Wajngarten é acusado por senadores de mentir na CPI da Covid; Renan ameaça prisão

Após chamar Pazuello de incompetente, ex-chefe da Secom negou críticas e desconversou sobre outros assuntos

O senador e relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), acusou Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação (Secom) no governo Bolsonaro, de mentir durante seu depoimento, nesta quinta-feira (23), e o ameaçou de prisão.

Wajngarten foi convocado à CPI por sua entrevista concedida à revista Veja, quando relatou a negociação com a Pfizer sobre a aquisição de vacinas por parte do governo federal. Na entrevista, ele também disse que a “incompetência” do Ministério da Saúde causou atraso na compra de vacinas contra a covid-19.

Entretanto, durante seu depoimento aos senadores, o ex-chefe de comunicação de Bolsonaro deu respostas consideradas evasivas e contraditórias pela comissão. Renan Calheiros e o presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), apontaram que vão pedir à Veja o áudio da entrevista de Wajngarten.

“O depoente disse desconhecer a existência (do gabinete paralelo). Mas é o contrário. Vossa senhoria é a prova da existência dessa consultoria. Vossa excelência é a primeira pessoa que incrimina o presidente da República, porque iniciou uma negociação em nome do Ministério da Saúde, como secretário de Comunicação e se dizendo em nome do presidente”, ameaçou Renan.

Em outro momento, Omar Aziz disse que poderia dispensar o ex-secretário Fabio Wajngarten de seu depoimento na comissão, em que está como testemunha, e então convocá-lo novamente na condição de investigado. “O senhor tá aqui por causa da entrevista à revista Veja. Se não, a gente nem lembraria que você existe. Por favor, não menospreze a nossa inteligência. Ninguém é imbecil aqui”, criticou o presidente da comissão.

Mentiras de Wajngarten
Wajngarten desconversou sobre assuntos ditos à Veja e foi acusado de mentir, quando negou que teceu críticas à gestão de Eduardo Pazuello. Apesar de ter chamado o ex-ministro de “incompetente”, ele afirmou à CPI que não sabe quem dificultou a gestão no Ministério da Saúde e, de forma abstrata, culpou a burocracia.

Depois, Wajngarten negou, aos senadores da CPI, que ele mesmo tenha participado de tratativas para compra de vacinas com a Pfizer. Entretanto, à Veja, ele disse: “Então, eu abri as portas do Palácio do Planalto. Convidei os diretores da empresa a vir a Brasília. Fizemos várias reuniões. Fui o primeiro a ver a caixa que armazenava as vacinas a menos 70 graus”.

Ele também foi questionado sobre a comunicação do governo federal durante a pandemia. Reportagem da Agência Pública mostra que cofres da gestão Bolsonaro, investidos pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Comunicação (Secom), destinaram R$ 85,9 mil ao cachê de 19 “famosos” contratados para divulgar estas campanhas em suas redes sociais.

Entretanto, em janeiro deste ano, a Secom, ainda sob o comando de Fabio Wajngarten, contratou quatro influenciadores, que receberam um montante de R$ 23 mil para falar sobre “atendimento precoce”. A verba saiu de um investimento total de R$ 19,9 milhões da campanha publicitária denominada ‘Cuidados Precoces COVID-19’. À CPI ele confirmou os valores pagos, mas negou que houve ações de marketing em defesa do tratamento precoce. “Nunca aconteceu na minha gestão”, disse.

CPI da Covid
Mais cedo, o ex-chefe da Secom afirmou à CPI da Covid que uma proposta apresentada pela farmacêutica Pfizer ao governo Bolsonaro em 12 de setembro de 2020 não foi sequer respondida até o início de novembro. Ele afirmou ter sido alertado dessa demora por um “dono de um veículo de comunicação”. A partir daí, ele próprio teria participado dessas negociações.

Hoje é o quinto dia de depoimentos da comissão parlamentar de inquérito, que apura ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia de covid-19 e eventual desvio de verbas federais enviadas a estados e municípios.

Até agora, já prestaram depoimento os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich; o atual ministro, Marcelo Queiroga; e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.

FONTE: RBA