Na semana passada, o jornal O Globo divulgou uma lista elaborada pelo Google com os vídeos que mais lucraram com notícias falsas divulgadas durante a pandemia do novo coronavírus. Não causou surpresa que o canal do YouTube do jornalista Alexandre Garcia liderassem a lista dos que mais ganharam dinheiro com a difusão de fake news.
Segundo o jornal, o picareta bolsonarista – que já foi uma das estrelas da TV Globo e hoje tem uma coluna na CNN – lucrou quase R$ 70 mil com audiência e publicidade do conteúdo divulgado na plataforma. O Globo ainda revela que Alexandre Garcia teve 126 vídeos tirados do ar – pelo YouTube, por conteúdo impróprio, ou por ele próprio, temendo processos.
De acordo com o jornal, os dados sigilosos foram enviados pelo Google à CPI do Genocídio, e comprovaram que canais no YouTube ganharam dinheiro disseminando mentiras sobre a pandemia – antes que os vídeos fossem apagados. Ao todo, o Google forneceu dados sobre 385 vídeos de 34 canais identificados como disseminadores de notícias falsas no Brasil.
O bolsonarista que é dono da CNN
O vazamento do relatório serviu para abalar a imagem da CNN, que é de propriedade de um empresário declaradamente bolsonarista – Rubens Menin, dono também da construtora MRV, do Banco Inter e da Log Commercial Properties, entre outras empresas –, mas que tenta se apresentar como uma emissora neutra e apartidária.
Como destacou Aline Ramos, em matéria no site UOL no domingo (13), “negacionismo de Alexandre Garcia compromete credibilidade da CNN”. Para ela, as revelações do Google “se somam à série de situações que mostram como a presença de Alexandre Garcia como comentarista na CNN é um desserviço para a credibilidade do jornalismo do canal”.
“Não é apenas no YouTube que ele dissemina notícias falsas e inconsequentes. Na CNN, ele participa do quadro diário ‘Liberdade de Opinião’, que é parte do programa ‘Novo Dia’. Apenas no que diz respeito à pandemia, foram várias as ocasiões em que o jornalista utilizou seu espaço na emissora para propagar informações irresponsáveis sobre o combate ao vírus”.
Um desserviço no combate à Covid-19
A colunista cita vários exemplos, “como as constantes defesas do tratamento precoce e do uso de hidroxicloroquina… Em determinada ocasião, quando questionado pelo âncora Rafael Colombo sobre a ausência do reconhecimento da eficácia desse tipo de tratamento por parte da OMS, Garcia disse que o presidente Jair Bolsonaro ‘é a comprovação científica de que o uso da hidroxicloroquina dá certo’”.
Aline Ramos é incisiva na crítica ao difusor de fake news: “Ao manter Alexandre Garcia no ar, a CNN ajuda a espalhar discursos que são um desserviço para um assunto tão sério como o combate à Covid-19. Mais que isso, a emissora passa ela mesma a ser fonte de fake news, uma vez que o comentarista é funcionário da emissora e não um mero convidado”.
“As informações reveladas pela lista enviada pelo Google à CPI da Covid evidenciam ainda mais esse problema. No fim, tudo isso atrapalha a credibilidade do jornalismo feito pelo canal e prejudica os muitos profissionais competentes e comprometidos em fazer um trabalho sério e de qualidade na emissora. Uma pena. Todos perdem”.