vitórias da esquerda na Bolívia e no Chile. São reflexos dos novos ventos políticos que sopram na região, já estão chegando ao Brasil e serão melhor percebido nas manifetações contra o governo Bolsonaro convocadas pelas centrais sindicais e os movimentos sociais para o próximo sábado (19).
Com informações do Poder360
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