Por Marcos Aurélio Ruy
No dia 17 de abril de 1996, mais de 2 mil trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra foram surpreendidos e cercados por 155 policiais de Paraupebas e de Marabá, dois municípios do Pará. Os camponeses, que marchavam para a capital Belém para reivindicar a desapropriação da fazenda improdutiva Macaxeira para fins de reforma agrária, não tiveram nem chance de se defender.
Choveu bombas de gás lacrimogêneo e tiros. Resultaram 19 sem terra mortos na hora, dois no hospital e muitos feridos. Apenas os comandantes da operação foram condenados à prisão. Os 153 soldados que executaram os trabalhadores com tiros na cabeça, entre outras barbaridades foram absolvidos. O governador na época, Almir Gabriel, do PSDB, nem julgado foi.
Leia também
25 anos do massacre de Eldorado do Carajás: o tempo passou, mas nem tanto
Por outro lado, as trabalhadoras e trabalhadores sem terra conseguiram a inclusão da fazenda na reforma agrária, criando o Assentamento 17 de abril. A data também ficou marcada como o Dia Internacional de Luta Pela Terra, em homenagem aos mortos no episódio que ficou conhecido como o Massacre de Eldorado do Carajás.
“Relembrar os 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás significa homenagear todos os camponeses na luta pela posse da terra por séculos neste país”, diz Cleber Rezende, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, seção Pará (CTB-PA).
Para ele, o Massacre de Eldorado do Carajás e muitos outros episódios no Pará, evidenciam “o uso do aparato repressivo do Estado em defesa do patrimônio dos latifundiários, em total desrespeito aos Direitos Humanos de quem vive do trabalho e precisa de terra para produzir alimentos saudáveis para os brasileiros”.
O Pará está entre os estados com maior número de conflitos agrários e assassinato de lideranças sindicais e populares que atuam na luta pela posse da terra. “A atuação desse governo genocida (Jair Bolsonaro) tem agravado as violações dos Direitos Humanos no estado”, argumenta Cleber.
Com isso, “crescem os ataques aos acampamentos e assentamentos dos sem terra, às comunidades quilombolas, aos povos indígenas e a todos que querem o uso social da terra e os direitos trabalhistas”, reforça.
Para piorar, a concentração de terras vem crescendo no Brasil, como mostra o Censo Agro 2017. Pelo censo, existem no país 5.072.152 estabelecimentos agropecuários, em uma área total de 350.253.329 hectares (ha). Sendo que os estabelecimentos com 1.000 ha ou mais passaram de 45% em 2006 para 47,5% em 2017 sobre a área total das terras no país, enquanto as propriedades de 100 a 1.000 ha caíram de 33,8% em 2006 para 32% em 2017, com diminuição de 4.152 unidades nesse período.
Leia também
Reforma agrária para acabar com a fome no Brasil
ONU denuncia o assassinato de Fernando, testemunha-chave da Chacina de Pau D’Arco
Cleber faz questão de homenagear “importantes ativistas pelos Direitos Humanos e pela posse ta terra no Pará” como o coordenador do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado, Ulisses Manaças, que faleceu em 14 de agosto de 2018. Também se lembrou do Frei Henri Burin de Rozieres, que morreu em 26 de novembro de 2017, já de volta à França. E o advogado e ativista Walmir Brelaz, que também é poeta e incansável defensor dos trabalhadores do Pará.
“Homenageando esses três ativistas, homenageamos todos os trabalhadores do campo do país, resistindo aos desmandos dos latifundiários e à inércia dos órgãos federais em favor de seus direitos e da reforma agrária”, acentua Cleber.
De acordo com o presidente da CTB-PA, “é fundamental destacar a resistência das trabalhadoras e trabalhadores do campo contra a violência como essa ocorrida 25 anos atrás em Eldorado do Carajás” e “nos juntarmos a eles contra os desmandos do latifúndio, que destrói a natureza e ceifa vidas”.
Por isso, “homenagear os trabalhadores assassinados no Massacre de Eldorado dos Carajá significa um ato de resistência e de perspectiva de um futuro onde a posse da terra esteja com quem vive dela e produz alimentos sem agrotóxicos”.