Por Anderson Pereira*
Nesses tempos de pandemia, é cada vez mais urgente discutir o fim do monopólio dos laboratórios particulares na produção de vacinas. Atualmente, apenas “meia dúzia” de empresas produzem os imunizantes. Enquanto isso, o Covid-19 já matou quase 4 bilhões de pessoas em todo o mundo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) denunciou em abril que de todas as vacinas já vendidas, apenas 0,2% destinaram-se aos países pobres. Só a empresa norte-americana Pfizer espera faturar 26 bilhões de dólares (138 bilhões de reais) pela venda de sua vacina em todo o mundo.
Países como Índia e África do Sul, por exemplo, já disseram à Organização Mundial do Comércio (OMC) ser favoráveis à quebra das patentes relacionadas à Covid-19.
“O problema é que as companhias farmacêuticas não revelam a informação detalhada de como suas vacinas são feitas, e para poder fabricá-las nos países em desenvolvimento necessitamos que contem isso”, ressalta Alain Alsalhani, farmacêutico da ONG Médicos Sem Fronteiras.
“A manutenção de privilégios e a ganância por lucros bilionários são entraves para a quebra de patentes de insumos e vacinas contra a Covid-19”. É o que afirmam pesquisadores e especialistas que participaram de um encontro promovido em maio pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre o tema.
Contrariando a sua histórica posição a favor desse movimento de quebra de patentes, o Brasil, orientado pelo governo de Jair Bolsonaro, ficou contra essa proposta.
“A quebra de patentes é uma medida legítima, mas causa pavor porque mexe com privilégios”, afirma Pedro Villardi, que coordena o Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI) da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA).
“Quem é contrário, diz que é uma medida radical, mas radical são empresas se negarem a transferir tecnologia porque querem preservar seus mercados e lucros de bilhões e bilhões de dólares”.
A humanidade não pode aceitar que o lucro esteja acima da vida. É preciso enfrentar essa questão.
*Jornalista
Foto: André Penner/ap